O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Depois dos rios, as estradas


 

Como já abordado amplamente pelo Blog História de Fátima, os rios Vaza Barris e Real foram os primeiros caminhos percorridos pelos colonos pioneiros nessa parte do sertão.

Dito isso, é preciso salientar, com a finalidade de dirimir algumas dúvidas muito recorrente nesse tema, que essa região do Sertão (Atualmente semiárido nordeste II) e adjacências, ao contrário do litoral, foi colonizadas, inicialmente, por brasileiros, não por Portugueses. Cidadãos de origem portuguesa até vieram para áreas próximas, mas posteriormente aos primeiros povoamentos, como é o caso de Manoel Américo de Souza Velho, português chegado à Vila de Massacará, próximo ao Curralinho (Atualmente, município de Euclides da Cunha) na fronteira com Cícero Dantas, em 1737 e que possuiu terras na antiga fazenda Boqueirão, também no atual município de Cícero Dantas.

Mas, voltando a falar das estradas, elas foram abertas pela passagem dos animais (bois, cavalos e mulas) que abriam picadas em meio à caatinga conduzidos pelos primeiros vaqueiros (índios, negros libertos ou cativos e mestiços) em busca de pastagens e fundando fazendas em toda essa região.

O modus operante dos vaqueiros da Casa da Torre era sistemático. Ao encontrar uma área promissora, abria-se espaço para a construção de uma moradia para os vaqueiros e, posteriormente, buscava-se madeira boa para o curral. Nesse momento, o colono que passaria a viver ali tinha o apoio de um grupo de vaqueiros que operavam como semeadores de gente por esse sertão. Esses, preparavam a nova habitação e uma vez certificado que a nova fazenda seria minimamente autossuficiente retornavam ao litoral (na atual Praia do Forte) para iniciar o processo com outra família de aventureiros dispostos a encarar o clima do sertão. Antes de partir, contudo, na nova fazenda, deixa-se algumas rezes, o suficiente para iniciar um novo rebando, alguns burros, cavalos e jumentos e sementes para o plantio. Estava fundado assim mais uma fazenda de gado.

Esse processo de entrada no sertão e retorno ao litoral, repetido ao longo de muitos e muitos anos, foi originando as estradas que, posteriormente, passaram a se chamar de Estrada Real, em alusão ao soberano entronado. Esses caminhos permitiram o avanço da colonização em direção ao interior e o aumento da população pelos sertões, tudo ligado à cultura do gado vacum.

A estrada real que passava por Fátima era uma ramificação que ligava o litoral sergipano, Paripiranga, Adustina, Fátima e Cícero Dantas. Daí se conectava à antiguíssima estrada Jeremoabo/ Bom Conselho que era parte do caminho dos vaqueiros que partiam de Salvador em direção ao Rio São Francisco.

Nesse percurso, aldeamentos eram formados em lugares estratégicos (a presença de água sempre foi um fator muito importante). Onde identificava-se a presença de indígenas os missionários (nessa área, Jesuítas e Capuchinhos) assumiam a catequização. Ali erguiam uma capela, em torno da qual formava-se uma freguesia.


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.


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