Os
movimentos populacionais internos do território brasileiro já produziram muitas
histórias ao passo que promoveram a integração, nem sempre gentil, entre
habitantes de diversas regiões do país. A região Sudeste, principalmente a
cidade de São Paulo, foi por décadas polo atrativo para moradores de áreas
menos industrializadas e com escassez de empregos.
Esse processo
de urbanização é paralelo ao processo de industrialização do país iniciado
ainda nas primeiras décadas do século XX. Mas esses fatores passam a reverberar
na vida do fatimense e, de uma forma geral, de boa parte dos nordestinos a
partir daquilo que ficou conhecido como o “Milagre Brasileiro”, frequentemente
limitado entre os anos de 1968 e 1973.
Era o
auge do poder dos governos militares no Brasil quando vultosos empréstimos adquiridos
junto ao Banco Mundial, alavancaram a industrialização nacional, gerando uma bolha
do crescimento na economia. Embora tenha durado pouco tempo e tenha levado a
economia a bancarrota posteriormente, esse período representa a gênese da
migração de pessoas da nossa região para a capital Paulista.
Foi naquele
final dos anos 1960 que muitos homens (principalmente) resolveram se aventurar
como pioneiros nordestinos na imensa metrópole paulista. Semanalmente as
famílias dos migrantes juntavam-se na “Agência de Seu Sérgio” para despedir-se
e desejar boa sorte para aqueles que estavam de partida. Os canteiros de obras
eram o principal destino dos rapazes que dariam duro para juntar algumas
economias. Em barracos de madeira, sob condições precárias de saúde e
saneamento básico, juntavam-se histórias de pessoas humildes que ajudaram a
construir São Paulo.
Em 1974,
enfrentaram uma epidemia de meningite que assolou muitas vidas na capital. Ainda
está vivo na memória de muitos fatimenses aquele período de tensão e medo de
adquirir a terrível doença, sobretudo nos alojamentos insalubres da época.
É possível
que aqueles homens sem formação e acostumados à vida simples que tinham por
aqui tenham servido para a formação do estereótipo do “Baiano Burro”,
injustamente atribuído a nós. Pessoas preconceituosas descriminavam os
trabalhadores que ali estavam em busca de prosperidade.
Ir para
São Paulo era quase uma obrigação para o jovem que completava 18 anos, as vezes
falsificavam documentos em busca de antecipar a viagem e de ter a oportunidade
de trabalhar. Os anos se passavam naquela vida difícil e o retorno era
copiosamente celebrado pelos parentes que haviam ficado. Quando alguém chegava
de São Paulo virava quase uma celebridade instantânea. O “Brilho de São Paulo”
era a justificativa para os mais namoradores que aproveitavam essa fama repentina
para namorar o quanto podiam. Mas havia sempre a iminência do retorno para o
emprego que deixaram para traz.
Pouco a
pouco esse ciclo foi sendo quebrado, a oferta de emprego local e a oferta de
estudos foi interrompendo a saída dos jovens com destino à São Paulo. Aliado a
concomitante ausência de empregos por lá, os nossos jovens hoje preferem ficar
por aqui. Formados contribuem para o desenvolvimento dessa nossa terra.
Moisés Santos Reis Amaral,
Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela
Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em
Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.
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