O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

terça-feira, 22 de agosto de 2023

O que o Barão de Jeremoabo pensava da república e da Lei Áurea?

 


          A resposta para essa pergunta passa por entender a mente de um político conservador que foi súdito de Pedro II e passou, como liderança de projeção nacional, pelas mudanças do final do século XIX, inclusive a proclamação da república, como veremos.

          Cícero Dantas Martins, o Barão de Jeremoabo, hoje repousa no altar da igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho, em Cícero Dantas. Em vida, foi criado em uma família de enorme influência e riqueza e como filho da aristocracia, permeou o caminho do conservadorismo e da manutenção dos privilégios da sua própria classe social.

          Com consciência de classe, se dedicou às pautas fisiológicas, posicionando-se contra mudanças estruturais que pudessem abalar o tecido social do Brasil que habitava. Assim, foi contra a abolição da escravatura, por ter nascido e crescido sob os cuidados dos negros da sua família e não conseguia, a exemplo dos seus pares, enxergar o trabalho braçal sem a presença dos escravizados.

          Sua posição de ressentido com a monarquia, era o reflexo do “prejuízo” que julgava ter assumido quando viu os afrodescendentes serem libertos e, igualmente, viu-se obrigado a contratar assalariados para os serviços em suas inúmeras fazendas.

          Em conversa com um de seus grandes amigos, José Gonçalves da Silva[1] demonstrou a sua insatisfação com a família real por ter permitido a assinatura da Lei Áurea:

 

Isto não é governo. A república vai ganhando terreno diariamente e a monarquia pagará não muito tarde os erros do governo pessoal. Devo dizer-te que com a monarquia não há possibilidade de reforma séria, os costumes estão corrompidos e pervertidos... as lágrimas que a princesa fez derramar com a lei 13 de maio curtiu-as em um ano, seis meses e dois dias. (apud. Carvalho Júnior 2006).

 

          A classe política da época já previa que o regime monárquico já havia deitado em seu leito de morte, mas o que eles temiam eram mudanças bruscas que causassem movimentação popular e abalassem seus privilégios. Em carta ao mesmo destinatário, afirma:   "A mudança de governo não me surpreendeu e nem te devia também; a surpresa foi a presteza e o modo porque se efetuou” (apud. Carvalho Júnior 2006).

 

O barão foi cauteloso quanto à mudança de regime, mas tratou de se adequar aos novos tempos assim que os militares deram o golpe que resultou na derrubada da monarquia e a instauração da república em 1889, apenas alguns meses após os escravizados serem libertados, o que leva muitos estudiosos hoje a classificar o fim da escravidão como o último prego no caixão do regime monárquico.

 

 

Político baiano, nascido em 1938 em Mata de São João, formado em direito foi líder político em senhor do Bomfim. Filiado ainda nos tempos do império ao partido conservador, foi deputado provincial, na república foi governador da Bahia, faleceu em 1912

 

Esse texto foi produzido a partir das abordagens levantadas por Álvaro Pinto de Carvalho Júnior, em seu livro: O Barão de Jeremoabo e a Política do seu tempo.  



[1] Político baiano, nascido em 1938 em Mata de São João, formado em direito foi líder político em senhor do Bomfim. Filiado ainda nos tempos do império ao partido conservador, foi deputado provincial, na república foi governador da Bahia, faleceu em 1912

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário