O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Quem foi Ângelo Lagoa? (Parte 2).

 

Em dezembro de 2021, eu postei aqui no Blog Histórias do Sertão, um texto que tratava da personalidade considerada como o fundador da cidade da Fátima. Na oportunidade, com a ajuda do pesquisador Juan Kléber Menezes, juntei tudo o que se sabia sobre Ângelo Lagoa a partir dos relatos orais que ficaram guardados na memória do povo fatimense.

Na época, sabia-se que seu nome de batismo é Ângelo José de Souza, que teria nascido em algum lugar próximo à fronteira com Heliópolis e que a sua esposa se chamava Porfiria. Foi exatamente através Porfiria Maria de Jesus (esse é o seu nome de batismo) que conseguimos mais informações acerca de Ângelo Lagoa.

Em pesquisa recente junto à documentação de posse do Arquivo público da Bahia, pude ter acesso ao inventário de Porfiria e acessar informações interessantes. Ela faleceu antes do marido, a 17 de junho de 1942. Na época, o inventário foi feito por Ângelo, que contava com 74 anos de idade (A data de falecimento de Ângelo é estimada em meados dos anos 1950).

Essa é a primeira informação importante a nos revelar dados desconhecidos até hoje, isto é, se ele tinha 74 anos em 1942, entende-se que o ano de nascimento foi 1868, evidenciando o quanto a colonização dessa região é antiga.

Os bens de Porfiria foram detalhadamente relacionados no processo, até mesmo a mobilha. O total do seu patrimônio, entre casas, terras e gado, contabilizou oito contos e dez mil réis, o que, de acordo com o conversor de Réis para Reais, daria um valor de aproximadamente 20 mil reais em valores atuais.

A lista de herdeiros, certamente, impressiona mais que a dos bens. Além do esposo, Porfiria deixou 15 filhos, relacionados abaixo por idade:

 

1-    Josefa Maria de Jesus – 54 anos;

2-    Antônio Virgílio de Sousa – 53 anos;

3-    Maria de Sousa Pires – 52 anos;

4-    Petronila Maria de Jesus – 50 anos;

5-    Emília de Souza Reis 48 anos 48 anos;

6-    Francisco Virgilio de Sousa – 47 anos;

7-    João de Souza Sobrinho – 46 anos;

8-    Joana de Sousa Trindade – 45 anos;

9-    Manoel Virgílio de Sousa – 44 anos;

10- Josefa Maria de Jesus – 42 anos;

11- Josefa Benigna de Souza – 41 anos;

12- José Virgílio de Souza – 40 anos;

13- Dautro Virgílio de Souza – 39 anos;

14- Sabrina Enedina de Souza – 38 anos;

15- Maria Soledade Campos – 36 anos;

 

A surpresa aqui está por conta do nome e idade da minha bisavó, que dá nome à creche Emília Maria. De acordo com o inventário, seu nome era Emília de Souza Reis, casada com Manoel Reis do Nascimento. Ela tinha 48 anos na época, nascida, portanto, em 1894. Sua dada de nascimento era desconhecida, quanto ao nome, é possível que tenha sido grafado de forma incorreta no inventário, contudo, seu nome aparece mais de uma vez, grafado dessa forma, Emília de Souza Reis, sem o “Maria”.

Ainda haviam os netos herdeiros, filhos de Ana Maria de Andrade, que havia falecido antes da mãe. Eram esses:

 

1-    Manoel de Souza Andrade – 19 anos;

2-    José de Souza Andrade – 18 anos;

3-    Maria de Souza Andrade – 16 anos.

 

Um outro documento de posse do APEB que nos ajudou muito nessa história foi o processo do assassinato de João Lucindo, ocorrido em 18 de dezembro de 1919. A análise desse processo nos revelou que Ângelo Lagoa chegou à fazenda Boa Vista, onde hoje é a Praça Ângelo Lagoa, por volta do ano 1885, pelo menos 30 anos antes do que se acreditava.

Porfiria era da família dos “Canoas”, muito numerosa na cidade, sobretudo na região da Surjoa, área já povoado por volta dos anos 1850. Na construção que foi a primeira casa da cidade, o casal concebeu sua numerosa família que hoje se enraíza por boa parte dos fatimenses contemporâneos.


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