O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Semana Santa no Gruê em 1949.

Foto: Murilo Santos Menezes.

Há 72 anos, o Vigário de Cícero Dantas, Monsenhor José de Magalhães e Souza, registrava a programação da semana santa da paróquia. Entre as diversas capelas visitadas para os festejos, está a pequena igreja do povoado Gruê, atualmente parte do município de Fátima. Na oportunidade, escreveu o religioso:

 

Programação da semana santa de 1949 [...] dia 14 Gruê e Aldeia.

 

Esse relato só vem confirmar o que a população da região já dizia, que o cemitério da localidade Gruê, assim como a capela, são bastante antigos, tendo sido erguidos um pouco após a construção da igreja Matriz de Fátima que, ao que tudo indica, foi erguida em 1935.


quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Genealogia de Ângelo Lagoa.

 


Esse ainda é um projeto em construção, como o avançar dos trabalhos, mais membros serão adicionados. 

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Monsenhor José Magalhães entre cangaceiros.

 

Foto: Blog Lampião Aceso

            Como já abordado anteriormente aqui no Blog História de Fátima, o monsenhor José de Magalhães e Souza, pároco de Jeremoabo, é o responsável pelo registro mais antigo de uma missa aqui em Fátima.

            José Magalhães, nasceu em Portugal a 19 de Outubro de 1885, chegou à paróquia de N. S do Bom Conselho em 1930, para auxiliar o Padre Vicente Martins que se encontrava muito doente. Dividiu seu tempo entre as paróquias de Bom Conselho e Jeremoabo até 1933. O padre Vicente veio a falecer naquele mesmo ano (1933) e o Padre José Magalhães assume a paróquia até a chegada do Padre Renato Galvão.

            Nesse meio tempo, o Padre José Magalhães registra em seu livro de Tombo a primeira missa de que se tem notícia por essas terras. No dia 30 de outubro de 1935 o religioso registra a sua passagem pelo lugarejo que ele próprio batizou de Monte Alegre, nome que só mudaria com a chegada do Padre Renato Galvão.

            Esse registro é extremamente importante por marcar a passagem do então vigário de Jeremoabo por Fátima. Um religioso com diversos registros históricos pela região e que hoje empresta seu nome para uma escola e uma avenida na cidade de Jeremoabo.

            Monsenhor José Magalhães era Português e saiu de terras lusitanas para assumir a paróquia de São João Batista de Jeremoabo nos anos 1920 e teve papel de destaque nos movimentos finais do cangaço. Na foto acima, o padre aparece ao centro, homem alto e de pela clara em meios aos caboclos cangaceiros.

            De acordo com informações apuradas no Blog Lampião Aceso, a fotografia é de outubro de 1938, quando da entrega do bando cangaceiro Zé Sereno. A descrição da fotografia está na imagem abaixo, cedida pelo pesquisador Kiko Monteiro.


Foto: Acervo pessoal de Kiko Monteiro

   

 De acordo com os registros da Paróquia de Jeremoabo, dois anos antes da referida fotografia, em 18 de abril de 1936, o Monsenhor José Magalhães e Souza celebrou um casamento na igreja Matriz de Jeremoabo. A noiva era Joana Maria de Oliveira, irmã da famosa rainha do cangaço, Maria Bonita.

            Esse mesmo religioso celebrou diversas missões por aqui, quando ainda se chamava Feirinha do Mocó, nome que, como dito, foi mudado pelo mesmo padre em 1935.


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço.

 

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sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Praça Ângelo Lagoa está completando 100 anos.

Imagem wikipédia

 

No último dia 01 de dezembro de 2021, publiquei aqui no Blog os levantamentos atuais sobre a vida de Ângelo Lagoa, o fundador de Fátima. Na oportunidade o leitor ficou sabendo que a chegada de Ângelo José de Souza ao que antes costumava ser a fazenda boa vista, é datada dos anos 1920.

Esse evento marca a construção das primeiras casas na atual praça Ângelo Lagoa. A partir da residência que hoje pertence à Cidinho de Zelitão, foram sendo construídas outras casas de parentes e, logo em seguida, conhecidos foram adquirindo nacos de terra ao redor, formando um quadrado em volta de um centro vazia de chão batido, dentro do qual foi erguido o barracão que, já em 1935, abrigaria a feirinha.

Muitos moradores de Fátima ainda se referem à Praça Ângelo Lagoa como “Rua Velha”. Essa denominação provavelmente se deu a partir do desenvolvimento da atual Av. N. S de Fátima, que passou a ser chamada de “Rua Nova”.

Ao longo dos anos os eventos que ocorriam na cidade tinham a praça como palco. Circos, parques de diversão, as “Ondias” – Brinquedo de diversão primitivo, constituía-se de uma grande roda de ferro e madeira que girava em torno de uma base fixa, as primeiras “ondias” eram movidas pela força dos homens que nela trabalhavam, as mais modernas, já nos anos 1990, eram movidas por um motor elétrico - e conjuntos musicais se instalavam ali para deleite do público.

Em 1986, um palanque foi montado na Praça para celebrar a emancipação política. Já no primeiro mandato de João Maria a praça recebeu calçamento e o Jardim da independência, sua principal característica. O Jardim hoje tem ao centro o busto de João Maria, idealizador da obra e primeiro prefeito da cidade.

De acordo com o ex-prefeito Eduardo Pires, aliado de longa data de João, Maria, já naquele mandato inicial, o então prefeito foi à Brasília buscar recursos para a construção do jardim. A praça foi mudando ao longo dos anos, passando por diversas reformas até chegar a configuração atual.

Aquela primeira obra de estruturação da praça, deu a essa ares mais modernos. Além da construção do Jardim e da pavimentação do seu entorno, o prefeito mandou fazer uma calçada padronizada para todas as casas. Era uma estrutura única que contornava toda a extensão da praça à frente das casas ali existentes. Parte dessa calçada ainda pode ser observada.

Ainda em alusão à emancipação política, João Maria passou a chama-la de “Praça da Independência”, mas o nome não pegou e a praça ficou mesmo conhecida pelo nome do seu fundador, cujas primeiras casas estão em vias de completar 100 anos de existência.

A nossa cidade tem 36 anos de emancipação política, mas a história do nosso povo vai muito além desse fato. A Praça Ângelo Lagoa, hoje uma calma área residencial da cidade, se encontra mais bela do que nunca, com suas bonitas árvores e moradias que misturam o moderno e o antigo, a harmonia de uma jovem senhora de quase 100 anos.


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço.

 

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quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Quem foi Ângelo Lagoa?

 

Imagem ilustrativa.

            Seu nome de batismo era Ângelo José de Souza, de acordo com alguns descendentes (netos, Bisnetos, sobrinho netos e outros), era um homem branco de olhos claros, com traços europeus. É possível que fosse descendente direto de Holandeses. Há indícios ainda por serem melhor estudados acerca da presença holandesa nessa região.

            De acordo com a pesquisa genealógica, Ângelo Lagoa, como era conhecido, teria nascido em 1856, em Heliópolis. Sobre sua mãe, sabe-se apenas que tinha como primeiro nome Genoveva, um nome que, por sua vez, tem origem do francês e significa “branca e suave”.

            Por volta dos anos 1920, ele chegou a essa região. Adquiriu uma propriedade de nome “Fazenda Boa Vista”, cujas terras se estendiam da atual praça da igreja, descendo em direção à praça Ângelo Lagoa, na direção da estrada que hoje liga Fátima a Heliópolis. No registro de terras do município de Cícero Dantas de 1857 a 1859, há pelo menos 7 propriedades com o nome “Boa Vista”, sendo, portanto, impossível afirmar de quem o patriarca da cidade adquiriu a terra.

Casou-se com Porfiria que era da família dos Canoa (família antiga nessa região, cuja maioria se concentrava em fazendolas nas áreas das atuais localidades de Cantos e Surjoa.   O casal concebeu numerosa família. Entre seus filhos estão: Emília Maria (Mila), João Sobrinho, Francisco Virgílio (Chico de Ângelo), Antônio Virgílio (Totonho Virgílio, delegado em Fátima e Heliópolis), Daltro Virgílio e Antão.

            Ângelo José é considerado o fundador da cidade de Fátima, pois foi em torno da primeira casa que construiu aqui, na atual Praça Ângelo Lagoa, que foi se formando o pequeno povoamento que, anos depois, daria origem ao município atual. Sua moradia ficava ao sopé da Serra do Mocó, onde hoje estão as torres de telefonia da cidade. Ainda nos anos 1920, Ângelo foi à Cícero Dantas pedir ao Coronel Chiquinho Vieira (1872 – 1949) apoio para construir um pequeno barracão naquela praça a fim de realizar ali uma feira livre.

            Eram tempos difíceis, com estradas precárias, a seca e cangaceiros que perambulavam por essas matas. Essa foi a principal razão para a criação da feira que inicialmente ficou conhecida como “Feirinha do Mocó”, nome pelo qual, o povoamento inicial passou a ser chamado.  

            O ano do seu falecimento, provavelmente foi 1955, ele teria 94 anos. De acordo com relatos, a morte de Ângelo gerou grande comoção na pequena localidade, que à época já se chamava Monte Alverne. Seus netos e netas, hoje já idosos, relatam que o avô ficou dias acamado antes de falecer.

 

Esse texto foi produzido em coautoria com J. Kléber Menezes.


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço.

 

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sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Povoado Caxias contra o cangaço.

 


O relato que você terá acesso agora, faz parte dos estudos do livro Tombo da Paróquia do N. S do Bom Conselho, é mais um registro feito pelo Padre Renato Galvão em seus costumeiros estudos históricos sobre a paróquia que liderava. É uma explanação que compõem uma série documentada pelo vigário que visava levantar e preservar os dados históricos de todas as capelas da paróquia.

            A história se passa no povoado Caxias, à época, Duque de Caxias, no ano de 1938. De acordo com o levantamento do religioso, naquele ano, cansados das invasões e saques de cangaceiros, os moradores de Caxias (Os paisanas, no linguajar dos cangaceiros) se armaram para defender o vilarejo de um bando que agia nas redondezas.

Não é novidade na historiografia do cangaço esse tipo de ação da população civil. Aliar-se ao contingente de policiais disponível para defender uma vila foi prática significativa naqueles anos de cangaceirismo. Basta lembramos, por exemplo, do ataque à Mossoró- RN, onde a população se uniu à polícia militar em armas para defender a cidade e expulsar os cangaceiros. Esse evento, inclusive, marca a entrada de Lampião e seu bando na Bahia, em 1928.

A narrativa do embate em Caxias foi colhida pelo Padre Renato através da oralidade. Em 1954, apenas 12 anos após o ocorrido, o religioso entrevistou os participantes da peleja, colheu depoimentos e fez o registro no livro.

De acordo com o levantamento, em 1938, um grupo de homens liderado por um certo Boaventura Dias Lima, conhecido como Sr. Boa, aliou-se ao pequeno contingente de soldados destacados em Caxias para defender o lugarejo. Fizeram trincheira na Lagoa dos Sítios Novos e aparentemente entraram em combate com os bandidos.

Em 2018, eu entrevistei Sr. Faustino, na época com 105 anos, ele era natural de Caxias, mas vivia em Fátima há muitos anos. Na oportunidade, sem precisar o ano, Sr. Faustino me fez relatos de diversos episódios envolvendo bandos de cangaceiros em toda essa região.

Não há maiores detalhes na narração do Padre sobre esse episódio, nem é possível precisar qual foi o bando combatido em Caxias em 1938. Sabe-se, contudo, que esse foi o ano da Morte de Lampião na Grota do Angico em Poço Redondo – SE. Como não há uma data exata para o ocorrido em Caxias, fica difícil descartar ou afirmar que teria sido Lampião e o grupo principal, entretanto, é sabido que outros grupos agiam por essa região, sobretudo o grupo de Ângelo Roque.

Essa história só ilustra a intensa atividade de cangaceiros por toda essa nossa região. Após a morte de Lampião em 1938, o cangaço entra em declínio, Ângelo Roque se entregaria em Paripiranga 2 anos depois (1940) e Corisco seria morto em 1942, dando linhas finais ao capítulo “cangaço” na história do país.


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço.

 


quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Defloramento em Cícero Dantas – 1861 a 1921.


 


Você sabe o que significa DEFLORAMENTO? Esse termo foi criado pela justiça brasileira no código penal de 1830. Deflorar significa, literalmente, “tirar a flor”. Em outras palavras, tirar a virgindade de uma jovem entre 14 e 18 anos já foi considerado crime pela justiça brasileira.

Antes de mais nada, não estamos tratando aqui de estupro, que uma outra modalidade de crime devidamente registrado no código penal e que tem outras características distintas do defloramento. Este, por via de regra, ocorria consensualmente, entre jovens de idade similares, amantes mais afoitos para os padrões da época.

No código penal de 1890, o defloramento foi tipificado pelo artigo 267, como crime contra a honra e honestidade das famílias e ultraje ao poder público. Na letra da lei, lia-se: “Deflorar mulher de menor idade, empregando sedução, engano ou fraude”.

Em 1942 o defloramento foi substituído pelo crime de sedução e em 2016 o entendimento muda novamente, sendo o sexo, consensual ou não, com mulheres menores de 16 anos considerado estupro.

Analisando os processos crimes da comarca de Cícero Dantas, entre os anos de 1861 e 1921, houveram, ao menos, 15 registros de crimes de defloramento, muitos deles podem ter acontecidos com os meus ou seus antepassados. O termo popular para esse tipo de delito por aqui era outro, bem distinto e original. Dizia-se que fulano “buliu” com a filha de beltrano, ou ainda que tal rapaz “desgraçou” uma moça. Se você tem mais de 20 anos, certamente já ouviu essa expressão.

Mas voltando aos defloramentos registrados em Cícero Dantas, os casos aconteciam com certa frequência. Em média, uma vez a cada ano, um rapaz respondia perante à justiça por ter “bulido” com uma moça, as vezes um galanteador respondia por mais de um defloramento.

O ano de 1896, parece ter sido uma exceção para essa média estipulada. Naquele ano, quatro defloramentos foram registrados pelo poder judiciário da comarca. Se você levar em consideração que era esse um território muito pouco habitado, é possível presumir que o desejo dos jovens do final do XIX estava aflorado.

1896 é o ano do início da Guerra de Canudos. Vale lembrar que aquele conflito afetou de forma indireta ou direta toda essa região. Teria esse fato contribuído com o aumento substancial no número de defloramentos por aqui? Difícil dizer.

 

Casos de Defloramento registrado na comarca de Cícero Dantas – 1861 a 1921.

 

Ano

N° de casos

1861

1

1880

1

1886

1

1896

4

1901

1

1905

1

1906

1

1914

1

1915

2

1916

1

1921

1

 

 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço.


segunda-feira, 22 de novembro de 2021

O Povoado Ilha é mais velho que Fátima.


 

Recentemente eu iniciei os estudos dos registros da Igreja de Cícero Dantas, foi a mim disponibilizado 300 páginas de manuscritos em um português arcaico, muito difícil de interpretar. As dificuldades de leitura, contudo, são atenuadas pelas inúmeras e incríveis descobertas que brotam de tais registros.

Os livros Tombo, são os diários dos sacerdotes, neles são registradas todas as atividades paroquiais. Os temas são bastante diversos, de registros de falecimentos a construção e reforma de igrejas e capelas.

Em 1953, o Padre Renato Galvão resolve fazer um levantamento histórico das capelas da sua paróquia, entrevistando moradores e pesquisando em documentos antigos, reuniu informações sobre os templos religiosos. Sobre o povoado Ilha, escreve:

 

Em 1892 o povoado da ilha assistiu à sua primeira missa, em novembro. O celebrante foi o Monsenhor Vicente Martins [...] haviam apenas 5 casas.

 

Não sei o que mais surpreende, se o tempo de povoamento da Ilha ou o fato de a localidade não ter crescido ao longo desses anos e nem ter pleiteado a emancipação. Sabe-se que o povoamento da cidade de Cícero Dantas é datado do início do século XIX (a igreja da cidade foi erguida em 1812 pelo Frei Apolônio de Todi) e que, pela proximidade com a cede do município, é natural que aquela área tenha sido ocupada primeiro que Fátima.

Nessa época, o que hoje é Fátima era apenas um território ocupado por pequenas fazendas como a Maria Preta, a Lage da Boa vista e a fazenda Boa Vista. A ocupação da atual zona urbana do município só foi iniciada por volta dos anos 1920 com a chegada de Ângelo lagoa e a construção das primeiras casas ao pé da serra do mocó, onde hoje é a Praça Ângelo Lagoa.

Um registro de 1916, feito com o objetivo de descrever as características naturais e populacionais do município de Cícero Dantas já citava a Serra do Mocó como um dos acidentes geográficos da região. A Serra do Mocó é a região alta da cidade, onde atualmente estão instaladas as torres de telefonia do município.


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço.


quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Açude da Queimada Grande

 

Imagem JD Filmagens.

Há 71 anos, no dia 23 de janeiro de 1950, o Padre Renato Galvão benzia o açude da Queimada Grande.  Mesmo nos dias de hoje, a aguada representa importante reservatório de água para o município, mas sete décadas atras deve ter sido uma grande conquista para a comunidade local e para todo o município.

            A atual comunidade de Queimada Grande é originária de uma das fazendas do Barão de Jeremoabo. O Barão possuía ao menos outras duas fazendas com a denominação de Queimadas, entre elas, as terras que hoje compões o município vizinho de Adustina. Queimada Grande aparece entre os registros de terras de Bom Conselho em 1857 em nome de Maria de Santa Ana.

            O açude foi ali construído pelo DNOCS por iniciativa do Padre Renato que fez uso da sua amizade e influência junto ao Deputado João da Costa Pinto Dantas Júnior, Dr. Dantas, como o fatimense o conheceu. Ao longo da sua passagem por Cícero Dantas, o vigário fez diversos pedidos de construção de barragens que gerassem segurança hídrica para toda a região.

            No livro de Tombo da Igreja, página 24, o religioso anotou:

 

O vigário celebrou em Queimada Grande, onde benzeu o grande açude.

 

            O reservatório que outrora servia para matar a sede de seres humanos e animais de criação, hoje tem como principal função a irrigação de hortaliças em suas margens.

 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço. 


sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Veredito (quase) definitivo da construção da Igreja de Fátima.

 




No último dia 27 de outubro, publiquei aqui no Blog História de Fátima os últimos levantamento da pesquisa que visa desvendar em quais circunstâncias se deu a construção da primeira capela onde hoje se situa a igreja matriz de Fátima.

É sabido, partindo dos relatos do Monsenhor José Magalhães e Sousa, que a capela existe, pelo menos, desde 1933, ano em que o religioso, titular da paróquia de Jeremoabo registrou ter celebrado missa, quando Fátima ainda se chamava Montalegre.

Sabendo que o Monsenhor José Magalhães substituiu o padre Vicente Martins após o falecimento desse último, estou confortável em afirmar estar quase certo que a capela primordial foi erguida durante o paroquiar do Padre Vicente Martins. Explico:

Como já relatado aqui no Blog anteriormente, o padre Vicente assume a paróquia de Nossa Senhora do Bom Conselho ainda no final do século XIX, mais precisamente em 14 de junho de 1883. Por essa época, apenas algumas fazendas (como a fazenda Maria Preta) existiam por aqui, sendo o povoamento inicial da atual praça Ângelo Lagoa datado de princípios dos anos 1920. Dito isso, é possível estabelecer, de acordo com esse raciocínio, que a capela foi erguida nesse espaço de tempo (entre 1920 e 1935).

Infelizmente, a documentação que comprovaria essa tese, não se encontra na igreja de Cícero Dantas. Essa, se existir, está armazenada nos arquivos da paróquia de Senhor do Bomfim-BA, antiga diocese que respondia por essa região.

A existência dessa documentação é incerta, os Livros Tombo do paroquiar do Padre Vicente Martins (1883-1933) não são conhecidos. Em outras palavras, não há evidências de que o padre tenha realizado as devidas anotações do seu trabalho como pároco em Cícero Dantas e se o fez, o livro pode ter se perdido.

Isto posto, é preciso lembrar de algo demasiadamente importante na história da Igreja Matriz de São Francisco De Assis. Com o estabelecimento dessas datas aqui discutidas, é possível deduzir que a igreja de Fátima está prestes a completar 100 anos, uma data que, convenhamos, deveria ser celebrada pelos fiéis.

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço.

 

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quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Quem Construiu a Igreja de Fátima? (parte 3)

 

Foto, Lília Tavares.

Esse é o terceiro texto da saga da construção da igreja matriz de Fátima. Como já dito, o pesquisador Juan K. Menezes e eu, estamos há algum tempo em busca do responsável (ou responsáveis) pela construção da primeira capela onde hoje se localiza a igreja de Fátima. Recentemente, mais alguns dados vieram à tona para nos ajudar nessa construção.

            Antes de falar dessas novas descobertas, gostaria de dizer que o que venho postando sobre esse tema reflete o momento da pesquisa, isto é, uma vez descoberta nova informação, eu escrevo sobre o tema (que gera muita curiosidade) e posto no Blog e nas minhas redes sociais a fim de que isso leve a mais informações vindas da própria população.

            Essa tática, com efeito, vem dando certo, após a postagem do último texto, recebi diversas mensagens de pessoas querendo contribuir, o que muito me agrada. Essa é a ideia e faço isso porque entendo ser importante “garimpar” essas informações junto à sabedoria popular.

            Mas, voltando à dúvida de quem construiu a igreja de Fátima, lá em 1956, como já relatado aqui no Blog, o padre Renato Galvão faz o seguinte relato:

 

Em 1945 já existia a capela, sem imagens e semicoberta”

 

            O padre cita o ano de 1945, muito provavelmente por ter sido esse o ano da sua chegada à paróquia do Bom Conselho. Entretanto, um relato ainda mais antigo foi descoberto recentemente e trouxe mais luz ao tema.

            Dez anos antes da chegada do Padre Renato (1933), um outro religioso, de nome Monsenhor José Magalhães e Souza chegava à Cícero Dantas para assumir o lugar do Padre Vicente Martins, que encontrava-se muito doente. O Monsenhor José Magalhães era pároco de Jeremoabo e assumiu a paróquia de Cícero Dantas naquela ocasião. Ocorre que o Padre Vicente não se recuperou e veio a falecer no dia 04 de junho daquele mesmo ano.

            Após sepultar o Padre Vicente no altar da Igreja da cidade, o Monsenhor José Magalhães assume de vez os trabalhos nessa paróquia e em 1935, faz o relato que até o momento é o mais antigo já registrado sobre o povoamento que hoje é a cidade de Fátima. Em outubro de 1935, de Cícero Dantas, escreve o Monsenhor:

 

Vim para aqui no dia 20 e estive até o dia 24, no dia 29 viajei fazendo trabalhos na ilha e indo para o lugar novo onde celebrei no dia 30 e anunciei ao povo o novo nome do lugar que se chamará Montalegre, voltei à Matriz.                                               

                                                                                                       Livro de Tombo (1934), página 10.

            Em que pese ser um relato um tanto indiferente (Era assim mesmo que os padres faziam os registros nos livros de Tombo) é possível, diante do que já sabemos, compreender que foi esse religioso que batizou o povoamento de Montalegre ou Monte Alegre, como passou a ser chamado. Esse “novo nome” provavelmente substituiu o primeiro nome pelo qual essa área era conhecida, Mocó. Após a chegada do Padre Renato, passou a chamar-se Mont’Alverne ou Monte Alverne e, posteriormente, Fátima.

            Por fim, o relato do Monsenhor José Magalhães reforça a ideia de que a primeira capela foi, de fato, erguida durante o paroquiar do Padre Vicente Martins. Por enquanto ainda é um palpite que, mesmo baseado em dados históricos ainda não pode ser cravado. Cenas dos próximos capítulos.

 

 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.

 


segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Festa de inauguração da Bomba.

 


 

            No último dia 19, publiquei aqui no Blog parte do relato do Padre Renato Galvão sobre a perfuração do poço municipal da então Vila de Fátima. A bomba, como o fatimense costuma chamar.

            Ocorre que, no mesmo livro Tombo, o vigário fez detalhado registro acerca da festa de inauguração ocorrida no dia 04 de outubro de 1959, um domingo, festa de São Francisco, há exatos 62 anos.

            Após a perfuração do poço, em 1954, duas bombas manuais foram instaladas a fim de permitir que a população tivesse acesso a água, como o poço é muito profundo (pelo menos 170 metros), deveria ser muito complicado e demorado fazer o bombeio manual da água. Essas bombas manuais, contudo, foram utilizadas por 5 anos, quando, em 1959 o Departamento de Obras contra a Seca (DNOCS), após insistentes pedidos do Padre Renato, fez a instalação de uma bomba movida por um motor a diesel.

            Por essa época, a construção no entorno do poço já tinha ganhado as caraterísticas arquitetônicas que conhecemos hoje. Veja o relato do Padre:

 

Foi entregue ao vigário um motor bomba e posteriormente foi construído um tanque de pedra e cimento com capacidade de 21 metros cúbicos com quatro torneiras e uma casa de máquinas.

 

            No domingo da inauguração, uma cerimônia pomposa foi organizada sob as expressas recomendações do religioso de não dar aos festejos caráter político partidário. Na ocasião, estiveram presentes técnicos do DENOCS e alguns políticos, inclusive o deputado federal de Ribeira do Pombal, Oliveira Brito, além de comitivas de Poço Verde, Adustina e Cícero Dantas. Quanto aos populares, de acordo com o Padre Renato, a multidão foi estimada em mais de 2 mil pessoas, com direito ao corte de fita inaugural, tarefa que coube ao engenheiro Degildo Menezes.

            O Dr. Degildo era o chefe do quarto distrito do DNOCS, a ele coube também ressaltar em discurso a persistência do Padre na construção do poço. Ainda de acordo com o relato do religioso: “Uma criança lhe ofereceu flores”. A criança a que o vigário se refere, provavelmente trata-se da jovem Vanilda dos Reis que atualmente vive em São Paulo. Vanilda já havia me relatado esse episódio, de acordo com suas memórias, ela ficou responsável de ler um discurso dos agradecimentos do povo de Fátima.

Após o corte da fita, as comitivas se dirigiram até a residência do então vereador João Maria de Oliveira, na praça ao lado da obra. Sobre isso, escreve o padre:

Na residência do vereador João Maria de Oliveira, o vigário fez oferecer aos visitantes um lanche, tendo a caravana regressado ao meio dia.

 

A dimensão da festa nos dá uma ideia da importância do poço municipal para a pequena vila de Fátima. Se hoje uma multidão de 2 mil pessoas já é um volume considerável, imagine 62 anos atrás. Para além disso, a luta do vigário para realizar a obra (de 1954 a 1959) é algo que faço questão de registrar, entendendo que uma fonte confiável de água em uma época em que não havia água encanada e tanques públicos davam um precário socorro à população, só posso imaginar o tamanho da alegria e da gratidão que o povo de Fátima manifestou naqueles dias.

A bomba é hoje pouco mais que um monumento, um tributo à nossa história. Embora ainda sirva de recurso para socorrer os animais nos períodos de estiagem e para aguar as plantas públicas, sua importância é somente uma fração do que fora no passado, naquele dia 4 de outubro de 1959, quando o prefeito de Cícero Dantas, em ato simbólico, ordenou que as quatro torneiras fossem ligadas para que a água jorrasse perante grande público, parte importante da nossa história começava a ser escrita.

 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.