O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

terça-feira, 30 de maio de 2023

Onde ficaram presos os cangaceiros em Salvador?

Revista do Brasil, edição 13.

 

           Alguns dos entregues em 1938 e os que só se renderam em 1940, foram direcionados para a Penitenciária do Estado da Bahia.

          A antiga Casa de Prisão com Trabalho, recebeu os primeiros prisioneiros em outubro de 1861. Símbolo da modernização prisional que chegou ao Brasil após varrer a Europa e EUA, a Casa de Prisão da Bahia representava o abandono de práticas punitivas medievais representadas em ações como o açoite e o enforcamento, vistas como atraso pela sociedade do século XIX.

          A instituição foi um símbolo de modernidade e o orgulho de políticos baianos que se inspiravam nos europeus na tentativa de trazer para o Brasil um sistema penitenciário mais eficiente e moderno, uma visão um tanto romântica da ressocialização de indivíduos através do trabalho.

          Em 1902, passou a se chamar Penitenciária da Bahia, nome que consta nas cartas de Guia dos integrantes do grupo de Ângelo Roque que lá chegaram em 1943 após julgamento.

          Em 1908, passou por uma significativa reforma e ampliação, a inauguração da obra foi um evento pomposo que reuniu diversas autoridades e ganhou amplo destaque na edição de número 13 da revista do Brasil, datada de 31 de março daquele ano.

          A reportagem fez hiperbólicos elogios ao prédio e autoridades, além de fazer cuidadosos registros fotográficos do ambiente. As fotos daquela edição seguem abaixo na ordem que aparecem na publicação e com legendas da edição da revista.





 




 







Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 21 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de HistóriaO Nazista e da HQ Histórias do Cangaço e dos livros Fátima, traços da sua história e O Embaixador da Paz.

 

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segunda-feira, 22 de maio de 2023

A assinatura de Labareda.


 

Ângelo Roque é sem dúvidas um dos nomes mais pesquisados quando se trata de cangaço. Eu tenho um interesse pessoal na vida desse pernambucano por ter sido o seu bando muito atuante na região onde moro.

Recentemente tive acesso a uma série de documentos que nos ajudam a entender como foi a vida dele e dos companheiros que foram presos em 1940 e como foi a sua relação com a justiça no pós cangaço.

Uma documentação muito importante sobre ele é a papelada do processo de aposentadoria do ex-cangaceiro, iniciado em 1973, conforme texto publicado aqui no blog que pode ser acessado pelo link: https://historiadefatimaba.blogspot.com/2023/05/a-aposentadoria-de-angelo-roque.html .

E foi justamente nessa documentação que me deparei com a assinatura do antigo chefe de grupo a qual disponibilizo aqui para efeito de curiosidade.


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Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 21 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço e dos livros Fátima: Traços da sua Histórias e O Embaixador da Paz.

 

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quarta-feira, 17 de maio de 2023

Cosme de Farias defende o Cangaceiro Saracura.

 


Cosme de Farias nasceu em 2 de abril de 1875 em São Tomé de Paripe, Salvador. Era considerado uma pessoa influente apesar de ter origem fora dos círculos fechados da elite da capital baiana.

Atuou como jornalista e Rábula, advogado sem formação específica. Em 1909 recebe a patente de major da Guarda Nacional, mesmo sem jamais ter exercido a carreira militar. O Habeas corpus impetrado em favor de Sérgia Ribeiro da Silva, a Dadá, é considerado o seu maior feito como advogado, conseguindo livrá-la da prisão em 1942.

O que não se sabia até o momento era que, mesmo antes de defender a cangaceira viúva de Corisco, o “Advogado dos Pobres”, como ficou conhecido, havia defendido o cangaceiro Saracura (Benício Alves dos Santos), antigo integrante do bando de Ângelo Roque.

Em 20 de junho de 1941, usando da sua famosa retórica, que tornava cada peça sua uma obra de arte, Cosme de Farias argumenta em seu Habeas Corpus ao Desembargador, presidente do Tribunal de Apelação da Bahia.

Se referindo às condições da casa de detenção da capital, alega ser a instituição “um tremendo matadouro humano”, conforme documento original abaixo:


Infelizmente, na página manuscrita não é possível observar a assinatura do defensor, contudo, pela data e pelo trecho abaixo de outra parte do mesmo processo é possível comprovar a veracidade do documento, além disso, a letra bate perfeitamente com o documento em favor de Dadá. indicando que Farias é mesmo o autor do H.C em benefício de Saracura.


            

Observe que o trecho faz referência ao habeas corpus impetrado por Cosme. Esse é o fragmento de outro trecho da documentação constante na pasta do processo contra Saracura, de posse do Arquivo Público do Estado da Bahia.

No final do documento, o advogado ainda solicita dispensa de custos por ser o seu “cliente” desvalido de recursos financeiros.

De toda sorte, a descoberta de que Cosme de Farias defendeu Saracura, além de ser mais uma peça no quebra-cabeça da historiografia do cangaço, é mais uma amostra de uma vida dedicada a ajudar quem precisava de seus serviços. Essa é a história de vida do Major Cosme de farias.

 

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    SEGUE TRANSCRIÇÃO DO DOCUMENTO NA ÍNTEGRA:

Ex. Sr. Desembargador Presidente do Tribunal de Apelação da Bahia

 

Nos autos de habeas corpus conforme o que se infere a presente petição a conclusão

B. 20 de junho de 1941 (ilegível)

 

Abaixo firmado, como defensor de Benício Alves dos Santos, vulgo Saracura, preso e incomunicável na pavorosa Casa de Detenção da Bahia e pronunciado por crime de homicídio no termo de Paripiranga, vem requerer a V. Ex. que em vista deste egrégio tribunal haver negado a ordem de habeas-corpus requerida em seu favor, se digne oficiar ao Ex. Sr. Secretário de segurança pública desta capital para que seja o paciente enviado para o local da culpa, a fim de ser submetido a julgamento e assim possa decidir logo da sua sorte. O paciente já se encontra encarcerado há 8 longos meses e metido na cada de detenção desta cidade que é um tremendo matador humano. Solicito dispensa de selos por se tratar de pessoa desvalida e muito confiando na bondade e na justiça de V. Ex. espera ser atendido.

P. deferimento. 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 21 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço e dos livros Fátima, traços da sua história e O Embaixador da Paz.

 

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sexta-feira, 12 de maio de 2023

Alvará de Soltura do cangaceiro Deus te Guie.

Fonte: Blog do Mendes

 

    Domingos Gregório dos Santos, o cangaceiro Deus te Guie, foi um dos bandoleiros entregues em 1940 em Paripiranga, com o grupo de Ângelo Roque.

          Juntamente com o chefe e outros companheiros como Saracura, Cacheado e outros, foram encaminhados para Salvador, julgados e condenados a diferentes penas pelos crimes cometidos durante os anos de cangaço.

          De acordo com o processo ao qual tive acesso, contava, quando foi preso, com 22 anos de idade, era filho de João Gregório dos santos e Francisca Maria de Jesus.

          Deus te Guie foi recebido na penitenciária do Estado da Bahia a 15 de fevereiro de 1943 e registrado como prisioneiro de número 1523, sentenciado inicialmente a 10 anos e doze meses de prisão por participar do assassinato de Olegário Bispo da Conceição, Antônio Elias e Nonato Firmino, crime ocorrido em 8 de junho de 1939 pelo grupo de Ângelo Roque em Bebedouro. Por esse triplo homicídio, inclusive, Labareda pegaria 30 anos de prisão, conforme processo ao qual também tive acesso no arquivo público da Bahia.

          Ainda de acordo com o documento abaixo, Deus te Guie teria amargado longos 12 anos e dez meses de prisão celular, isto é, regime fechado, na capital baiana.

          O alvará de soltura do ex-cangaceiro é datado de 12 de outubro de 1953. Foi essa a data exata que o ex-integrante do temível grupo de Labareda ganhou a liberdade após pagar a sua dívida com a sociedade.  


Alvará de Soltura de Deus te Guie - Arquivo Público da Bahia.

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quarta-feira, 10 de maio de 2023

A Aposentadoria de Ângelo Roque

Fonte: Tok de História

 

    Quem diria que um cangaceiro poderia se aposentar como funcionário do Estado após viver uma vida de resignação sem ter cometido qualquer delito conhecido após a deposição das armas e do fim do cangaço. Isso foi exatamente o que aconteceu com Ângelo Roque da Costa, o Labareda.

          Essa história começa com uma minuciosa pesquisa que realizei no Arquivo Público do Estado da Bahia, em Salvador. Em meio às intermináveis fileiras de prateleiras com documentos antigos, encontrei um registro de aposentadoria em nome de Ângelo Roque, cujo conteúdo revelo a partir de agora.

          De acordo com o que consta na documentação, Ângelo Roque deu entrada em seu processo de aposentadoria em outubro de 1973, com deferimento em 05 de novembro daquele ano. O processo conta com o número 6.107/973 com o qual foi comunicado ao tribunal de contas do Estado da Bahia.

          O cargo para o qual Ângelo aposentou-se foi o de porteiro, lotado no Conselho Penitenciário da capital.

          Provavelmente para adicionar ao salário de aposentado, apresentou junto a documentação, a resolução de 12 de maio de 1970, que lhe deu o direito a dois adicionais por completar 15 e 20 anos de serviços, respectivamente nos anos de 1964 e 1969.

Fonte: Blog Lampião Aceso. 

Toda aposentadoria, obviamente, tem uma razão e a justificativa para aposentar Ângelo Roque vai surpreender o leitor assim como me surpreendeu. O laudo médico encaminhado em 24 de setembro de 1973 pelo serviço médico do estado e assinado pela perita Leda Sampaio, aponta o antigo chefe de grupo como portador de “alienação mental” e reitera que Ângelo foi considerado “incapaz para o exercício da função pública e para o serviço em geral”, acrescentando que nos dois anos anteriores, o funcionário teria se valido de diversas licenças para tratamento de saúde.

          É possível que Ângelo Roque da Costa tenha, de fato, desenvolvido alguma comorbidade na velhice, contudo, é igualmente possível que esse argumento tenha sido apenas uma alegação falaciosa para justificar sua a aposentadoria. O benefício do agora aposentado foi fixado em 4089,60 Cruzeiros anuais, fixados por decreto publicado em 20 de novembro de 1973.

No processo consta o endereço do ex-cangaceiro, Rua Padre Vieira, n° 2, Capelinha de São Caetano. Ângelo Roque, contudo, aproveitaria pouco de sua aposentadoria, pois viria a falecer no dia 15 de outubro de 1975, menos de dois anos depois de “pendurar as chuteiras”.

Conforme informação dada a Robério Santos pelo filho dele, Raimundo Roque da Costa, o famoso ex-chefe de grupo está sepultado no cemitério Quinta dos Lázaros, na baixa de Quintas, a apenas algumas quadras do acervo arquivístico que guarda os documentos que utilizei para revelar mais essa faceta da vida de Labareda.  


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Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 21 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço e dos livros Fátima: Traços da sua Histórias e O Embaixador da Paz.

 

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terça-feira, 9 de maio de 2023

População indígena do sertão baiano no século XVIII.

Imagem ilustrativa.

 

    Os indígenas viveram em paz por esse seco sertão até meados do século XVII. Após a fundação da vila de Massacará em 1639, outras missões foram sendo estabelecidas na área.

          Nas disputas de abordagem entre jesuítas e colonos, os índios perdiam duplamente. Para os primeiros, perdiam a liberdade, o direito de seguirem suas crenças originárias e mesmo o direito de ir e vir. Para o segundo grupo, perdiam a preciosa terra, cobiçada por sesmeiros sedentos de áreas para produzir sua riqueza.

          Por falta de terras ou de liberdade, os indígenas foram desaparecendo, diminuindo paulatinamente o contingente populacional à medida que a estrutura colonial se fortalecia no sertão, sobretudo durante o século XVIII.

          De acordo com Mônica Dantas, na vila de Natuba (atual Nova Soure) em 1717 registrava-se 800 índios, em 1759, esse número caiu para apenas 105 casais. O mesmo fenômeno se repetia na vila de Canabrava (Ribeira do Pombal) que, em fins dos anos de 1700, registrava 900 índios, número que despencou em 1850 com apenas 94 casais de indígenas.

          Com as mudanças impostas na colônia pelo Marquês de Pombal, encorajava-se a criação de vilas para que a população de colonos pudesse aumentar. A incorporação de índios à população colonial também configurou artimanha para subjugar os indígenas.

          A miscigenação tornou mais palpável o argumento de que ali não existia mais “índios puros” e foi possível atribuir a eles os estereótipos até hoje utilizados contra essas etnias.

          A eles atribuíam-se características pejorativas como preguiça, indolência e selvageria. Enquanto a retórica buscava a validação, as ações de bastidores se encarregavam de confinar os índios em áreas cada vez menores.

          Essas populações, hoje habitam uma pequena fração das áreas de terras que “possuíam” no início da colonização. Se a terra não faz parte do arcabouço da sua herança, as caricaturas a eles imputadas permanecem como um fardo do legado a eles deixados.


Moisés Reis, Professor há 21 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço e dos livros Fátima: Traços da sua Histórias e O Embaixador da Paz.

 

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segunda-feira, 8 de maio de 2023

Massacará, 384 anos


 

O povoamento do Massacará, hoje pertencente ao município de Euclides da Cunha, antiga vila do Cumbe, é mais antigo que a própria cidade a qual pertence. Na verdade, se tomarmos como referência a fundação do aldeamento por jesuítas em 1639, o Massacará configura-se na povoação mais antiga da região.

Fundada ainda na primeira metade do século XVII, a Vila do Massacará serviu de missão jesuítica para a colonização e catequização dos índios Cariris. É a partir dela que surgem outras antigas vilas como Canabrava de Santa Tereza (atual Ribeira do Pombal), Natuba (atual Nova Soure) e Saco dos Morcegos (Atual Banzaê) e Jeremoabo.

A antiga missão fundada nas secas terras do sertão da Bahia, além de sua função religiosa, servia de entreposto de apoio para os vaqueiros que já trafegavam por essa área na rota do São Francisco para a cidade da Bahia (atual Salvador) O roteiro das boiadas passava pela travessia do rio nas imediações de onde hoje é Paulo Afonso, seguia por Jeremoabo, Pombal e de lá em direção a Salvador.

Aquela missão distante, como dito, dava apoio aos enormes comboios de gado que por ali passavam. As esparsas casas ao longo do caminho faziam as vezes de pontos de comércio entre habitantes locais e os vaqueiros.

Mas em 1669, o segundo Garcia D’Ávila, então senhor de toda essa região, sentiu-se incomodado com as intervenções dos jesuítas no que diz respeito ao comportamento dos habitantes e ao saber das intenções dos padres de conseguir a posse de extensas áreas de terras junto ao rei, decidiu destruir as missões de Itapicuru e Jeremoabo, como forma de expulsar os jesuítas do sertão.

As condições enfrentadas pelos vaqueiros pioneiros eram adversas, buscando pontos de apoio mais eficientes, os boiadeiros incentivavam o povoamento do sertão, construíam açudes, plantavam mantimentos e negociavam as rezes mais fracas ao longo do caminho.

Esse processo culminou em um lento povoamento da região. A imensidão do sertão proporcionou uma ocupação esparsada até o século XVIII, quando mudanças conjunturais como o bom preço do açúcar e do algodão deram nova dinâmica ao vasto sertão entre as províncias da Bahia e de Sergipe Del Rei.

 

 

Esse texto foi adicionado na página da Wikipedia para servir de base para que busca informações sobre essa área.

sexta-feira, 5 de maio de 2023

Movimento Messiânico de Santa Brígida – Bahia.

Foto: João de Souza Lima

 

A socióloga carioca Maria Isaura Queiroz, em 1955, fez um estudo sobre a  comunidade agrícola e religiosa fundada no sertão baiano nos anos 1940 e afirma que Padro Batista, o seu líder religioso, era alagoano.

Batista não comentava sobre sua vida pregressa com os romeiros (como ficaram conhecidos os seus seguidores) tomando para si um ar de misticismo, como se tivesse nascido de uma forma extraordinária. O movimento criado e comandado por ele em Santa Brígida era um autêntico representante do messianismo, como os ocorridos em Canudos e em Juazeiro do Norte, por exemplo.

Era um homem vivido, tendo servido ao exército e conhecido o sul e sudeste do país, embora fosse analfabeto. Afirmava que uma visão divina o fizera retornar ao Nordeste e passou, desde então, a peregrinar pelo sertão da Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Ficou conhecido por dar conselhos à população e por curar pessoas com orações, isso o trouxe fama entre a gente pobre e analfabeta do sertão de santo milagreiro.

Por onde passou, entretanto, levou a desconfiança das autoridades que temiam a reativação do movimento de Canudos, Chegou a ficar nove meses preso em Pernambuco.

Chegou à Santa Brígida por volta de 1945, na época, a localidade pertencia a Jeremoabo, era um lugarejo de difícil acesso, formado por apenas algumas dezenas de casas esparsadas entre si.

O Coronel João Sá era o líder político inconteste daquela área e como tal, não o interessava qualquer tipo de instabilidade. Mas logo percebeu que poderia se aliar a Pedro Batista e, ao mesmo tempo que o vigiava de perto, colheu os frutos da influência do beato.

Dessa aliança, surgiu arrendamentos de terras nas quais os romeiros plantavam diversos gêneros agrícolas, o que fez de Santa Brígida um grande polo agrícola na época.

 

Com a mão-de-obra abundante, havia sistemática divisão de trabalho, alguns grupos se encarregavam do serviço de desmatamento, outros da madeira e outros ainda do plantio, essas forças de trabalho organizadas e motivadas eram muito produtivas.

Toda essa produção era comercializada pelo próprio beato, que se tornou um dos maiores comerciantes de gêneros agrícolas da região. Foram construídos armazéns para estocar o excedente de produção e até um caminhão foi adquirido pela comunidade. Nesses armazéns os trabalhadores eram pagos conforme sua produção e função.

O êxodo constante de sertanejos em direção à Santa Brígida, acabou formando ali um grande conglomerado de eleitores para o coronel. Quem chegava, era prontamente registrado como eleitor local e assim, foi-se formando uma comunidade numerosa, o que aumentava significativamente a influência e o poder político do Coronel João Sá.

          Conforme os romeiros iam chegando, eram alojados em um loteamento rural adjacente, acertando prontamente um local para a agricultura de subsistência, uma vez que a maioria dos que chagavam eram agricultores. Os recém-chegados recebiam o apoio da comunidade local para iniciar a sua própria produção.

Esse movimento promoveu uma mudança substancial na estrutura local. As matas foram transformadas em áreas agricultáveis e a comunidade organizou-se em uma espécie de cooperativa de trabalho rural sob o comando de Pedro Batista, na qual mutirões eram organizados e realizavam todo o tipo de trabalho em benefício da coletividade.  A presença de uma liderança com conotações espirituais deu a essas associações de trabalho uma unidade diferenciada, o trabalho coletivo era constante e produtivo.

          Com o crescimento da população de romeiros na localidade, uma divisão social acabou por se formar. Os seguidores de Pedro Batista eram chamados (e assim se identificavam) de Romeiros, enquanto os habitantes locais, nativos, eram chamados de Baianos. Havia certa animosidade entre romeiros e baianos, o que levou a alguns conflitos pontuais. Pedro Batista chegou a proibir a ida de romeiros à missa na igreja dos baianos.

Pedro Batista incentivou a chegada à Santa Brígida de profissionais que ajudassem a desenvolver a região como professores, comerciantes, enfermeiros e outros, reforçando a ideia de que sua vontade era ver prosperar a comunidade agrícola da qual era líder religioso no sertão baiano.

Assim, buscou empréstimos em agências bancárias e investiu na transformação de Santa Brígida em um grande fornecedor regional de produtos oriundos da agricultura e pecuária. Embora o beato tenha acumulado patrimônio, os recursos oriundos da comercialização desses produtos eram revertidos em benefícios à população.

Grandes romarias eram realizadas em Santa Brígida, com centenas de pessoas chegando de vários estados do nordeste para tomar um conselho, buscar cura para uma doença, ou simplesmente para estar perto de Pedro Batista. Parte dos que chegavam ficavam por lá mesmo e contribuíam com o crescimento populacional vertiginoso nos anos áureos da comunidade.

Muitos antigos romeiros do Padre Cícero, quando da sua morte, passaram a caminhar para ouvir os conselhos do beato radicado em terras baianas. Pedro Batista tornou-se, então, uma espécie de substituto do padre cearense.

A comunidade era cristã, não podia vender bebidas alcoólicas, não haviam festas pagãs e o padrão de comportamento era conservador. Não há relatos também de roubos, furtos e violência.

Toda decisão importante, como viajar a trabalho, por exemplo, era antes compartilhada com o beato e só era tomada mediante a sua aprovação. A habilidade do beato em dar conselhos gerava muito poder simbólico em torno de si.

Pedro Batista chegou a possuir ao menos 4 fazendas, pagava impostos e seguia as regras da sociedade da época, o que o diferenciava de Conselheiro que era monarquista e negava a república.

Em uma dessas fazendas criou um núcleo colonial onde trabalhadores e suas famílias produziam em benefício próprio. Com a ajuda de recursos federais, o núcleo colonial prosperou tanto que chagava a arrecadar mais que a prefeitura local anualmente, além de possuir infraestrutura como igreja, pousada, escolas, hospitais e veículos para o escoamento da produção

Como era comum nos movimentos messiânicos, haviam atritos com a igreja católica. O Monsenhor José de Magalhães e Souza, por exemplo, teve rusgas consideráveis com Pedro Batista, que não cobrava pelos “serviços espirituais” e desautorizava a igreja

Após sua morte, o vazio de liderança findou por desorganizar as estruturas montadas pelo beato, alguns candidatos a sucessor tentaram assumir seu lugar, o que chegou a gerar violência. Assim, toda a organização e prosperidade construída pelo beato só durou enquanto a sua presença física era percebida. A sua partida representou o começo do fim.

Hoje Santa Brígida é mais uma cidade do interior baiano com suas agruras econômicas e sociais e muito pouco tem daquela comunidade que prosperou em torno da figura de um beato que tinha visão de prosperidade, mas não planejou e nem preparou a comunidade para a sua ausência.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

GONZALES, Olegário Miguel. Bem-aventurança em Santa Brígida, uma comunidade sob a orientação de Pedro Batista. Dissertação, UFBA 2004.

 

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. A importância do distrito baiano de Santa Brigida na sociologia. Dissertação UFRJ, 2001.


MOISÉS REIS é professor, historiador e escritor. Reside em Fátima, BA. É mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). 

Contato: 75 999742891

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quarta-feira, 3 de maio de 2023

Organização administrativa do Nordeste baiano.

 



A região do nordeste da Bahia, a qual Fátima pertence, teve como sede administrativa e religiosa a antiga Vila de Jeremoabo a partir de 1718, quando esta foi elevada de categoria, passando de Julgado à Vila, conforme lei aprovada pelo império e submetida à Assembleia Geral Legislativa da província da Bahia.

A regência, em nome de D. Pedro II, data de 1781

 

I-                Fica erecto em Vila o Julgado de Jeremoabo, desmembrando-se de Itapicuru, a quem pertencia;

II-              O termo da Vila de Jeremoabo conterá as três freguesias de que seu distrito eleitoral se compõe, a saber: A mesma de São João Batista de Jeremoabo, a de Nossa Senhora do Bom Conselho dos Montes do Boqueirão e a do Santíssimo Coração de Jesus de Monte Santo, com todo o território pertencente.

Essa nova divisão fez com que a administração de toda essa área passasse para Jeremoabo, substituindo Itapicuru e centralizando mais as decisões do estado imperial.

Até a criação do município de Cícero Dantas em 1871, todas as questões com a burocracia administrativa de municípios como Fátima (Mocó), Heliópolis (Novo Amparo), Adustina (Queimadas), Cícero Dantas (Bom Conselho), Coronel João Sá (Bebedouro), Pedro Alexandre (Serra Negra), Novo Triunfo (Guloso) e adjacências, precisavam ser resolvidos em Jeremoabo.