Foto: Acervo pessoal de Robério Santos. |
A foto icônica que mostra o
Monsenhor José de Magalhães e Souza, frades capuchinhos, militares e cangaceiros
em Jeremoabo no ano de 1938, é parte do Arquivo histórico Nossa Senhora da Piedade, em Salvador, sob a responsabilidade do Frei Ulisses Pinto Bandeira.
A ordem dos Capuchinhos, que tem esse nome em alusão ao
pequeno capuz incorporado à túnica vestida pelos religiosos, chegou ao Brasil
em 1612. Era um grupo composto por frades franceses que desembarcam no Maranhão
para uma curta estadia. Na Bahia, os capuchinhos desembarcam em 1670, no porto de
Salvador, vindos da África onde estavam em missão religiosa. Ainda na Bahia, os
missionários receberam a missão de catequizar os Cariris no sertão. Na zona
sertaneja entre a Bahia e Sergipe, realizaram diversas obras, as mais famosas
foram a igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho e o santuário de Monte Santo,
obras creditadas ao Frei Apolônio de Todi. O estado da Bahia era considerado de distribuição dos capuchinhos
para missões religiosas na África, por essa razão, foi erguido em Salvador o
Hospício da Piedade como um local de acolhimento dos frades para a recuperação dos
mesmos em intervalos de missões. A partir de 1705, os capuchinhos são impedidos de ampliar
suas atividades no Brasil, sob a alegação de que já haviam por aqui missionários
suficientes para as funções da ordem. Esse impedimento só foi revogado graças a
influência da família Ávila, poderosa linhagem de Garcia D´Ávila que detinham
quase todas as terras do sertão baiano, substituídos, enquanto donatários dessa
região, apenas pela família Dantas em princípios do século XIX. Os capuchinhos se espalharam por todo o sertão, com
influência e prestígio em todos os seguimentos da sociedade, chegaram a visitar
Canudos em guerra, numa tentativa de missão de paz entre os anos de 1896 e
1897. Outra missão de paz que teve o auxílio dos capuchinhos foi
o processo de entregas de cangaceiros de 1938, em Jeremoabo-Ba. A foto referida
no início desse texto, é um dos documentos que atestam isso, contudo, as
evidencia mais concisas dessa participação estão nos registros da igreja de
Jeremoabo, transcritos para o livro O EMBAIXADOR DA PAZ lançado em julho de
2023 pela editora Oxente. No texto, o Padre José de Magalhães faz eloquentes elogios aos
Freis Agostinho e Francisco Urbania, frades capuchinhos que auxiliaram o
vigário no trabalho de convencimento e de acolhimento dos ariscos cangaceiros
que se puseram a se render após a morte de Lampião em 28 de julho de 1938. Frei Agostinho de Loro Piceno nasceu na Itália, na cidade que lhe empresta o nome (Loro Piceno) em 09 de janeiro de 1881, entrou para a ordem em 31 de maio de 1897 e foi ordenado em 26 de junho de 1903, chegou ao Brasil em 01 de outubro de 1908. Conhecido como pela irretocável oratória, possuía uma voz imponente, a despeito do tipo físico franzino de aparência frágil. Era preferido pelos vigários interioranos por se expressar muito bem e cativar os ouvintes. Foi provavelmente a ele que o Padre Magalhães se referiu ao falar da “ótima pregação” feita aos cangaceiros entregues em Jeremoabo. Faleceu em 10 de maio de 1949, aos 68 anos de idade após ter
prestado seus serviços por 41 anos no Brasil. O Frei Francisco de Urbania
nasceu em 24 de junho de 1877, entrou para a ordem em 11 de fevereiro de 1898 e
tornou-se sacerdote em 15 de março de 1902, para chegar ao Brasil dois anos
depois, em 1905. |
Aprendeu o português para
viajar, pois a ordem exigia que os jovens frades, recém-chegados ao Brasil, só
se comunicassem em português. Percorreu, além da Bahia, os estados de Sergipe,
Alagoas, Pernambuco, Piauí e Goiás. Em 1947, foi chamado de volta à Itália após
40 anos, vindo a falecer em 1961 aos 84 anos.
De acordo com Frei Ulisses, os capuchinhos encontram-se
atualmente ausentes do sertão baiano por mudanças no modus operandi da
própria igreja católica. De acordo com o Frei, os bispos seculares não convidam
mais os capuchinhos para missões como o faziam no passado, talvez pela atual
estrutura da igreja em todas as cidades da região. Para Frei Ulisses, uma outra
razão é o atual formato das missões, muito mais voltada a questões pastorais,
com pouca pauta de ações sociais.
ESSE TEXTO TEVE a valiosa
colaboração do Frei Ulisses Pinto Bandeira, Guardião do acervo histórico dos Capuchinhos
em Salvador. Todas as fotos, inclusive, foram enviadas por ele.
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