O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Foto incrível da Família Correia.

 

Foto: Acervo pessoal de Marcelo Reis

Recentemente a página Terras do Boqueirão, administrada pelo historiador Marcelo Reis, postou essa icônica fotografia de 1916 mostrando membros da família Correia (linhagem de Cícero Dantas) posando para as lentes enquanto estavam de luto pelo falecimento de um ente querido.

Ocorre que as pessoas na foto têm ligações diretas com Fátima. O casal ao centro, já idoso, é Raimundo Correia e Joana Domitildes e seus filhos e filhas.

Raimundo é um dos filhos de Francisco Correia de Souza, já falecido na época, aparece no quadro ao centro. Um outro filho de Francisco Correia, é Severo Correia de Souza, dona da antiga fazenda Maria Preta.

Ainda na relação de filhos de Francisco Correia, está Pedro Correia de Souza, avô de Correinha. Existe ainda o registro do membro mais antigo da família que chegou em Cícero Dantas por volta de 1820, quando a Vila do Bom Conselho ainda era um pequeno aglomerado em torno da pequena capela erguida pelo Frei Apolônio de Todi em 1813.


quinta-feira, 24 de agosto de 2023

As fazendas do Barão de Jeremoabo na região.

 

Imagem: Antônio Carneiro


            Quando Cícero Dantas Martins, o Barão de Jeremoabo faleceu a 27 de outubro de 1903, deixou em seu inventário 67 fazendas espalhadas pela Bahia e Sergipe. Na antiga região do Bom Conselho, estavam listadas 12 propriedades, das quais, algumas, no atual território que engloba o município de Fátima.

          São elas: Barra do Dadá, Jurema ou Eixú, Cruz, São Domingos, João Barbosa, Tabuleiro, Lage, cansanção, Poço da Onça, Barra, Capitão, Brejo.

          Muitas das propriedades do Barão que passarem aos seus herdeiros conservam ainda hoje o mesmo nome. Dentre as citadas acima, Barra do Dadá, Cruz, Poço da Onça e Brejo, desconheço se ainda permanecem com a mesma nomenclatura e a sua localização. Uma delas, contudo, me é dúbia a interpretação, “Jurema”, como sabemos, é o nome de um dos povoados de Fátima, entretanto, não me sinto seguro em afirmar se tratar da mesma propriedade citada acima.

          Já as fazendas São Domingos, João Barbosa, Tabuleiro e Cansanção conservam o mesmo nome ainda hoje. Exceto Cansanção, que compõem o território do município de Cícero Dantas, as outras três, compõem o atual território de Fátima e foram herdadas por João da Costa Pinto Dantas, filho mais velho do Barão. 

          O São Domingos é, talvez, uma das mais antigas. No registro de terras que consta no APEB, a São Domingos está registra em 1857 em nome de João Dantas dos Reis, pai do Barão, a propriedade provavelmente foi herdade por ele, do seu pai, João Dantas dos Reis Itapicuru, que adquiriu esse território da família Ávila em 1832. João Dantas dos Reis Itapicuru (avô do Barão) foi personagem importante na luta pela independência, criando um exército particular para defender o imperador. Por seus feitos, recebeu do famoso General Labatu a patente de Tenente Coronel do Regimento de Cavalaria de Milícias de Itapicuru, patente confirmada em 16 de fevereiro de 1824. João Dantas Faleceu em 07 de agosto de 1872 e deixou imenso patrimônio para o Barão e seus irmãos.

          Ainda tratando da São Domingos, a fazenda que passou para o Barão foi arrendada por Severo Correia de Souza no final do século XIX. Em 9 de outubro de 1898, Severo escreve ao Barão e entre outros assuntos, trata de uma obra na fazenda, a limpeza da fonte de água da propriedade.

          Em 12 de dezembro de 1949, um processo fronteiriço entre Paripiranga e Cícero Dantas que reivindicavam a posse do território que hoje é Fátima, nos dá mais algumas informações sobre essa mesma fazenda. Neste, Maurício José de Santana, faz o seguinte relato:

 

Eu, Maurício José de Santana, com 70 anos de idade, nascido na fazenda São Domingos, propriedade do Barão de Jeremoabo, Residente na Fazenda Monte Alegre (atual município de Fátima).

 

          A partir dessa afirmação, Maurício José de Santana, nascido em 1879, nos informa ter nascido na propriedade pouco tempo após ela ter passado para o Barão como herança de seu pai.

          O mesmo caso se aplica ao João Barbosa que em 1857 também aparece em nome do pai do Barão que já recebeu a propriedade do seu pai. O João Barbosa também foi adquirida pelo avô do Barão junto à família Ávila em 1832

          Como já referido acima, com o falecimento do Barão em 1903, seu filho mais velho, João da Costa Pinto Dantas passou a ser o proprietário dessas terras. Quando esse faleceu, em 25 de fevereiro de 1940, a São Domingos, o Tabuleiro e o João Barbosa, passaram por herança para dois dos seus filhos, Adelaide e Artur, que aparecem na foto abaixo ao lado dos pais em 1911.

 

Imagem: Álvaro Dantas Jr.

         Foram Adelaide e Artur que venderam esses terenos para fatimenses como Joaquim Borges e Camilo Bento.

          Uma das fazendas do Barão por essa área me intriga pelo nome, é a fazenda Capitão. Esse incômodo, o tenho por saber que vastas áreas de terras que hoje compõem o município de Adustina, também pertenceram à família Dantas, assim como o acidente geográfico conhecido como Serra do Capitão, que foi registrada como fronteira entre Bom Conselho e a província de Sergipe Del Rei no século XIX. Seria essa fazenda que, como vimos, passou às mãos dos Dantas em 1832 a propriedade que deu nome à Serra do Capitão? Difícil dizer.

          Sabe-se, contudo, que a tradição oral afirma que o nome Serra do Capitão, foi adotado a partir da instalação de um suposto capitão do exercido na região. Para mim, entretanto, se o tal capitão realmente existiu, é muito mais provável que tenha sido um integrante da Guarda Nacional, não do exército.

         

Esse texto teve, entre suas referências os seguintes livros:

 

·       O Barão de Jeremoabo e a política do seu tempo – Álvaro Dantas de Carvalho Júnior;

·       Entre Padres e Coronéis – Antônio de Santana Carregosa;

·       Adustina, sua história – Roberto Santos de Santana;

·       Fátima, Traços da sua História – Moisés Reis

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 21 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço e dos livros Fátima: Traços da sua Histórias e O Embaixador da Paz.

 

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terça-feira, 22 de agosto de 2023

O que o Barão de Jeremoabo pensava da república e da Lei Áurea?

 


          A resposta para essa pergunta passa por entender a mente de um político conservador que foi súdito de Pedro II e passou, como liderança de projeção nacional, pelas mudanças do final do século XIX, inclusive a proclamação da república, como veremos.

          Cícero Dantas Martins, o Barão de Jeremoabo, hoje repousa no altar da igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho, em Cícero Dantas. Em vida, foi criado em uma família de enorme influência e riqueza e como filho da aristocracia, permeou o caminho do conservadorismo e da manutenção dos privilégios da sua própria classe social.

          Com consciência de classe, se dedicou às pautas fisiológicas, posicionando-se contra mudanças estruturais que pudessem abalar o tecido social do Brasil que habitava. Assim, foi contra a abolição da escravatura, por ter nascido e crescido sob os cuidados dos negros da sua família e não conseguia, a exemplo dos seus pares, enxergar o trabalho braçal sem a presença dos escravizados.

          Sua posição de ressentido com a monarquia, era o reflexo do “prejuízo” que julgava ter assumido quando viu os afrodescendentes serem libertos e, igualmente, viu-se obrigado a contratar assalariados para os serviços em suas inúmeras fazendas.

          Em conversa com um de seus grandes amigos, José Gonçalves da Silva[1] demonstrou a sua insatisfação com a família real por ter permitido a assinatura da Lei Áurea:

 

Isto não é governo. A república vai ganhando terreno diariamente e a monarquia pagará não muito tarde os erros do governo pessoal. Devo dizer-te que com a monarquia não há possibilidade de reforma séria, os costumes estão corrompidos e pervertidos... as lágrimas que a princesa fez derramar com a lei 13 de maio curtiu-as em um ano, seis meses e dois dias. (apud. Carvalho Júnior 2006).

 

          A classe política da época já previa que o regime monárquico já havia deitado em seu leito de morte, mas o que eles temiam eram mudanças bruscas que causassem movimentação popular e abalassem seus privilégios. Em carta ao mesmo destinatário, afirma:   "A mudança de governo não me surpreendeu e nem te devia também; a surpresa foi a presteza e o modo porque se efetuou” (apud. Carvalho Júnior 2006).

 

O barão foi cauteloso quanto à mudança de regime, mas tratou de se adequar aos novos tempos assim que os militares deram o golpe que resultou na derrubada da monarquia e a instauração da república em 1889, apenas alguns meses após os escravizados serem libertados, o que leva muitos estudiosos hoje a classificar o fim da escravidão como o último prego no caixão do regime monárquico.

 

 

Político baiano, nascido em 1938 em Mata de São João, formado em direito foi líder político em senhor do Bomfim. Filiado ainda nos tempos do império ao partido conservador, foi deputado provincial, na república foi governador da Bahia, faleceu em 1912

 

Esse texto foi produzido a partir das abordagens levantadas por Álvaro Pinto de Carvalho Júnior, em seu livro: O Barão de Jeremoabo e a Política do seu tempo.  



[1] Político baiano, nascido em 1938 em Mata de São João, formado em direito foi líder político em senhor do Bomfim. Filiado ainda nos tempos do império ao partido conservador, foi deputado provincial, na república foi governador da Bahia, faleceu em 1912

 


quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Os desdobramentos da independência do Brasil na região

 


    

        Conforme já abordado aqui no Blog em outras ocasiões, a família Dantas, estirpe do Barão de Jeremoabo, sucedeu a linhagem de Garcia D’Ávila no sertão baiano.  Sob a tutela de João Dantas, avô do Barão, as terras que hoje compreendem boa parte dos municípios do semiárido Nordeste II e outros, passaram a pertencer aos Dantas e, em consequência disso, a família detinha o poder político local.

          Ocorre que, em 1821, começa a estourar os movimentos favoráveis a independência do Brasil em relação à Portugal. Tais movimentações políticas, tiveram dinâmicas diferentes nas diversas províncias do enorme território brasileiro.

          Na Bahia, por exemplo, houve forte resistência de grupos portugueses que não aceitavam a independência, assim como em Sergipe.

          De Itapicuru-Ba, João Dantas decide insurgir em apoio ao grupo pró-independência, os chamados patriotas. Assim, em 1821 ele e seus filhos (um deles João Dantas Júnior, pai do Barão) formou no engenho Camurciatá um quartel general a juntar tropas em apoio ao movimento de independência. De lá, doente, escreve ao famoso General Labatut que se encontrava nas proximidades do município de Lagarto, Sergipe, para ter notícias dos conflitos enfrentados por Labatut para derrotar as tropas leais aos portugueses.

          Na província de Sergipe, haviam muitos grupos contra a independência e Labatut encontrava resistência em seu avanço. Em virtude disse, João Dantas, com uma junta de 2 mil homens, segue para a província vizinha a fim de garantir a aclamação de D. Pedro I como defensor perpétuo do Brasil, marchando pelos municípios de Lagarto, Estância, Santa Luzia e São Cristóvão.

          A sede da fazenda Carita, nos arredores de Jeremoabo (onde nasceria o Barão anos mais tarde) também foi utilizada como quartel general onde tropas e cidadãos comuns se juntavam em apoio ao projeto de independência do Brasil. De lá, os correligionários dos Dantas gritaram em favor da independência assim que o processo foi confirmado em terras baianas a 2 de julho de 1823.

 

Fazenda Caritá (Jeremoabo) - Aspecto atual.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

 

 

CARVALHO JÚNIOR, Álvaro Pinto Dantas de: O barão de Jeremoabo e a política do seu tempo, a trajetória de um líder conservador na Bahia. Salvador, secretaria da cultura e turismo, 2006.

 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 21 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço e dos livros Fátima: Traços da sua Histórias e O Embaixador da Paz.

 

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segunda-feira, 14 de agosto de 2023

O povoamento do atual município de Fátima.

 


    

 

Moisés Reis

 

Resumo:

O presente trabalho busca discorrer sobre a dinâmica de povoamento da área fronteiriça entre a Bahia e Sergipe com informações colhidas a partir de documentação primária. Aqui buscamos demonstrar que, ao contrário do que se acreditava, a região já tinha uma ocupação significativa durante boa parte do século XIX.

 

Poucos estudos até o presente momento se debruçaram sobre a chegada dos primeiros homens brancos a acessarem a área que hoje é chamada de Semiárido Nordeste II, no Estado da Bahia. Dessa forma, as informações que o pesquisador interessado nessa temática encontra são igualmente escassas, sobretudo na literatura especializada. 

            Alguns estudos, contudo, podem servir de base em um esforço de se chegar ao entendimento nesse assunto. Um deles é, sem dúvidas, a obra Entre Padres e Coronéis: Como as disputas oligárquicas deram forma ao município de Paripiranga, do sociólogo paripiranguense Antônio Carregosa, lançado em 2019. Outro estudo nesse sentido e que propõem uma visão acerca dessa ocupação é Fátima, Traços da sua História, de Moisés Reis, lançado em 2022.

            No universo além das duas obras acima citas, temos diversas obras memorialistas, como Reminiscências do Bom Conselho, de Gildo Dantas de Souza, lançado em 2008, Fátima, Nossa Terra Nossa Gente de Edna Borges, lançado em 2009, além de obras que, por ter outros focos e recortes de pesquisas, tratam do objeto de estudo que aqui colocamos em questão, de forma indireta.

            Um ponto de convergência entre as obras acima citadas, é a ideia de que núcleos de povoamento como a atual sede do município de Paripiranga, antiga Patrocínio do Coité e do atual município de Cícero Dantas, antiga Bom Conselho e demais cidade antigas como Jeremoabo, Tucano e outras já têm registrada a presença de não indígenas desde princípios do século XIX, no caso de Jeremoabo especificamente, do século XVII.

            Essas pesquisas, contudo, deixam de abordar, ou o fazem de forma superficial, as áreas vicinais, as fazendolas e pequenos pontos de passagem da estrada real ao longo do percurso nos rincões dessa área sertaneja.

            Para ser mais específico, eu me dedicarei no presente esforço, a tratar do mesmo processo de ocupação, voltado ao município de Bom Conselho e para ser mais específico ainda, tratarei aqui, da área territorial que hoje pertence ao município de Fátima, desmembrado de Cícero Dantas pela lei estadual n.º 4413, de 01-04-1985.

            O município de Cícero Dantas, tinha, na data da sua elevação a tal posto, a configuração observada na figura 1 e foi, ao longo dos anos, sendo desmembrado em municípios menores, conforme se observa na figura 2:

 

Figura 1: Município de Cícero Dantas, Bahia, 1875.


 

 

Figura 2: Município de Cícero Dantas, desmembrado.



           

Reis (2022), ao tratar da ocupação da zona pertencente atualmente à Fátima,  afirma que tal processo deu-se, nessa zona fronteiriça entre Bahia e Sergipe, mais tardiamente, para ele, a área compreendida por toda a extensão do município, foi ocupada por fazendolas antigas como a Maria Preta e outras unidade agrícolas espalhadas por toda a atual municipalidade ao longo da segunda metade do século XIX e que a atual área da sede do município esteve desabitada até a década de 1920, conforme se vê no trecho abaixo:

O atual território da sede do município de Fátima era dividido basicamente por duas fazendas, a Fazenda Boa Vista, que seria adquirida mais tarde (anos 1920) por Ângelo, e a fazenda Maria Preta, de Propriedade do Severo Correia de Souza. (Reis, 2022. P. 51).

 

Antes de avaliarmos a afirmação, é preciso que se diga que, após o lançamento da referida obra, novos dados foram descobertos, sobretudo a partir de documentação primária, o que mudou substancialmente esse entendimento.

Em estudos recentes, novas evidencias nos mostram que a ideia de que a atual zona urbana do município de Fátima só foi ocupada de forma efetiva a partir dos anos 1920 está equivocada e algumas evidências que serão apreciadas agora, nos ajudam a sustentar essa assertiva, a primeira delas, um processo crime, resultante de um homicídio praticado em 1919 na atual rua João Lucino, nas imediações da praça primordial do mesmo município, a Praça Ângelo Lagoa.

Era uma tarde de 18 de dezembro de 1919 quando tiros são ouvidos no local que, à época, era conhecido como “Baixa do Coelho”. Estava sendo consumado naquele momento, um crime de vingança contra João Lucindo de Souza. Os agressores, pelo menos nove homens que moravam em áreas adjacentes, cumpriam uma trama iniciada meses antes que tinha como enredo um defloramento de uma sobrinha da vítima, acompanhado por uma agressão seguida de castração como vingança do defloramento. O assassinato, como dito, fechava esse ciclo macabro e dava início ao processo-crime que nos revelou preciosos dados acerca da ocupação do que hoje é a sede de Fátima.

Seguindo o progresso corriqueiro do processo, após o indiciamento dos acusados e temas preliminares, a promotoria arrola as testemunhas e seus depoimentos são a nossa principal fonte nesse momento.

Antes de ingressar nos depoimentos propriamente ditos, uma digressão é necessária a fim de registrar que, se já havia, em 1919, uma sociedade formada na área, com laços familiares e de amizade consistentes ao ponto de ser tramado tal ato vingança, significa que aquelas pessoas já habitavam aquela região e conviviam em comunidade há alguns anos. Os dados que analisaremos abaixo nos ajudam a sustentar essa hipótese.

Entre os depoimentos dados na época, está o de uma moradora vizinha ao local do crime que reporta ter socorrido a viúva de João Lucindo que viajava com ele e que, por pouco, não foi também assassinado junto com o marido. Vejamos o relato:

 

Theodora Maria das Virgens, 31 anos, nascida em 1891, casada, moradora da laje. Perguntada sobre os fatos, disse que estava em casa, quando ouviu o barulho dos tiros e uma mulher gritando por socorro (trecho ilegível) um grupo de homens armados que lhe disse: vai olhar para João Lucindo que está de pernas para cima ali na estrada morto para servir de testemunha? E chegando no lugar onde estava a vítima, encontrou a viúva, estando como morto João Lucindo. Viu uma turma de homens armados, não sabendo as armas (trecho ilegível) umas espingardas e outros – Respondeu não saber quem mandasse praticar o crime – respondeu que estima os acusados como amigos, mas que ultimamente tiveram uma rusga e ficaram inimigos, não sabendo exatamente a razão – respondeu que a vítima tinha por procedimento trabalhar muito.

 

Eis aqui um relato consistente de alguém nascido na atual zona urbana do município no final do século XIX, um documento confeccionado sub juramento e com pouca margem para falsificações.

Mas essa não é a única evidência, no mesmo processo, temos outros depoimentos que servem ao mesmo propósito. Pedro Félix de Oliveira, 30 anos na época, nascido em 1892, na Laje da Boa vista é mais um depoente do caso, nascido nos arredores da atual sede do município.

No mesmo processo, dois dos acusados eram moradores da fazenda pedrinhas, zona rural de Fátima, e são também prova da ocupação dessa área ainda no século XIX.  Os irmãos são João Porfírio dos Reis, na época com 32 anos e Joaquim Francisco dos Reis, na oportunidade com 44 anos. Ambos, filhos de Manoel Felipe dos Reis.

            No documento acima citado, os irmãos afirmam ser naturais das Pedrinhas, mas não reportam se o seu pai ali nasceu ou não. Tomando como base a idade do mais velho, Joaquim, é possível depreender que este nasceu 1878, na propriedade mantida pela família onde hoje é a comunidade das Pedrinhas.

Um outro documento de suma importância para fundamentar a tese do povoamento antigo de Fátima é um inventário confeccionado a 17 de julho de 1942. O documento arrola os bens da falecida Porfíria Maria de Jesus, esposa de Ângelo José de Souza, o fundador da cidade. Ângelo, que contava na época com 74 anos de idade, assina o inventário que traz a lista dos filhos do casal, são quinze filhos, nove dos quais, nascidos na atual praça que leva o nome do fundador, ainda no século XIX.

Talvez o exemplo mais eloquente desse povoamento é Severo Coreia de Souza, fazendeiro dono da Maria Preta, uma fazenda que criava gado e dispunha de mão de obra escrava. As terras de Severo, membro da poderosa família Correia, se localizavam onde hoje é o bairro do Pisa Macio. Existem informações consistentes sobre Severo e a Maria Preta. Talvez a coletânea de documentos primários que nos fornece mais dados é o acervo do Museu do Nordeste, em Itapicuru, Bahia.

O museu que funciona no antigo solar erguido por Cícero Dantas Martins, o Barão de Jeremoabo em 1894 guarda grande acervo de documentos antigos guardados pela família Dantas. Entre a documentação lá armazenada está o caderno de notas do Barão, onde ele fez anotações de nascimento, casamentos e falecimentos de amigos e parentes. Por intermédio dessa documentação e do livro Cartas para o Barão de Consuelo Novais, descobri que Severo Correia de Souza era tenente da guarda nacional e que se correspondia com frequência com o Barão de Jeremoabo. Em uma das cartas enviada por severo ao Barão, tratam de questões de terras e negócios, a missiva, inclusive, foi publicada no livro acima citado.

            Através dos dados colhidos do enorme acervo deixado pela Barão, descobrimos que Severo se casou no dia 30 de setembro de 1861 com Líbia, da qual o sobrenome desconhecemos. Líbia não tinha completado ainda os 12 anos quando se casou pois, sua data de nascimento é 11 de dezembro de 1849. O casal teve dois filhos, João Severo de Souza, nascido em 14 de julho de 1869 e Francisca de Souza, nascida em 21 de setembro de 1890.

            Severo, que era amigo do Barão, se correspondia com o fidalgo por carta. Uma dessas correspondências faz parte do acervo Corpus Eletrônico Documentos do Sertão, mantido pela Universidade de Feira de Santana. A carta, escrita por Severo é datada de 1898. Segue a transcrição:

 

Maria Preta 9 de outubro de 98

Excelentíssimo Sr. Barão de Geremoabo As pressas lhe escrevo para ver se axo quem va para o Bom Conselho, Fui ao Jose Luís logo que recebi sua carta e com elle conversei sobre o Felis, antes disto fui ao velho Borges para ver se o Felis tirava o gado e elle Borges nada podendo arranjar e diz o Felis que absolutamente não tira o gado o velho pediu muito, porém, não foi atendido, depois, o Virge e este disse-me que não se metia nisto que o Felis dissse ao Jose Deziderio vaqueiro de São Domingos que quem botasse cachorro no gado delle que malava tanto lhe aparecesse de chumbo, estão os vaqueiros todos temorizados dizem que não brigão e disse-me o Varge que assim disse Raimundo é um segundo Conselheiro. Sobre o retiro que não retirao por hora por que tem dado umas chuvinha vamos ver em que fica para então determinár. A poucos dias lhe escrevei sobre meo negócio e hoje nada tenho a dizer que não tenho ainda resposta do vigario. Estou tirando a lama de S. Domingo a toda preça e orror lugares de 9 palmos e lugares de 8. hoje fui la ver o serviço, tenho estado muito doente de antrazes, parece-me sarna, estou em remédios. Adeus, muitas visitas a todos. De seo amigo grato muito obrigado. Severo Correia de Souza. Não vi o cavallo do Jose Neves, porque está em Simão Dias por esta semana o Jose vai buscar para ver se negocio.

           

A análise cuidadosa da carta nos revela que a comunidade no entorno da Maria Preta, a fazenda de Severo, já tinha um dinamismo em fins do período oitocentista. Já haviam intrigas entre vizinhos, questões de terras a serem resolvidos e os laços de amizade ou inimizades das muitas pessoas citadas no texto. É conhecido o fato de Severo ser filho de Francisco Correia de Souza, renomado proprietário rural na vila do Bom Conselho. Francisco deixou muitos filhos e um imenso patrimônio, conforme consta em seu inventário, confeccionado em 1884, ano da sua morte. Ao que parece, coube a Severo, no âmbito dos espólios do patrimônio do pai, a fazenda Maria Preta.

Outro dado importante é o caso de Manoel Lins Barreto, morador da fazenda São Domingos, hoje um povoado de mesmo nome pertencente ao município de Fátima. Manoel era vaqueiro da família Dantas, o São Domingos, inclusive, era uma das propriedades da família. Manoel Nasceu em 20 de setembro de 1800 e faleceu em 11 de fevereiro de 1884. A sua linha do tempo nos dá uma ideia do quão antiga é aquela fazenda. Em 1857 ela está registrada em nome de João Dantas dos Reis.

 Os exemplos aqui citados, nos ajudam a compreender a dinâmica do povoamento da região de Fátima enquanto sede do município e dos povoados vizinhos. É essa uma história que se conecta com a maior parte dos municípios da área do estado da Bahia conhecida como Semiárido Nordeste II, uma zona cujos núcleos de povoamento iniciais se formaram no entorno da cultura do gado vacum, ocupação iniciada pela família Ávila e posteriormente assumida e levada a cabo pela família Dantas.

 

 

Referências:

Arquivo Público do Estado da Bahia – Fundação Pedro Calmon.

CARCAVALHO JÚNIOR, Álvaro pinto Dantas de. O Barão de Jeremoabo e a política do seu tempo. A trajetória de um líder conservador na Bahia. Salvador, Secretaria de Cultura e Turismo, 2006.

CARREGOSA, Antônio Santana. Entre Padres e Coronéis: Como as disputas oligárquicas deram forma ao município de Paripiranga. Aracaju, Infographics, 2019.

BORGES, Edna. Fátima, Nossa Terra, Nossa Gente. Autor autônomo, 2009.

SAMPAIO, Consuelo N. Canudos: Cartas para o Barão. São Paulo: Edusp, 2001.

REIS, Moisés. Fátima, traços da sua história. Aracaju, Inforgraphics, 2022.

SOUZA, Gildo D. de. Reminiscências de Bom Conselho. Cícero Dantas: PAGE, 2008.

 

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

Quem eram os capuchinhos das entregas de 1938?

 

Foto: Acervo pessoal de Robério Santos.

            A foto icônica que mostra o Monsenhor José de Magalhães e Souza, frades capuchinhos, militares e cangaceiros em Jeremoabo no ano de 1938, é parte do Arquivo histórico Nossa Senhora da Piedade, em Salvador, sob a responsabilidade do Frei Ulisses Pinto Bandeira.

          A ordem dos Capuchinhos, que tem esse nome em alusão ao pequeno capuz incorporado à túnica vestida pelos religiosos, chegou ao Brasil em 1612. Era um grupo composto por frades franceses que desembarcam no Maranhão para uma curta estadia.

          Na Bahia, os capuchinhos desembarcam em 1670, no porto de Salvador, vindos da África onde estavam em missão religiosa. Ainda na Bahia, os missionários receberam a missão de catequizar os Cariris no sertão. Na zona sertaneja entre a Bahia e Sergipe, realizaram diversas obras, as mais famosas foram a igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho e o santuário de Monte Santo, obras creditadas ao Frei Apolônio de Todi.

          O estado da Bahia era considerado de distribuição dos capuchinhos para missões religiosas na África, por essa razão, foi erguido em Salvador o Hospício da Piedade como um local de acolhimento dos frades para a recuperação dos mesmos em intervalos de missões.

          A partir de 1705, os capuchinhos são impedidos de ampliar suas atividades no Brasil, sob a alegação de que já haviam por aqui missionários suficientes para as funções da ordem. Esse impedimento só foi revogado graças a influência da família Ávila, poderosa linhagem de Garcia D´Ávila que detinham quase todas as terras do sertão baiano, substituídos, enquanto donatários dessa região, apenas pela família Dantas em princípios do século XIX.

          Os capuchinhos se espalharam por todo o sertão, com influência e prestígio em todos os seguimentos da sociedade, chegaram a visitar Canudos em guerra, numa tentativa de missão de paz entre os anos de 1896 e 1897.

          Outra missão de paz que teve o auxílio dos capuchinhos foi o processo de entregas de cangaceiros de 1938, em Jeremoabo-Ba. A foto referida no início desse texto, é um dos documentos que atestam isso, contudo, as evidencia mais concisas dessa participação estão nos registros da igreja de Jeremoabo, transcritos para o livro O EMBAIXADOR DA PAZ lançado em julho de 2023 pela editora Oxente.

          No texto, o Padre José de Magalhães faz eloquentes elogios aos Freis Agostinho e Francisco Urbania, frades capuchinhos que auxiliaram o vigário no trabalho de convencimento e de acolhimento dos ariscos cangaceiros que se puseram a se render após a morte de Lampião em 28 de julho de 1938.

          Frei Agostinho de Loro Piceno nasceu na Itália, na cidade que lhe empresta o nome (Loro Piceno) em 09 de janeiro de 1881, entrou para a ordem em 31 de maio de 1897 e foi ordenado em 26 de junho de 1903, chegou ao Brasil em 01 de outubro de 1908.


     Conhecido como pela irretocável oratória, possuía uma voz imponente, a despeito do tipo físico franzino de aparência frágil. Era preferido pelos vigários interioranos por se expressar muito bem e cativar os ouvintes. Foi provavelmente a ele que o Padre Magalhães se referiu ao falar da “ótima pregação” feita aos cangaceiros entregues em Jeremoabo.

          Faleceu em 10 de maio de 1949, aos 68 anos de idade após ter prestado seus serviços por 41 anos no Brasil.



        O Frei Francisco de Urbania nasceu em 24 de junho de 1877, entrou para a ordem em 11 de fevereiro de 1898 e tornou-se sacerdote em 15 de março de 1902, para chegar ao Brasil dois anos depois, em 1905.




    Aprendeu o português para viajar, pois a ordem exigia que os jovens frades, recém-chegados ao Brasil, só se comunicassem em português. Percorreu, além da Bahia, os estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Piauí e Goiás. Em 1947, foi chamado de volta à Itália após 40 anos, vindo a falecer em 1961 aos 84 anos.

          De acordo com Frei Ulisses, os capuchinhos encontram-se atualmente ausentes do sertão baiano por mudanças no modus operandi da própria igreja católica. De acordo com o Frei, os bispos seculares não convidam mais os capuchinhos para missões como o faziam no passado, talvez pela atual estrutura da igreja em todas as cidades da região. Para Frei Ulisses, uma outra razão é o atual formato das missões, muito mais voltada a questões pastorais, com pouca pauta de ações sociais.

         

ESSE TEXTO TEVE a valiosa colaboração do Frei Ulisses Pinto Bandeira, Guardião do acervo histórico dos Capuchinhos em Salvador. Todas as fotos, inclusive, foram enviadas por ele.















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quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Comunidade de Pedrinhas, Fátima-Ba.

 


       O pequeno aglomerado de casas denominado Pedrinhas, é um dos povoados pertencentes ao município de Fátima que não parece ter se originado (como boa parte dos demais) de uma antiga fazenda. Isso porque, nos processos de terras do município gerados a partir da Lei de Terras de 1850, não consta essa denominação. Mas o povoamento daquela área é antigo, datado de, no mínimo, 1870.

          Essa afirmação tem como base um processo crime respondido por dois irmãos em 1922. São eles João Porfírio dos Reis, na época com 32 anos e Joaquim Francisco dos Reis, na oportunidade com 44 anos. Ambos filhos de Manoel Felipe dos Reis.

          No documento acima citado, os irmãos afirmam ser naturais das Pedrinhas, mas não reportam se o seu pai ali nasceu ou não. Tomando como base a idade do mais velho, Joaquim, é possível depreender que este nasceu 1878, na propriedade mantida pela família onde hoje é a comunidade das Pedrinhas.

          Dito isso, é preciso que se diga que Pedrinhas é muito mais do que a pequena zona do aglomerado de casas que existe hoje, uma área bem maior que se estende até as proximidades da Lagoa Dourada, Cutia e Surjoa também tem a mesma denominação.

          De toda sorte, esse documento vem nos confirmar que o povoamento de Fátima e seus povoados é bem mais antigo do que se imaginava. Hoje, já é possível afirmar com certeza que já havia uma comunidade formada aqui, habitada por nossos ancestrais, já na segunda metade dos anos 1800.


terça-feira, 1 de agosto de 2023

Quem foi Ângelo Lagoa? (Parte 2).

 

Em dezembro de 2021, eu postei aqui no Blog Histórias do Sertão, um texto que tratava da personalidade considerada como o fundador da cidade da Fátima. Na oportunidade, com a ajuda do pesquisador Juan Kléber Menezes, juntei tudo o que se sabia sobre Ângelo Lagoa a partir dos relatos orais que ficaram guardados na memória do povo fatimense.

Na época, sabia-se que seu nome de batismo é Ângelo José de Souza, que teria nascido em algum lugar próximo à fronteira com Heliópolis e que a sua esposa se chamava Porfiria. Foi exatamente através Porfiria Maria de Jesus (esse é o seu nome de batismo) que conseguimos mais informações acerca de Ângelo Lagoa.

Em pesquisa recente junto à documentação de posse do Arquivo público da Bahia, pude ter acesso ao inventário de Porfiria e acessar informações interessantes. Ela faleceu antes do marido, a 17 de junho de 1942. Na época, o inventário foi feito por Ângelo, que contava com 74 anos de idade (A data de falecimento de Ângelo é estimada em meados dos anos 1950).

Essa é a primeira informação importante a nos revelar dados desconhecidos até hoje, isto é, se ele tinha 74 anos em 1942, entende-se que o ano de nascimento foi 1868, evidenciando o quanto a colonização dessa região é antiga.

Os bens de Porfiria foram detalhadamente relacionados no processo, até mesmo a mobilha. O total do seu patrimônio, entre casas, terras e gado, contabilizou oito contos e dez mil réis, o que, de acordo com o conversor de Réis para Reais, daria um valor de aproximadamente 20 mil reais em valores atuais.

A lista de herdeiros, certamente, impressiona mais que a dos bens. Além do esposo, Porfiria deixou 15 filhos, relacionados abaixo por idade:

 

1-    Josefa Maria de Jesus – 54 anos;

2-    Antônio Virgílio de Sousa – 53 anos;

3-    Maria de Sousa Pires – 52 anos;

4-    Petronila Maria de Jesus – 50 anos;

5-    Emília de Souza Reis 48 anos 48 anos;

6-    Francisco Virgilio de Sousa – 47 anos;

7-    João de Souza Sobrinho – 46 anos;

8-    Joana de Sousa Trindade – 45 anos;

9-    Manoel Virgílio de Sousa – 44 anos;

10- Josefa Maria de Jesus – 42 anos;

11- Josefa Benigna de Souza – 41 anos;

12- José Virgílio de Souza – 40 anos;

13- Dautro Virgílio de Souza – 39 anos;

14- Sabrina Enedina de Souza – 38 anos;

15- Maria Soledade Campos – 36 anos;

 

A surpresa aqui está por conta do nome e idade da minha bisavó, que dá nome à creche Emília Maria. De acordo com o inventário, seu nome era Emília de Souza Reis, casada com Manoel Reis do Nascimento. Ela tinha 48 anos na época, nascida, portanto, em 1894. Sua dada de nascimento era desconhecida, quanto ao nome, é possível que tenha sido grafado de forma incorreta no inventário, contudo, seu nome aparece mais de uma vez, grafado dessa forma, Emília de Souza Reis, sem o “Maria”.

Ainda haviam os netos herdeiros, filhos de Ana Maria de Andrade, que havia falecido antes da mãe. Eram esses:

 

1-    Manoel de Souza Andrade – 19 anos;

2-    José de Souza Andrade – 18 anos;

3-    Maria de Souza Andrade – 16 anos.

 

Um outro documento de posse do APEB que nos ajudou muito nessa história foi o processo do assassinato de João Lucindo, ocorrido em 18 de dezembro de 1919. A análise desse processo nos revelou que Ângelo Lagoa chegou à fazenda Boa Vista, onde hoje é a Praça Ângelo Lagoa, por volta do ano 1885, pelo menos 30 anos antes do que se acreditava.

Porfiria era da família dos “Canoas”, muito numerosa na cidade, sobretudo na região da Surjoa, área já povoado por volta dos anos 1850. Na construção que foi a primeira casa da cidade, o casal concebeu sua numerosa família que hoje se enraíza por boa parte dos fatimenses contemporâneos.