O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Por que os colonos levaram mais de 200 anos para chegar à Fátima?

 

"sendo grandes conquistadores de terras, não se aproveitam delas, mas contentam-se de as andar arranhando ao longo do mar como caranguejos"

 

            Assim definiu, no dia 20 de dezembro de 1627, o Frei Vicente de Salvador a relutância dos portugueses em adentrar o litoral brasileiro e conquistar as terras do chamado Sertão. Sua obra A HISTÓRIA DO BRASIL, configura como a obra mãe da história do país, tanto é que Frei Vicente é considerado o pai da historiografia brasileira.

            Mas por que os colonos vindos do litoral só chegaram a essa nossa região por volta da segunda metade do século XVIII, isto é, mais de dois séculos após a chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro?

            A resposta para essa pergunta, pode estar do outro lado do Oceano Atlântico, na África. Foi lá que, por volta da segunda metade do século XV, aproximadamente cem anos antes da épica viagem de Cabral, os portugueses iniciaram a transformação do tráfico de escravos em um negócio internacional.

            Naquele período inicial do que viria a ser o famigerado tráfico negreiro os lusitanos empreenderam a construção de uma verdadeira estrutura mercante na costa africana. Aliados a traficantes locais, embrenhavam-se nas florestas e savanas africanas em busca de cativos. Essa ousadia, segundo GOMES (2019), custou a vida de milhares de europeus, vítimas de doenças tropicais como malária, febre amarela e outras. Ainda segundo o mesmo autor, a mortalidade entre os portugueses, desacostumados ao clima africano chegava a impressionantes 50%.

            Com o passar do tempo, os traficantes de escravos vindo da Europa passaram a evitar adentrar aos confins do continente em busca de pessoas para serem transportadas à América como escravas, deixando essa tarefa a cargo de aliados africanos que também lucravam com a mórbida atividade econômica.

            Como todos sabemos, em 22 de abril de 1500 os portugueses chegam ao Brasil. Nas décadas e séculos iniciais eles evitam adentrar o território pelas mesmas razões que o fizeram na África. Como o clima era bastante semelhante, temia-se (e com razão) as temidas doenças tropicais que como lá aqui existiam. Além disso, a atividade econômica inicialmente empregada por aqui (a cultura canavieira) estava muito bem instalada nos solos férteis da zona da mata baiana.


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.


quinta-feira, 29 de julho de 2021

Depois dos rios, as estradas


 

Como já abordado amplamente pelo Blog História de Fátima, os rios Vaza Barris e Real foram os primeiros caminhos percorridos pelos colonos pioneiros nessa parte do sertão.

Dito isso, é preciso salientar, com a finalidade de dirimir algumas dúvidas muito recorrente nesse tema, que essa região do Sertão (Atualmente semiárido nordeste II) e adjacências, ao contrário do litoral, foi colonizadas, inicialmente, por brasileiros, não por Portugueses. Cidadãos de origem portuguesa até vieram para áreas próximas, mas posteriormente aos primeiros povoamentos, como é o caso de Manoel Américo de Souza Velho, português chegado à Vila de Massacará, próximo ao Curralinho (Atualmente, município de Euclides da Cunha) na fronteira com Cícero Dantas, em 1737 e que possuiu terras na antiga fazenda Boqueirão, também no atual município de Cícero Dantas.

Mas, voltando a falar das estradas, elas foram abertas pela passagem dos animais (bois, cavalos e mulas) que abriam picadas em meio à caatinga conduzidos pelos primeiros vaqueiros (índios, negros libertos ou cativos e mestiços) em busca de pastagens e fundando fazendas em toda essa região.

O modus operante dos vaqueiros da Casa da Torre era sistemático. Ao encontrar uma área promissora, abria-se espaço para a construção de uma moradia para os vaqueiros e, posteriormente, buscava-se madeira boa para o curral. Nesse momento, o colono que passaria a viver ali tinha o apoio de um grupo de vaqueiros que operavam como semeadores de gente por esse sertão. Esses, preparavam a nova habitação e uma vez certificado que a nova fazenda seria minimamente autossuficiente retornavam ao litoral (na atual Praia do Forte) para iniciar o processo com outra família de aventureiros dispostos a encarar o clima do sertão. Antes de partir, contudo, na nova fazenda, deixa-se algumas rezes, o suficiente para iniciar um novo rebando, alguns burros, cavalos e jumentos e sementes para o plantio. Estava fundado assim mais uma fazenda de gado.

Esse processo de entrada no sertão e retorno ao litoral, repetido ao longo de muitos e muitos anos, foi originando as estradas que, posteriormente, passaram a se chamar de Estrada Real, em alusão ao soberano entronado. Esses caminhos permitiram o avanço da colonização em direção ao interior e o aumento da população pelos sertões, tudo ligado à cultura do gado vacum.

A estrada real que passava por Fátima era uma ramificação que ligava o litoral sergipano, Paripiranga, Adustina, Fátima e Cícero Dantas. Daí se conectava à antiguíssima estrada Jeremoabo/ Bom Conselho que era parte do caminho dos vaqueiros que partiam de Salvador em direção ao Rio São Francisco.

Nesse percurso, aldeamentos eram formados em lugares estratégicos (a presença de água sempre foi um fator muito importante). Onde identificava-se a presença de indígenas os missionários (nessa área, Jesuítas e Capuchinhos) assumiam a catequização. Ali erguiam uma capela, em torno da qual formava-se uma freguesia.


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.


segunda-feira, 26 de julho de 2021

Cícero Dantas Reconhece Frei Apolônio de Tody como fundador da cidade.



        

Através da lei municipal número 085 de 13 de julho de 2009, o executivo municipal da cidade de Cícero Dantas reconhece o Frei italiano como o fundador da cidade. Frey Apolônio de Tody foi o responsável pela construção da igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho, conforme já abordado aqui no Blog história de Fátima.

            A lei, sancionada pelo prefeito José Weldon de Carvalho Santana considera a data de início da construção da igreja em 8 de julho de 1812 como o marco da fundação da, hoje, cidade de Cícero Dantas.

            Esse ato estabelece, segundo o entendimento do poder executivo municipal, a data de fundação e o fundador da cidade. O processo de estabelecimento da data de fundação reflete, como dito, o entendimento das pessoas responsáveis pela elaboração da lei. Chamo atenção para esse fato, porque a construção da Igreja não é necessariamente o marco inicial da habitação humana (nem mesmo do homem branco) nas terras do bom conselho.

            Se você acompanhou o artigo publicado aqui no blog em 8 de julho de 2020 (link: https://historiadefatimaba.blogspot.com/2020/06/carta-de-1812-descreve-construcao-da.html)  sobre essa temática se lembrará que citamos, baseado nos relatos do próprio Frei Apolônio, que a construção da igreja deu-se em cima do antigo cemitério da cacunéia, conhecido bem antes da chegada do religioso por essas bandas.

            O estabelecimento da data de construção da igreja e seu construtor como marco inicial do município é uma questão de interpretação, mas é algo importante na construção e preservação da história e da memória local. 

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Cabeças em Paripiranga-BA

Fonte: Blog Lampião Aceso


 

Em abril de 1939, na fronteira entre Adustina e Coronel João Sá, chegava ao fim a trajetória de Mariquinha, companheira de Labareda, nas fileiras do cangaço.

Segunda mulher a entrar para o cangaço, logo após Maria Bonita, Maria Miguel da Silva, natural de malhada da caiçara, zona rural de Paulo Afonso, era prima de Maria Bonita e resolve acompanhar Ângelo Roque, o Labareda, em 1930.

Pequenininha e de grande simpatia, viveu por nove anos com o desconfiado cangaceiro Labareda. De acordo com o pesquisador João Filho de Paula Pessoa, diferentemente da prima que acompanhou o rei do cangaço e viveu com ele a glória dos encontros com coronéis e de possuir roupas luxuosos e joias, Mariquinha segue o estilo de vida do companheiro.

Desconfiado e recluso, Labareda prefere as brenhas da caatinga e evitava povoamentos volumosos por longos períodos. Sempre em meios ao mato serrado, o grupo de Labareda e sua companheira sobrevivem à perseguição da polícia, superando o grupo principal de Lampião em longevidade, sendo o último grupo de cangaceiros ativos da história do cangaço a se entregar em 1940 em Paripiranga.

Um ano antes, contudo, em 1939, perto de Paripiranga, o grupo de Labareda é surpreendido pela volante do nazareno Odilon Flor e após intenso combate, o grupo sofre três baixas, as três cabeças que ilustram esse artigo – Marquinha, Pé de Peba e Chofreu – que são abatidos em combate e têm as cabeças decepadas e levadas para Paripiranga. Os corpos são enterrados no local e ainda hoje são marcados por cruzes em meios ao mato daquela região. (ainda esse ano pretendo ir até lá)

Em vingança pela morte da companheira, Labareda cometeu assassinatos na área, os filhos de Josefa Bispo, acusada de delatar o paradeiro dos cangaceiros, Olegário, Antônio e Constâncio.

Essa história é parte do enredo da HQ Histórias do Cangaço. 


 

 


Fontes: Blog do Mendes e Blog Lampião Aceso.