O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Cosme de Farias defende o Cangaceiro Saracura.

 


Cosme de Farias nasceu em 2 de abril de 1875 em São Tomé de Paripe, Salvador. Era considerado uma pessoa influente apesar de ter origem fora dos círculos fechados da elite da capital baiana.

Atuou como jornalista e Rábula, advogado sem formação específica. Em 1909 recebe a patente de major da Guarda Nacional, mesmo sem jamais ter exercido a carreira militar. O Habeas corpus impetrado em favor de Sérgia Ribeiro da Silva, a Dadá, é considerado o seu maior feito como advogado, conseguindo livrá-la da prisão em 1942.

O que não se sabia até o momento era que, mesmo antes de defender a cangaceira viúva de Corisco, o “Advogado dos Pobres”, como ficou conhecido, havia defendido o cangaceiro Saracura (Benício Alves dos Santos), antigo integrante do bando de Ângelo Roque.

Em 20 de junho de 1941, usando da sua famosa retórica, que tornava cada peça sua uma obra de arte, Cosme de Farias argumenta em seu Habeas Corpus ao Desembargador, presidente do Tribunal de Apelação da Bahia.

Se referindo às condições da casa de detenção da capital, alega ser a instituição “um tremendo matadouro humano”, conforme documento original abaixo:


Infelizmente, na página manuscrita não é possível observar a assinatura do defensor, contudo, pela data e pelo trecho abaixo de outra parte do mesmo processo é possível comprovar a veracidade do documento, além disso, a letra bate perfeitamente com o documento em favor de Dadá. indicando que Farias é mesmo o autor do H.C em benefício de Saracura.


            

Observe que o trecho faz referência ao habeas corpus impetrado por Cosme. Esse é o fragmento de outro trecho da documentação constante na pasta do processo contra Saracura, de posse do Arquivo Público do Estado da Bahia.

No final do documento, o advogado ainda solicita dispensa de custos por ser o seu “cliente” desvalido de recursos financeiros.

De toda sorte, a descoberta de que Cosme de Farias defendeu Saracura, além de ser mais uma peça no quebra-cabeça da historiografia do cangaço, é mais uma amostra de uma vida dedicada a ajudar quem precisava de seus serviços. Essa é a história de vida do Major Cosme de farias.

 

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    SEGUE TRANSCRIÇÃO DO DOCUMENTO NA ÍNTEGRA:

Ex. Sr. Desembargador Presidente do Tribunal de Apelação da Bahia

 

Nos autos de habeas corpus conforme o que se infere a presente petição a conclusão

B. 20 de junho de 1941 (ilegível)

 

Abaixo firmado, como defensor de Benício Alves dos Santos, vulgo Saracura, preso e incomunicável na pavorosa Casa de Detenção da Bahia e pronunciado por crime de homicídio no termo de Paripiranga, vem requerer a V. Ex. que em vista deste egrégio tribunal haver negado a ordem de habeas-corpus requerida em seu favor, se digne oficiar ao Ex. Sr. Secretário de segurança pública desta capital para que seja o paciente enviado para o local da culpa, a fim de ser submetido a julgamento e assim possa decidir logo da sua sorte. O paciente já se encontra encarcerado há 8 longos meses e metido na cada de detenção desta cidade que é um tremendo matador humano. Solicito dispensa de selos por se tratar de pessoa desvalida e muito confiando na bondade e na justiça de V. Ex. espera ser atendido.

P. deferimento. 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 21 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço e dos livros Fátima, traços da sua história e O Embaixador da Paz.

 

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