O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Fátima na zona ativa do cangaço


Todo fatimense que se interessa minimamente por história já ouviu de familiares e pessoas próximas, histórias de cangaceiros e do medo provocado por estes personagens icônicos atuando por essa região entre os anos vinte e trinta do século passado.
            Entretanto, o que poucas pessoas sabem é que tais histórias têm forte embasamento na literatura especializada, colocando a cidade de Fátima na zona de atividades intensas de grupos de cangaceiros.
            Conforme já relatado no texto “Lampião esteve em Fátima?”, que publiquei aqui no blog no último dia cinco de dezembro, não é uma tarefa fácil localizar a ação do próprio rei do cangaço aqui em decorrência principalmente da prática comum entre chefes de subgrupos de se apresentarem falsamente como o próprio Lampião.
            O fato de o capitão Virgulino Ferreira da Silva ter estado em Fátima ou não é irrelevante para o que busco tratar nesse texto, isto é, a presença ou ausência deste personagem não minora a intensa ação de grupos de cangaceiros nessa região, o que pode facilmente ser provado, como já dito, pela literatura especializada.          
            Só para ficar em alguns exemplos mais eloquentes, Oleone Coelho fontes, no livro “Lampião na Bahia” de 1988, narra diversos passagens do grupo de Lampião na área vizinha ao que hoje é a nossa cidade, como aparições muito bem documentadas em Pombal, em seis de janeiro de 1928, nas Vilas do Bom Conselho (atual Cícero Dantas) e Sítio do Quinto no mesmo ano, combates com mortes na zona rural de Bom Conselho, vilas de Massacará, Buracos e São João da Fortaleza, combate com mortes em Novo Amparo (atual Heliópolis) onde policiais foram mortos pela bando, extorsão do Coronel Nilo (Avô do atual deputado estadual Marcelo Nilo) em Antas, o ataque de Lampião ao arraial do Guloso (atual Novo Triunfo), assim como o fato de o cangaceiro Volta-Seca ter morado por alguns anos no Guloso, passagem por Patrocínio do Coité (atual Paripiranga) e em Queimadas (atual Adustina) só para ficar nas ações do bando principal.
            Quanto aos demais bandos, há registros da atuação na região dos bandos de Zé Sereno, Corisco e o mais atuante nessa área, o bando de Labareda que contava com dois cangaceiros nascidos em Paripiranga, Saracura e Vinte e cinco.
            Do lado oposto, o dos policiais que perseguiam cangaceiros, diversos desses homens também eram da região. Em Fátima, tivemos dois soldados combatentes da volante de Zé Rufino (o maior matador de cangaceiros de que se tem registro), Liberino Vicente, pai do ex-delegado da cidade, Liberato, e Antônio de Tito.
            Todos esses fatos no levam a concluir que a região de Fátima e adjacências fez parte daquilo o que alguns pesquisadores do cangaço denominam de “Corredor de cangaceiros”, uma área de intensa atuação destes bandos.

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