O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Quem Construiu a Igreja de Fátima? (parte 3)

 

Foto, Lília Tavares.

Esse é o terceiro texto da saga da construção da igreja matriz de Fátima. Como já dito, o pesquisador Juan K. Menezes e eu, estamos há algum tempo em busca do responsável (ou responsáveis) pela construção da primeira capela onde hoje se localiza a igreja de Fátima. Recentemente, mais alguns dados vieram à tona para nos ajudar nessa construção.

            Antes de falar dessas novas descobertas, gostaria de dizer que o que venho postando sobre esse tema reflete o momento da pesquisa, isto é, uma vez descoberta nova informação, eu escrevo sobre o tema (que gera muita curiosidade) e posto no Blog e nas minhas redes sociais a fim de que isso leve a mais informações vindas da própria população.

            Essa tática, com efeito, vem dando certo, após a postagem do último texto, recebi diversas mensagens de pessoas querendo contribuir, o que muito me agrada. Essa é a ideia e faço isso porque entendo ser importante “garimpar” essas informações junto à sabedoria popular.

            Mas, voltando à dúvida de quem construiu a igreja de Fátima, lá em 1956, como já relatado aqui no Blog, o padre Renato Galvão faz o seguinte relato:

 

Em 1945 já existia a capela, sem imagens e semicoberta”

 

            O padre cita o ano de 1945, muito provavelmente por ter sido esse o ano da sua chegada à paróquia do Bom Conselho. Entretanto, um relato ainda mais antigo foi descoberto recentemente e trouxe mais luz ao tema.

            Dez anos antes da chegada do Padre Renato (1933), um outro religioso, de nome Monsenhor José Magalhães e Souza chegava à Cícero Dantas para assumir o lugar do Padre Vicente Martins, que encontrava-se muito doente. O Monsenhor José Magalhães era pároco de Jeremoabo e assumiu a paróquia de Cícero Dantas naquela ocasião. Ocorre que o Padre Vicente não se recuperou e veio a falecer no dia 04 de junho daquele mesmo ano.

            Após sepultar o Padre Vicente no altar da Igreja da cidade, o Monsenhor José Magalhães assume de vez os trabalhos nessa paróquia e em 1935, faz o relato que até o momento é o mais antigo já registrado sobre o povoamento que hoje é a cidade de Fátima. Em outubro de 1935, de Cícero Dantas, escreve o Monsenhor:

 

Vim para aqui no dia 20 e estive até o dia 24, no dia 29 viajei fazendo trabalhos na ilha e indo para o lugar novo onde celebrei no dia 30 e anunciei ao povo o novo nome do lugar que se chamará Montalegre, voltei à Matriz.                                               

                                                                                                       Livro de Tombo (1934), página 10.

            Em que pese ser um relato um tanto indiferente (Era assim mesmo que os padres faziam os registros nos livros de Tombo) é possível, diante do que já sabemos, compreender que foi esse religioso que batizou o povoamento de Montalegre ou Monte Alegre, como passou a ser chamado. Esse “novo nome” provavelmente substituiu o primeiro nome pelo qual essa área era conhecida, Mocó. Após a chegada do Padre Renato, passou a chamar-se Mont’Alverne ou Monte Alverne e, posteriormente, Fátima.

            Por fim, o relato do Monsenhor José Magalhães reforça a ideia de que a primeira capela foi, de fato, erguida durante o paroquiar do Padre Vicente Martins. Por enquanto ainda é um palpite que, mesmo baseado em dados históricos ainda não pode ser cravado. Cenas dos próximos capítulos.

 

 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.

 


segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Festa de inauguração da Bomba.

 


 

            No último dia 19, publiquei aqui no Blog parte do relato do Padre Renato Galvão sobre a perfuração do poço municipal da então Vila de Fátima. A bomba, como o fatimense costuma chamar.

            Ocorre que, no mesmo livro Tombo, o vigário fez detalhado registro acerca da festa de inauguração ocorrida no dia 04 de outubro de 1959, um domingo, festa de São Francisco, há exatos 62 anos.

            Após a perfuração do poço, em 1954, duas bombas manuais foram instaladas a fim de permitir que a população tivesse acesso a água, como o poço é muito profundo (pelo menos 170 metros), deveria ser muito complicado e demorado fazer o bombeio manual da água. Essas bombas manuais, contudo, foram utilizadas por 5 anos, quando, em 1959 o Departamento de Obras contra a Seca (DNOCS), após insistentes pedidos do Padre Renato, fez a instalação de uma bomba movida por um motor a diesel.

            Por essa época, a construção no entorno do poço já tinha ganhado as caraterísticas arquitetônicas que conhecemos hoje. Veja o relato do Padre:

 

Foi entregue ao vigário um motor bomba e posteriormente foi construído um tanque de pedra e cimento com capacidade de 21 metros cúbicos com quatro torneiras e uma casa de máquinas.

 

            No domingo da inauguração, uma cerimônia pomposa foi organizada sob as expressas recomendações do religioso de não dar aos festejos caráter político partidário. Na ocasião, estiveram presentes técnicos do DENOCS e alguns políticos, inclusive o deputado federal de Ribeira do Pombal, Oliveira Brito, além de comitivas de Poço Verde, Adustina e Cícero Dantas. Quanto aos populares, de acordo com o Padre Renato, a multidão foi estimada em mais de 2 mil pessoas, com direito ao corte de fita inaugural, tarefa que coube ao engenheiro Degildo Menezes.

            O Dr. Degildo era o chefe do quarto distrito do DNOCS, a ele coube também ressaltar em discurso a persistência do Padre na construção do poço. Ainda de acordo com o relato do religioso: “Uma criança lhe ofereceu flores”. A criança a que o vigário se refere, provavelmente trata-se da jovem Vanilda dos Reis que atualmente vive em São Paulo. Vanilda já havia me relatado esse episódio, de acordo com suas memórias, ela ficou responsável de ler um discurso dos agradecimentos do povo de Fátima.

Após o corte da fita, as comitivas se dirigiram até a residência do então vereador João Maria de Oliveira, na praça ao lado da obra. Sobre isso, escreve o padre:

Na residência do vereador João Maria de Oliveira, o vigário fez oferecer aos visitantes um lanche, tendo a caravana regressado ao meio dia.

 

A dimensão da festa nos dá uma ideia da importância do poço municipal para a pequena vila de Fátima. Se hoje uma multidão de 2 mil pessoas já é um volume considerável, imagine 62 anos atrás. Para além disso, a luta do vigário para realizar a obra (de 1954 a 1959) é algo que faço questão de registrar, entendendo que uma fonte confiável de água em uma época em que não havia água encanada e tanques públicos davam um precário socorro à população, só posso imaginar o tamanho da alegria e da gratidão que o povo de Fátima manifestou naqueles dias.

A bomba é hoje pouco mais que um monumento, um tributo à nossa história. Embora ainda sirva de recurso para socorrer os animais nos períodos de estiagem e para aguar as plantas públicas, sua importância é somente uma fração do que fora no passado, naquele dia 4 de outubro de 1959, quando o prefeito de Cícero Dantas, em ato simbólico, ordenou que as quatro torneiras fossem ligadas para que a água jorrasse perante grande público, parte importante da nossa história começava a ser escrita.

 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.

 


terça-feira, 19 de outubro de 2021

A Construção da Bomba.

 

Poço Municipal -Anos 1980 - Foro: Juan K. Menezes

A Bomba, é como o fatimense conhece o poço municipal, inaugurado em 4 de outubro de 1960, esse poço trouxe segurança hídrica para a pacata vila de Fátima da época.

            Mas a construção do poço passou por várias fases, cuidadosamente relatada pelo padre Renato Galvão no livro de tombo da igreja de Cícero Dantas.

            De acordo com o Vigário, uma perfuratriz foi conseguida junto ao DENOCS em 1954 por iniciativa dele mesmo. A maquina teria vindo até Vila de Fátima com a ajuda inicial da prefeitura de Cícero Dantas e feito diversas perfurações, algumas delas com mais de 120 metros de profundidade e não encontrou água. Lei o relato do Padre:

 

Por iniciativa do Vigário, Padre Renato Galvão foi conseguida uma perfuratriz do DNOCS para a sede do distrito de Fátima (Monte Alverne). Não pequeno sacrifício foi sugerido desde 1915. Várias pesquisas foram feitas e todas com resultados negativos. Em 1954, ainda por nossa iniciativa, o ministro José Américo de Almeida mandou perfurar em i pontos desta sede paroquial. Atingiu-se a profundidade de 120 metros e foi encontrada apenas um insignificante lençol de infiltração.

 

            O trecho “Não pequeno sacrifício foi sugerido desde 1915”. Nos dá a ideia do tamanho da vontade da população local em ter um poço que vertesse água nessa seca região, de modo que o fracasso em conseguir a perfuração correta em 1954 deve ter sido um duro golpe para o fatimense.

            A insistência do vigário parece ter sido mesmo o ponto de virada na saga do poço. Sobre isso ele escreve:

 

Monte Alverne foi mais feliz e ninguém mais acreditava mais na possibilidade de se encontrar algum lençol abundante e permanente. A prefeitura negou-se a conceder mais o auxílio do transporte da máquina, tivemos que fornecer oito mil cruzeiros, além do fornecimento de operários.

 

            Note que, de acordo com o exposto, até mesmo a prefeitura de Cícero Dantas, na época sobre a administração de João Batista de Andrade Souza (1955-1958) desistiu de ajudar na obra e o próprio padre teve que custear o transporte da máquina e os operários.

 

            A insistência, contudo, deu resultado, pois “no dia 26 de agosto de 1956 a perfuratriz, depois de superar uma camada forte de granito duro com 50 metros de profundidade atingiu um grande e rico lençol de água cristalina e potável avaliada em 6 mil litros diários”.

            Houve entusiasmada festa em Vila de Fátima com foguetes e badalar de sinos para comemorar a chegada da água, ao saber da notícia, o padre apressou-se em vir visitar a obra:

 

Visitamos o local no mesmo dia e constatamos a veracidade dos fatos que o povo recebeu com regozijo público através de foguetes e repiques de sinos. Pela primeira vez, Deus louvado, um poço tubular é construído nesta terra.

 

            No dia 2 de setembro de 1956 o poço foi bento e recebeu o nome de “Fonte de São Francisco”. O nome de batismo do Poço caiu no esquecimento do fatimense, mas o benefício desse para a população local permanece até os dias de hoje. Em 1956 ainda não havia luz elétrica em Fátima, por isso, um catavento foi instalado e provavelmente funcionou até 1964, ano da instalação do motor a diesel que gerava energia para a vila.

            A Bomba foi inaugurada oficialmente no dia 4 de outubro de 1960, na cerimônia, que teve discurso lido pela jovem fatimense Vanilda dos Reis, contou com a presença do Padre e de outras autoridades políticas.

 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.


segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Documento importante sobre Fátima.

 

            Dando seguimento ao tedioso trabalho de leitura dos livros de tombo da paróquia de Cícero Dantas, me deparei com um importante registro feito pelo padre Renato Galvão no longínquo ano de 1956.

            Ávido pesquisador da história da paróquia que chefiava, o Padre Renato fez diversas visitas ao instituto histórico e geográfico da Bahia e teve acesso a importante documentação que utilizou para montar um dossiê histórico do município de Cícero Dantas, além de entrevistas e anotações em seus livros de registro.

            Intitulado “Dados históricos das capelas pertencentes à Freguesia de B. Conselho”, o registro faz um apanhado das principais capelas espalhadas pelo município e inventaria também a história de alguns povoados.

            Entre as capelas registradas está a atual Igreja Matriz de Fátima. Se você acompanha o Blog História de Fátima, vai lembrar que o Pesquisador Juan Kléber Menezes e eu estamos há algum tempo em busca de informações acerca de quem construiu a igreja de Fátima.

            Sobre esta, escreve o Padre:

 

Monte Alverne (Fátima)

Em fevereiro de 1935 realizou-se a primeira feira livre “ajuntamento” em torno da casa comercial de certo Justino, hoje comerciante em Serrinha. M. Juvenal Guimarães celebrou ali e fez junto de desobriga. Os seus sucessores continuaram. Em 1940, M. Justiniano fez ali primeira missão dos padres clarentianos – M. Mariano e M. Vitorino. Em 1945 existia a capela sem imagens e semicoberta.

 

            A partir do trecho acima, podemos depreender que a capela já estava erguida – semicoberta, nas palavras do religioso - em 1945, o que ainda nos deixa sem a devida resposta tão procurada. Uma análise mais atenta, especificamente no trecho que cita: “Em fevereiro de 1935 realizou-se a primeira feira livre “ajuntamento” em torno da casa comercial de certo Justino, hoje comerciante em Serrinha” dá a entender que as informações levantadas foram fruto de entrevistas com moradores mais antigos, visto que o fato de citar “Um certo Justino” provavelmente significa que o padre não conheceu o personagem citado (Justino), mas ouviu isso de alguém, naturalmente durante as supostas entrevistas.

            Mais adiante, o vigário cita ainda a construção do Poço Municipal (A Bomba), por iniciativa dele próprio e de um tanque municipal. Sobre esse último, as informações são vagas e não temos como saber o local da construção.

            Outro importante registro nos traz a informação de quando Monte Alverne passou a se chamar Fátima. Sobre isso, escreve:

 

Recebeu o nome de Monte Alverne e na criação do distrito por nossa iniciativa passou a chamar-se Fátima. Foi Feirinha, Monte Alegre, Feira do Mocó, Monte Alverne e hoje, por decreto da criação do município, Fátima.

 

            É possível observar que, de acordo com o Padre Renato, ele próprio sugeriu o nome Fátima e cuidou para que o decreto municipal dessa legitimidade ao novo nome do povoado. Quanto ao ano de tal mudança, as informações também são vagas. O padre escreve o relato acima em 1956, mas não cita o ano da mudança. Cenas dos próximos capítulos.


terça-feira, 5 de outubro de 2021

Há 72 anos, o Padre Renato registrava a festa de São Franciso em Fátima.

 

Foto: Lílian Tavares

No dia 8 de outubro de 1949, o vigário da Paróquia de Cícero Dantas, Renato de Andrade Galvão, fazia o registro no livro de Tombo da igreja da Festa de São Franciso De Assis.

Como se sabe, a festa do padroeiro de Fátima já era comemorada pelos católicos no dia 04 de outubro, dia se São Francisco de Assis. O registro no livro da igreja, contudo, foi feito 4 dias depois, a próprio punho pelo Padre Renato. Na oportunidade escreve o religioso:

 

Festa de São Francisco em Monte Alverne com grande assistência e fervor espiritual. Procissão, missa e bençãos do início ao fim.

 

Os registros, por via de regra, eram suscintos. O livro de tombo é um arquivo elaborado pela igreja a fim de registrar as ações e acontecimentos religiosos locais.

Mesmo sendo curto, o registro do padre nos fornece uma ideia de como eram os festejos de São Francisco em Monte Alverne ainda na primeira metade do século XX. Destaque para a configuração da festa, com procissão e missa, muito similar ao que ocorre ainda hoje.

Quanto à escolha do Padroeiro, a regra da igreja consistia na escolha do santo que representaria a comunidade ainda no momento da criação da freguesia, nesse caso, visto que a data exata da construção da igreja Matriz de Fátima ainda é incerta, podemos afirmar que foi entre os anos de 1940 e 1948 que a primeira capela foi erguida e oferecida à São Francisco De Assis.


Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.