O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Os vereadores de Vila de Fátima.

 


Há 62 anos João Maria e Augusto Borges eram eleitos vereadores de Cícero Dantas. Foi na legislatura de 1959 a 1962 que a então Vila de Fátima contaria com dois representantes no legislativo do município de Cícero Dantas, na gestão de Abelardo Vieira (UDN).

João Maria ainda se reelegeria para outros dois mandatos consecutivos, ocupando a cadeira de Vereador até 1972.

A dupla João Maria/ Augusto Borges ainda entraria junta na disputa das primeiras eleições de Fátima como município autônomo, realizadas a 15 de novembro de 1985 pelo PDS. A chapa sairia ganhadora naquele pleito fazendo de João Maria de Oliveira e de Augusto Borges os primeiros prefeito e vice-prefeito do município, assumindo no dia primeiro de janeiro de 1986, conforme consta na ata de passe dos dois – documento disponível no acervo da câmara municipal de Fátima.


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.



sexta-feira, 28 de maio de 2021

José Ferreira Sobrinho, Juiz de Paz.

Fonte: Arquivo Familiar.

 

A função de Juiz de Paz tem origens, no caso brasileiro, ainda no chamado primeiro reinado, período no qual D. Pedro I ainda era imperador do país. A constituição de 1824 trazia consigo um mecanismo peculiar denominado poder moderador que, entre outros poderes, atribuía ao próprio soberano a prerrogativa de indicar os cargos para o judiciário, inclusive da magistratura.

Essa autoridade, aliada a uma série de outros, dava amplos poderes ao imperador que tinha fama de centralizador e autoritário. Foi pensando nisso que, em 1827, os liberais criaram a função de juiz de paz, inicialmente um cargo por indicação que colocava nas comarcas dos interiores, pessoas que não necessariamente respondiam ao centro do império.

De acordo com a concepção inicial da função de Juiz de paz, este seria alguém da comunidade, para exercer o cargo não havia necessidade de formação jurídica adequada, isto é, tratava-se de uma função para leigos. Entretanto, mesmo atuando em pequenas causas, era considerado peça fundamental pelos liberais (opositores de Pedro I) por estarem distantes do centro do império e garantirem a lei de forma autônoma.

Lotado nas pequenas freguesias (agrupamento no entorno de uma paróquia), o Juiz de paz tinha a incumbência da conciliação, com frequência, ocupava-se de temas como questões de terras, fronteiras, acesso à água, prejuízos envolvendo escravos, ajudavam na manutenção da ordem e dispersando arruaceiros e outros.

Era um cargo majoritariamente político e atuava como peça fundamental na manutenção da ordem política local. Para ilustrar a importância do Juiz de Paz com um exemplo da nossa região, Francisco Ferreira de Brito, ancestral da poderosa família Brito de Ribeira do Pombal, ocupou a função de Juiz de Paz na Vila do Pombal no final do XIX. Francisco Ferreira de Brito é o primeiro indivíduo com o sobrenome Brito a chegar à Vila do Pombal oriundo de Itapicuru e foi intendente (cargo equivalente ao de prefeito) por diversas vezes da mesma vila. (APEB).

Em primeiro de outubro de 1828, foi estabelecido o processo eleitoral do Juiz de Paz e este passou a ser eleito em pleitos semelhantes ao cargo de vereador. Isso representou uma perda de poder para as câmaras municipais que eram instituições muito poderosas, vale lembrar que o Barão de Jeremoabo foi o primeiro presidente da câmara de Bom Conselho em 1875. Entretanto, a elegibilidade do cargo não tirava desse a influência de poderosos como o Barão.

 Fátima teve o seu Juiz de Paz, seu nome de batismo era José Ferreira Sobrinho, mas poucos o conheciam por esse nome. “Zé da Barreira” era a alcunha que o fez conhecido em toda a cidade. Nascido em 1929, teve uma infância difícil, marcada pela pobreza e pelo abandono. Dotado de uma inteligência singular conseguiu estudar e chegou ao funcionalismo público em 1969, foi nomeado Juiz de Paz em 1977 e exerceu a função até pouco antes da sua morte em 2007 atestando compra de imóveis, mediando conflitos entre outros. Nos períodos eleitorais, os famosos apostadores procuravam sua casa (onde trabalhava) na Praça Ângelo Lagoa, para fazer a oficialização das pelejas.

            A função fez de Seu Zé da Barreira um homem de posses, adquiriu terrenos no entorno da cidade e tinha uma vida confortável, entre os seus terrenos (que hoje, em partes, ainda pertencem à família), a área elevada próxima às torres de comunicação da cidade que, nas décadas 20 e 30 do século passado, era conhecida como “Serra do Mocó”, em decorrência da grande quantidade desses pequenos roedores na região. Serra do Mocó, inclusive, foi um dos nomes pelos quais Fátima foi conhecida por algum tempo da sua história.

            A função de Juiz de Paz ainda existe no Brasil, nos dias de hoje, é regulamentada pelos tribunais de justiça de cada estado.

 

 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.

 

segunda-feira, 24 de maio de 2021

De D. Pedro I a Fátima – Conexões.

 


D. Pedro I, ou Pedro IV, em Portugal, nasceu em 24 de setembro de 1798, na cidade portuguesa de Queluz. Foi a figura central no processo de independência do Brasil, tornando-se o seu primeiro imperador em 1822, posição que ocupou até 1831 quando partiu para Portugal, abdicando do trono em favor do seu filho, Pedro II, na época com apenas 5 anos de idade.

A abdicação de D. Pedro I, inaugurou o período da história nacional conhecido como Período Regencial, quando homens da confiança da família real se sucederam no cargo de regente, uma espécie de conselheiro do jovem príncipe. Aquela foi uma quadra de certa tensão para o império, havia no ar o sentimento atormentador de um golpe contra a monarquia e ao poder instituído.

Foi nesse contexto que foi criada a Guarda Nacional, uma força militar organizada em 1831, por meio da lei de 18 de agosto daquele ano. A guarda era composta por militares e civis com convicções monarquistas, a ideia era que essa unidade pudesse ser acionada rapidamente no caso de uma emergência.

Assim, cidadãos com conexões com os poderosos da época receberam títulos dentro da hierarquia da GN. Em nossa região, haviam diversos proprietário de terras membros da guarda, entre eles, o fazendeiro, dono da Maria Preta, Severo Correia, que era tenente da GM, seu nome consta como tal entre os documentos elencados para o livro Cartas ao Barão, de Consuelo Novais, estabelecendo assim a conexão entre D. Pedro I e Fátima.



Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.


terça-feira, 18 de maio de 2021

A pandemia de cólera que assolou a região no século XIX.


Na segunda metade do século XIX, uma epidemia de cólera que se originou na Ásia e já varria a Europa chega a essa região. A doença, causada por uma bactéria, o vibrião colérico, era mortal e causou enormes prejuízos em todos os lugares por onde passou.

Nós, que estamos vivendo esse período de pandemia da Covid-19, temos condições hoje de compreender melhor o que os nossos antepassados viveram mais de cem anos atras.

A cólera é uma doença ligada a questões de saúde pública e se alastrava com muita facilidade pelas fétidas cidases do dezenove. Ao chegar ao Brasil, provavelmente pelo Pará, a pandemia já estava em sua terceira onda. É interessante notar que, naquela época já havia grande trânsito de pessoas e mercadorias pelo mundo, sobretudo a bordo de navios vapores.

A disseminação da doença não foi tão rápida quanto foi a do corona vírus que, a bordo de modernas aeronaves levou apenas alguns meses para atingir 160 países. Entretanto, causou estragos similares, sobretudo em virtude da ausência de políticas de saneamento básico da época.

Na Europa, a Inglaterra foi o país mais atingido, na verdade foi em Londres que se descobriu que a doença estava ligada a água contaminada. Aqui na Bahia, a cidade de Salvador ficou à beira do caos. A partir de 1855, a capital foi praticamente isolada, o sertanejo que levava gado para abastecer o mercado local se recusava a arriscar a vida, com o tempo percebeu-se que muitos tangedores, vaqueiros que conduziam o gado, perdiam suas vidas ao retornarem doentes da capital. A recusa do sertanejo em viajar para Salvador repete-se em outras regiões que abasteciam a cidade de toda sorte de gêneros alimentícios como farinha, milho, etc. o que leva a carestia de alimentos e a fome entre os soteropolitanos. O gado que chegava à capital, por exemplo, era vendido a preços exorbitantes.

Aqui no sertão, a doença não tardou a chegar e fazer estragos. Em 1856, o barão de Jeremoabo, ainda um jovem estudante, relata em seu diário a morte de um criado da sua família, que faleceu em Jeremoabo. Assim escreve o barão:

Paulo, criado de meu pai, de grande estima nossa e que nos acompanhou quando éramos estudantes, (eu e meus irmãos Baldoino e Benício), faleceu no Caritá a 23 de janeiro de 1856, vítima de Cólera Morbus.

O trecho acima foi publicado por um trineto do Barão, Álvaro Pinto Dantas de Carvalho Júnior. Na mesma obra, vê-se as queixas do fidalgo acerca da doença, onde roga a deus que livre a região do flagelo da cólera.

O gado que chegava a Salvador era oriundo do vasto “sertão”, inclusive daqui de Fátima, que à época pertencia à comarca de Jeremoabo de cima. Em algumas cartas trocadas entre o Barão e o dono da fazenda Maria Preta, Severo Correia de Souza, podemos notar os trâmites para o envio das enormes boiadas com destino à capital. As viagens conduzidas por tangedores, como dito, foram prejudicadas e, em alguns momentos, interrompidas por ausência desses profissionais.

Há relatos de que a então Vila de Bom Conselho (atual Cícero Dantas) foi fortemente impactada por aquela pandemia. De acordo com depoimentos colhidos por pesquisadores, o número de mortes foi altíssimo no período, até mesmo sepultamentos coletivos foram realizados no cemitério que fica no morro em frente à atual igreja da cidade (construída em 1812) em decorrência da incapacidade de realizar enterros tradicionais para o grande número de vítimas.

Não está claro, contudo, qual foi o impacto direto na região onde hoje se localiza Fátima, entretanto, há razões para acreditar que a cólera também atingiu as fazendas que existiam por aqui. A cólera ainda assombrou essa região em outras ocasiões. Nos anos 1990, voltou a assustar o fatimense mas foi contida e praticamente erradicada da maior parte do país.


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.


sexta-feira, 14 de maio de 2021

De Fátima ao Padre Cícero (Conexões)

Cícero Romão Batista, o Padre Cícero do Juazeiro, nasceu 1844 no Crato, no estado do Ceará. Foi ordenado padre ainda em 1870 na capital daquele estado, Fortaleza.

Pode parecer estranho à maioria das pessoas, mas o jovem Cícero Romão não era bem visto pela gerência do seminário. A sua religiosidade diferenciava-se dos demais por sustentar crenças em visões e profecias, o que não era aceito pela igreja católica. Dizia-se que aquilo se assemelharia mais ao curandeirismo do que aos dogmas do catolicismo.

Mesmo com tais obstáculos, ao ser ordenado padre, logo ganhou fama de milagreiro entre a gente simples do sertão. Um caso em particular, ocorrido no Juazeiro em 1894 fez do Padre Cícero um homem santo na visão dos fiéis. Durante uma missa, ao entregar a hóstia a um fiel esta teria virado sangue, fato testemunhado pelos devotos e que teria se repetido por mais de uma vez.

Esse episódio transformou não só a vida do padre, mas também da cidade de Juazeiro do Norte por conta do número de fiéis que passaram a frequentar a cidade. Mas a fama do padre ainda incomodava a igreja, tanto é que naquele mesmo ano (1894) foi punido pela Santa Sé, sendo suspenso do sacerdócio. O fato encorajou o padre a ir ao vaticano em 1898 para protestar contra aquela situação.

Mas sua fama só crescia. Em 1911 o distrito de Juazeiro foi elevado a município e o padre torna-se prefeito da cidade, seria aquela apenas mais uma de suas inúmeras conexões políticas.

Tamanha era a popularidade do padre que em 1915, chega ao juazeiro o Sírio Benjamin Abrahão Botto. O árabe que se tornaria célebre por filmar Lampião e seu grupo nas caatingas desse nordeste é retratado pelo historiador Frederico Pernambucano de Melo como um aproveitador, que fez uso da boa fé do padre para se dar bem na vida.

Durante a celebração de uma missa no Juazeiro, o Padre Cícero não pôde deixar de notar entre os caboclos calcinados pelo sol do sertão aquele homem branco, de boa estatura e bem vestido. Ao final do culto, o padre pediu a um de seus assessores que averiguassem quem era aquela figura. Ao ser interpelado pelos ajudantes do padre, Benjamim teria respondido: “Diga ao meu padrinho que sou da terra do nosso senhor Jesus Cristo”.

Aquela apresentação fez de Benjamim o secretário especial do padre, morando na casa paroquial da cidade até a morte do religioso. Ainda de Acordo com Frederico Pernambucano de Melo, o sírio andava sempre muito bem vestido, com terno de casimira e sapatos importados. Tal era a sua esperteza que, com a morte do padre em 1934, teria tirado uma mecha de cabelo do cadáver para transformar e suvenir e ganhar dinheiro.


após o episódio da morte do Padre Cícero, benjamim fez bom uso do prestígio que o vigário tinha junto aos bandos de cangaceiros, sobretudo Lampião. Virgulino Ferreira da Silva era devoto do padre Cícero e chegou a visita-lo inúmeras vezes. O cangaceiro Volta Seca, que morou na cidade vizinha de Novo Triunfo, relatou que viu o capitão Virgulino chorar e ser acometido por uma profunda tristeza que durou dias ao saber da morte do Padre.

Ciente disso, Benjamim Abraão muniu-se de uma câmera de vídeo e saiu em busca de realizar inéditas imagens dos cangaceiros. Foi motivo de constrangimento para as volantes saberem que um gringo teria levado poucas semanas para encontrar Lampião e seu bando no meio do mato para filmá-los em seu “habitat natural”. O filme de Benjamim Abrão é considerado uma joia do acervo cinematográfico do cangaço. Descontraídos os cangaceiros, inclusive Maria Bonita e Lampião posam para as fotos e deixam-se filmar sem preocupações, afinal, aquele homem era o assessor do já falecido Padim Ciço.

O evento com o bando de Lampião ocorreu em 1936 mas Benjamim não parou por aí, fez diversas fotografias de cangaceiros e volantes, registrando com entusiasmo aquela guerra ocorrida na caatinga. Naquele mesmo ano, em Poço Redondo, Sergipe, Benjamim encontra a volante do Tenente Zé Rufino, no encalço do cangaceiro Mariano. O sírio pede autorização ao tenente que se deixa fotografar. Entre aqueles homens estava o fatimense Liberino Vicente, flagrado ao lado do afamado matador de cangaceiros, criando assim a conexão entre o Padre Cícero do Juazeiro e Fátima.


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.


quarta-feira, 12 de maio de 2021

O Coronelismo na história de Fátima

 

Imagem meramente ilustrativa

As práticas políticas que por convenção chamamos de Coronelismo têm raízes muito profundas na nossa história. Recuando até a primeira república (1889-1930) desenvolveu-se no país práticas diversas de burlar a legislação eleitoral com vistas a fortalecer ou preservar os ditames de grupos dominantes.

Os poderes dos coronéis eram exageradamente vastos e diversos. De acordo com Carvalho (2012), nas fazendas, a lei como um todo era exercida pelo coronel e seus jagunços e as pessoas que viviam dentro dos seus domínios não eram cidadãos, mas seus súditos.

Esse poder era regrado a amplos acordos políticos com deputados e governadores. Tal hierarquia funcionava com a troca de favores entre esses e os coronéis (mandatário locais) e tinham o eleitor na ponta dessa linha. Das lideranças estaduais o coronel recebia a regalia de indicar entre os seus correligionários o delegado, o juiz e um leque de servidores públicos. Em troca, garantia o voto daqueles sob o seu comando. Essa rede de interesses funcionava muito bem, garantindo, por via de regra, a eleição dos envolvidos.

Em nossa região, talvez a figura mais proeminente do estereótipo do coronel foi o de Chiquinho Vieira, patriarca da poderosa família vieira de Cícero Dantas. Os vieiras”, como o fatimense costumava chamar (Lembro muito da minha avó paterna, Dona Maria, dizendo: “No tempo dos Vieira” ... ou “esse calçamento foi feito pelos Vieira”) entram no cenário político da nossa região ainda no início dos anos 1800. De acordo com SOUZA (2008), o patriarca da família, o Coronel Chiquinho Vieira, exerceu amplos poderes por aqui até os anos 1940.

Seu poder era garantido pelas alianças com deputados e “Chefes políticos” estrategicamente cultivados em cada vila do município, Monte Alverne (Fátima), inclusive, onde a jovem liderança local, João Maria de Oliveira, fazia oposição ao poderoso chefe político.

A ocasião das eleições eram um caso à parte. Na época não havia uma legislação eleitoral coesa, o que dava margem para movimentações de interesses politiqueiros. O padre Renato Galvão, em carta ao deputado João da Costa Pinto Dantas, faz queixas das ações de João Maria na eleição em que foi candidato e da desorganização do pleito por aqui.

Chiquinho Vieira, já na velhice, passou o comando político aos filhos e netos. Nessa perspectiva, teve dois filhos deputados estaduais. A carreira política de um deles, Accioly Vieira de Andrade, dá uma ideia do poderio da família. Engenheiro Civil, Accioly foi prefeito de Feira de Santana em 1946, prefeito de Cipó (1947-1951), Deputado Estadual pela UDN e pela ARENA entre 1959 e 1979. Accioly Vieira é pai do ex-prefeito de Cícero Dantas, Hélio Vieira, ainda vivo com mais de 80 anos. Outro descendente de Chiquinho Vieira de carreira proeminente foi Fernando Andrade (neto) que foi prefeito de Cícero Dantas em duas ocasiões, de 1973 a 1976 e de 1983 a 1988 e deputado estadual de 1999 a 2003.

Ainda de acordo com Souza (2008), o poderio da família Vieira teve uma baixa em 1960 quando um ex-aliado, o Padre Renato Galvão, rompeu com a família e lançou-se candidato, elegendo-se com ampla margem o prefeito de Cícero Dantas em 1964. A eleição do Vigário foi um duro golpe para o clã pois rompeu com um ciclo que na época já durava quase cem anos.

Consta que aquela eleição foi especialmente violenta. Em carta ao deputado João da Costa Pinto Dantas, seu aliado político, o padre Renato relata acontecimentos como batidas na porta da casa paroquial altas horas da madrugada e uma conspiração para assassiná-lo, impedindo a sua candidatura. Na missiva assevera o padre: “Descobri que a empregada que demiti iria envenenar-me”.

O mandato do Padre Renato ficou marcado por romper com o ciclo dos Vieiras também em termos administrativos. Amplas obras públicas na cidade fizeram do Padre/Prefeito uma figura de grande prestígio público. Em Fátima, que na ocasião do seu mandato já era Vila, a gestão de Renato Galvão foi responsável, por exemplo, pela construção do Açougue Municipal (1964), ampliação do Colégio onde hoje funciona a Escola Estadual Nossa Senhora de Fátima, o gerador a Diesel que trouxe energia pela primeira vez para essa localidade (1964) e o Poço Municipal (a Bomba) que foi inaugurada em 1960 por sua influência quando ainda nem era prefeito.

A família vieira de Cícero Dantas ainda continuou com o seu legado político naquela cidade e ainda preserva influência, contudo, nada comparado ao poder que ostentava no passado.

As práticas oriundas do coronelismo, naturalmente, ecoaram e, de certa forma, ainda ecoam com o passar dos anos. O próprio João Maria era filho desse tempo. A sua forma de gerir trazia muitos resquícios da política coronelista. Era um homem ríspido e dado a um certo autoritarismo, embora tenha admiradores até os dias de hoje. Seu modo de enxergar a política não poderia deixar de fazer jus a sua própria origem como pessoa. Enquanto adversário do coronel Chiquinho vieira, João Maria herdou práticas peculiares. Na atualidade, alguns políticos da nossa região ainda resguardam hábitos típicos daquela época como a compra de votos, campanhas baseadas em grandes cifras e tantas outras práticas que há muito deveriam ter sido deixadas no passado da nossa gente.



Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.


segunda-feira, 3 de maio de 2021

Fatimenses Migram para São Paulo.


 

Os movimentos populacionais internos do território brasileiro já produziram muitas histórias ao passo que promoveram a integração, nem sempre gentil, entre habitantes de diversas regiões do país. A região Sudeste, principalmente a cidade de São Paulo, foi por décadas polo atrativo para moradores de áreas menos industrializadas e com escassez de empregos.

Esse processo de urbanização é paralelo ao processo de industrialização do país iniciado ainda nas primeiras décadas do século XX. Mas esses fatores passam a reverberar na vida do fatimense e, de uma forma geral, de boa parte dos nordestinos a partir daquilo que ficou conhecido como o “Milagre Brasileiro”, frequentemente limitado entre os anos de 1968 e 1973.

Era o auge do poder dos governos militares no Brasil quando vultosos empréstimos adquiridos junto ao Banco Mundial, alavancaram a industrialização nacional, gerando uma bolha do crescimento na economia. Embora tenha durado pouco tempo e tenha levado a economia a bancarrota posteriormente, esse período representa a gênese da migração de pessoas da nossa região para a capital Paulista.

Foi naquele final dos anos 1960 que muitos homens (principalmente) resolveram se aventurar como pioneiros nordestinos na imensa metrópole paulista. Semanalmente as famílias dos migrantes juntavam-se na “Agência de Seu Sérgio” para despedir-se e desejar boa sorte para aqueles que estavam de partida. Os canteiros de obras eram o principal destino dos rapazes que dariam duro para juntar algumas economias. Em barracos de madeira, sob condições precárias de saúde e saneamento básico, juntavam-se histórias de pessoas humildes que ajudaram a construir São Paulo.

Em 1974, enfrentaram uma epidemia de meningite que assolou muitas vidas na capital. Ainda está vivo na memória de muitos fatimenses aquele período de tensão e medo de adquirir a terrível doença, sobretudo nos alojamentos insalubres da época.

É possível que aqueles homens sem formação e acostumados à vida simples que tinham por aqui tenham servido para a formação do estereótipo do “Baiano Burro”, injustamente atribuído a nós. Pessoas preconceituosas descriminavam os trabalhadores que ali estavam em busca de prosperidade.

Ir para São Paulo era quase uma obrigação para o jovem que completava 18 anos, as vezes falsificavam documentos em busca de antecipar a viagem e de ter a oportunidade de trabalhar. Os anos se passavam naquela vida difícil e o retorno era copiosamente celebrado pelos parentes que haviam ficado. Quando alguém chegava de São Paulo virava quase uma celebridade instantânea. O “Brilho de São Paulo” era a justificativa para os mais namoradores que aproveitavam essa fama repentina para namorar o quanto podiam. Mas havia sempre a iminência do retorno para o emprego que deixaram para traz.

Pouco a pouco esse ciclo foi sendo quebrado, a oferta de emprego local e a oferta de estudos foi interrompendo a saída dos jovens com destino à São Paulo. Aliado a concomitante ausência de empregos por lá, os nossos jovens hoje preferem ficar por aqui. Formados contribuem para o desenvolvimento dessa nossa terra.  

 


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.