O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

Transição: De Vicente Martins a José de Magalhães e Souza.


 

Em agosto de 1930 o Padre Vicente Martins, com 74 anos, adoecido, convida o Monsenhor José Magalhães e Souza, pároco de Jeremoabo, para auxiliar nos trabalhos da paróquia de Bom Conselho;

O português José de Magalhães e Souza foi, inicialmente, nomeado vigário cooperador e assume as funções e desobrigas. Na ocasião, afirma em suas anotações que buscou manter uma postura branda para não desagradar o velho vigário titular.

Em 1931, ainda dividindo as funções entre Jeremoabo e Cícero Dantas, passa alguns dias por mês na paróquia de N. S do Bom Conselho atendendo também as comunidades vizinhas. Em agosto de 1932 realiza a festa da padroeira, enquanto o Padre Vicente Segue Doente;

No dia 4 de junho de 1933, em Jeremoabo, José Magalhães recebe a notícia da piora na condição de Saúde do padre Vicente. Ele viaja à Cícero Dantas, inclusive durante toda a noite, chegando na manhã de 5 de junho para receber a notícia de que Vicente Martins havia falecido na manhã do dia anterior, aos 77 anos de idade e sepultado no mesmo dia a tarde no altar da igreja;

Em suas anotações, o religioso registra a sua gratidão pela consideração dos fiéis pelo velho padre:

 

Agradeci a todos o quanto tiveram feito para o seu vigário que o serviu por 50 anos, pois fazia apenas sete dias para completar 50 anos que tinha celebrado nessa terra pela primeira vez. (Livro de Tombo da Igreja de N. S do Bom conselho, p. 8).

 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 20 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço.

 

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segunda-feira, 20 de junho de 2022

Saracura, vida após o cangaço.

 

Saracura e sua segunda esposa. Acervo Kiko Monteiro
Foto inédita na literatura do cangaço.


    Benício Alves dos Santos era paripiranguense, entrou para o cangaço após desacertos com a polícia local e foi combater ao lado do notório Labareda. Sua vida durante o cangaço é relativamente bem conhecida. Saracura ficou famoso por aparecer em um famoso documentário onde é descrito por Zé Rufino como um homem destemido e inteligente, capaz de comandar um grupo por conta própria.

          No mesmo documentário Benício aparece já como funcionário público do Instituto Médico Legal. Em uma breve entrevista, entre informações sobre a vida bandoleira, deixa claro que não gostava de falar do cangaço.

          Tudo que foi dito até aqui, não é novidade para quem gosta e pesquisa sobre o cangaceirismo, contudo, recentemente, tive a oportunidade ímpar de entrevistas Silvano Andrade Santos, filho de Benício. A descoberta do contato me foi gentilmente passada pelo pesquisador Kiko Monteiro.

          Por telefone, Silvano me passou as informações que faltavam para compor o perfil de Saracura após o fim do cangaço e finalmente compor a historiografia sobre o tema.

Saracura faleceu ainda jovem, aos 59 anos, contrariando a tradição de longevidade dos cangaceiros sobreviventes ao cangaço. A data exata do seu falecimento é 2 de junho de 1975, morreu de hepatite e foi sepultado em Salvador.

          Benício nasceu no dia 01 de novembro de 1916, se entregou em 1940 em Paripiranga e seguiu para cumprir pena em Salvador. Após cumprir sua sentença, continuou morando na capital, mas, de acordo com Silvano, fez diversas visitas à Paripiranga após o cangaço. Foi na fazenda de um amigo, Ramiro Vieira de Andrade, que conheceu a mulher com quem viveria pelo resto de seus dias.

          A filha do fazendeiro que encantou Saracura foi Josefa Vieira de Andrade Santos, ainda viva, com 83 anos, residente em Itaberaba, a 288 Km de Salvador. Foi dela que Silvano retirou a maior parte das informações a mim passadas para a composição desse artigo, uma vez que ele tinha apenas 11 meses de idade quando Saracura faleceu.

          Sua vida cotidiana era dedicada ao trabalho e à família, tornou-se um cidadão tranquilo, ordeiro, casado, pai de quatro filhos, três biológicos e um adotivo. Como ele mesmo afirmou no documentário já citado, não gostava de falar do cangaço e pode estar aí o motivo de sua vida civil não ter sido documentada até agora. Não temos informações acerca da sua relação na vida civil com o outrora chefe Ângelo Roque. Sabe-se, contudo, que chegou a contar algumas histórias para a esposa em momentos de descontração.

          A família permanece unida, Silvano é casado, pai de três filhos, um deles, o caçula, leva o nome do avô, Benício Andrade. É um nome forte para uma criança que vai crescer com um nome carregado de significados e com uma bela história de lutas.

          Silvano é empresário e pai também de Victória Andrade (26 anos) e Miguel Andrade (21), Valentina Andrade, filha de Simone Andrade, completa o rol de netos do ex-cangaceiro Saracura.

          A esposa de Saracura criou os filhos em Salvador apoiada na pensão de um salário mínimo que recebia como viúva, diante das dificuldades da vida, seu pai chegou a ir busca-la para voltar a viver em Paripiranga, mas ela recusou e preferiu criar os filhos onde acreditava ter melhores condições de dar a eles boa educação, oportunidade que não teve durante a vida. A família optou por Itaberaba, onde vive ainda hoje.

         

 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 20 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço.

 

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domingo, 19 de junho de 2022

A chegada do telefone à Fátima.

Imagem ilustrativa.

 

Criada em 1973, a Telebahia era uma estatal baiana ligada ao sistema de telecomunicações brasileiros (TELABRAS). A empresa dominou o mercado em toda a Bahia até a sua privatização em 1998.

               O serviço de telefonia chegou em Fátima provavelmente em 1983, na gestão Fernando Andrade (1983-1988). De acordo com o ex-prefeito Eduardo Pires, o serviço inicial foi viabilizado a partir da instalação de uma única antena posicionada no alto de Zé da Barreira, onde hoje ainda existem as torres de TV e telefonia da cidade.

               A pequena antena ligava-se ao posto telefônico por uma rede de fios que faziam a ligação para um único aparelho telefônico localizado no pequeno posto instalado na residência do senhor Pedro Cardoso, pai da professora Nailda, vizinho ao prédio da atual Câmara de Vereadores.

               Para os mais jovens, acostumados às facilidades da tecnologia, será estranho saber que o serviço de telefonia da cidade se restringia a um único estabelecimento. Quando alguém desejava fazer uma ligação, se dirigia ao posto e solicitava ao funcionário público de plantão a discagem dos números específicos. Quando o inverso era aplicado, ou seja, quando alguém de fora da cidade ligava para o posto com a intenção de falar com algum fatimense, enviava-se um mensageiro até a casa do solicitado para avisar que ele tinha uma ligação para atender.

               Os funcionários listados e enviados para a prefeitura de Fátima durante o processo da emancipação eram: Ester Menezes de Souza, Josefa Fontes de Sena, José Souza Vieira e Antônio Alves de Souza. Todos contratados pela prefeitura de Cícero Dantas, visto que Fátima, no início dos anos 1980, ainda era uma vila pertencente ao referido município.

               Já no período pós emancipação, foi feita uma expansão pela gestão João Maria de Oliveira. Por intermédio do deputado paripiranguense Faustino Dias Lima (que também ajudou na emancipação do município), conseguiu-se expandir a rede e instalar aparelhos de telefone nas residências das famílias em melhores condições financeiras. Foi a primeira vez que o fatimense viu um telefone em uma casa de família.

               Mas o serviço público ainda continuou a ser oferecido. Durante os anos 1990, o posto funcionou próximo à papelaria J. Oscar. Lembro, quando criança, de frequentar o estabelecimento com três cabines telefônicas feitas de madeira com uma abertura de vidro, onde as pessoas entravam para falar com um pouco mais de privacidade. Mesmo com a instalação das cabines, muitas fofocas ainda se espalhavam em virtude do mal hábito de algumas pessoas que escutavam a conversa alheia durante as ligações.

 

Nota: Para compor as informações aqui inseridas, eu conversei com Eduardo Pires, José Bomfim Andrade e Marcos Rogério Morais.


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 20 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço.

 

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segunda-feira, 6 de junho de 2022

Chiquinho Vieira.

 

Casa de Chiquinho Vieira.

Francisco de Souza Andrade Vieira é o patriarca da família Vieira de Cícero Dantas. Nascido em 1872, Chiquinho Vieira, como ficou conhecido, foi um importante nome da política local durante as primeiras décadas do século XX.

          Habilidoso estrategista, mandava e desmandava na política local. Amigo do Barão de Jeremoabo, trocou cartas com o fidalgo até 1903, ano do falecimento do Barão. Nas cartas tratavam de assuntos que variavam de indicações políticas à favores em nome de parentes e correligionário.

          Chiquinho Vieira é avô do ex-prefeito de Cícero Dantas Hélio Vieira e pai de Accioly, Avelina Vieira de Andrade. Era casado com Anezita Carvalho de Andrade. Formou-se bacharel em ciência políticas e foi prefeito de Cícero Dantas em 1899 e chegou a ocupar o cargo de Juiz da cidade.

          Seu prestígio dava-se em decorrência das alianças políticas que cultivou ao longo da vida, sobretudo a amizade com o Barão de Jeremoabo e, após a morte do Barão, com seu filho deputado João da Costa Pinto Dantas.

          Foi Chiquinho Vieira que, nos anos 1930, ajudou Ângelo Lagoa a fundar a feira e o barracão na atual Praça Ângelo Lagoa. A feira, como se sabe, ajudaria a pequena localidade do Mocó a se desenvolver e se tornar a Fátima que conhecemos.

          Chiquinho Vieira faleceu no dia 17 de julho de 1949, as 13h em sua residência na cidade de Cícero Dantas, conforme relato do Padre Renato em seu livro de notas. Ainda de acordo com os registros do dito padre, contava na ocasião com 77 anos de idade. A casa do Coronel afamado ainda hoje mantem a fachada original (imagem de capa).


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 20 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço.

 

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