O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Fatimenses Migram para São Paulo.


 

Os movimentos populacionais internos do território brasileiro já produziram muitas histórias ao passo que promoveram a integração, nem sempre gentil, entre habitantes de diversas regiões do país. A região Sudeste, principalmente a cidade de São Paulo, foi por décadas polo atrativo para moradores de áreas menos industrializadas e com escassez de empregos.

Esse processo de urbanização é paralelo ao processo de industrialização do país iniciado ainda nas primeiras décadas do século XX. Mas esses fatores passam a reverberar na vida do fatimense e, de uma forma geral, de boa parte dos nordestinos a partir daquilo que ficou conhecido como o “Milagre Brasileiro”, frequentemente limitado entre os anos de 1968 e 1973.

Era o auge do poder dos governos militares no Brasil quando vultosos empréstimos adquiridos junto ao Banco Mundial, alavancaram a industrialização nacional, gerando uma bolha do crescimento na economia. Embora tenha durado pouco tempo e tenha levado a economia a bancarrota posteriormente, esse período representa a gênese da migração de pessoas da nossa região para a capital Paulista.

Foi naquele final dos anos 1960 que muitos homens (principalmente) resolveram se aventurar como pioneiros nordestinos na imensa metrópole paulista. Semanalmente as famílias dos migrantes juntavam-se na “Agência de Seu Sérgio” para despedir-se e desejar boa sorte para aqueles que estavam de partida. Os canteiros de obras eram o principal destino dos rapazes que dariam duro para juntar algumas economias. Em barracos de madeira, sob condições precárias de saúde e saneamento básico, juntavam-se histórias de pessoas humildes que ajudaram a construir São Paulo.

Em 1974, enfrentaram uma epidemia de meningite que assolou muitas vidas na capital. Ainda está vivo na memória de muitos fatimenses aquele período de tensão e medo de adquirir a terrível doença, sobretudo nos alojamentos insalubres da época.

É possível que aqueles homens sem formação e acostumados à vida simples que tinham por aqui tenham servido para a formação do estereótipo do “Baiano Burro”, injustamente atribuído a nós. Pessoas preconceituosas descriminavam os trabalhadores que ali estavam em busca de prosperidade.

Ir para São Paulo era quase uma obrigação para o jovem que completava 18 anos, as vezes falsificavam documentos em busca de antecipar a viagem e de ter a oportunidade de trabalhar. Os anos se passavam naquela vida difícil e o retorno era copiosamente celebrado pelos parentes que haviam ficado. Quando alguém chegava de São Paulo virava quase uma celebridade instantânea. O “Brilho de São Paulo” era a justificativa para os mais namoradores que aproveitavam essa fama repentina para namorar o quanto podiam. Mas havia sempre a iminência do retorno para o emprego que deixaram para traz.

Pouco a pouco esse ciclo foi sendo quebrado, a oferta de emprego local e a oferta de estudos foi interrompendo a saída dos jovens com destino à São Paulo. Aliado a concomitante ausência de empregos por lá, os nossos jovens hoje preferem ficar por aqui. Formados contribuem para o desenvolvimento dessa nossa terra.  

 


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.


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