O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

O frei Apolônio de Todi

 


 

        Se você mora ou viveu por alguns anos na área de fronteira entre a Bahia e Sergipe, mais precisamente no território hoje classificado como Semiárido Nordeste II, você provavelmente já ouviu falar do Frei Apolônio de Todi.

          Seu nome hoje está em praças, ruas, avenidas e repartições públicas, mas não se sabe muito sobre a sua vida, muito provavelmente pelo tempo decorrido da sua morte, ou seja, quase duzentos anos.

          O Frei Apolônio, pertencia a uma subordem dos franciscanos denominados Capuchinhos. Essa ordem religiosa marcou profundamente a sua presença no sertão. O Frei Apolônio, por exemplo, foi o responsável pela construção do Santuário de Monte Santo - BA e da Igreja de Cícero Dantas-BA.

          Nascido próximo à cidade Italiana de Todi, em 1747, chegou à Salvador, já ordenado capuchinho, em 1782, com 35 anos. Sua viagem tinha como destino inicial as ilhas de São Tomé e Príncipe, na África, porém, devido a complicações no mar, acabou aportando na capital baiana exausto e doente. Após a recuperação, afeiçoou-se ao Brasil e decidiu seguir para o sertão, hoje Semiárido Nordeste II.

          Viveu por longos 10 anos entre os índios do Massacará, na divisa entre os municípios de Cícero Dantas e Euclides da Cunha, onde chegou a um antigo aldeamento fundado em 1639 com o objetivo de catequisar os indígenas locais. O Massacará, hoje parte do município de Euclides da Cunha, é uma área de reserva indígena com um pequeno aglomerado de casas central e outras tantas espalhadas por uma área arenosa e de poucas chuvas.

          Mas foram os deslocamentos que o elevaram ao posto cunhado por Euclides da Cunha, o “Apóstolo do Sertão”. Em 1775, chega à Serra do Piquaraçá, um local ermo, com uma grande elevação do terreno, próximo do qual, uma casa de taipa servia de apoio aos missionários que por ali passavam a cada quatro ou cinco anos. Foi ali que conclamou a população a erguer um santuário, “o calvário do sertão” que ele mesmo batizaria de Monte Santo.

          Mais tarde, em 1812, chegou a outro local isolado, a chamado dos parcos moradores locais. Era um pequeno aglomerado de casas denominado Bom Conselho, atual cidade de Cícero Dantas. No alto de uma colina, onde se observava um cemitério muito mal cuidado, em local perigoso, famoso pelas emboscadas, conclamou mais uma vez a população, rezou a primeira missa e disse que ali ergueria a capela de Nossa Senhora do Bom Conselho dos Montes do Boqueirão.

Nascia ali a matriz de mesmo nome, completamente reformada em 1896 pelo vigário Vicente Martins, com a ajuda dos seguidores de Antônio Conselheiro e auxílio financeiro da comunidade local e do Barão de Jeremoabo.

 

Moisés Reis é professor, fundador e editor do Blog História do Sertão, é historiador, mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe e atualmente se dedica a estudar a história do sertão baiano. contato: 75 999742891.

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Fazenda Barriguda, Fátima - BA

 

Fonte: Pinterest



A Barriguda é uma propriedade rural antiga que ainda hoje conserva o mesmo nome, seus limites com a vizinha fazenda Maria Preta eram (e em grande medida ainda são) o riacho que corre entre as duas, trata-se do Rio Velho, que deságua no açude de Adustina. No fim dos anos 1800, Severo Correia de Souza, dono da Maria Preta, ordenou que seus escravos mudassem o curso do rio para beneficiar a si próprio. Consta que Severo orientou os seus cativos a corrigir o sinuoso curso do córrego que só ficava cheio com as enxurradas. Fazendo das curvas retas, Severo foi ganhando terras da propriedade vizinha. Consta que tal ação gerou muitos litígios entre os proprietários.

Com a morte do Barão, em 1903, a fazenda passou ao seu filho mais velho, João da Costa Pinto Dantas e com a morte desse, em 1940, aos seus filhos Adelaide e Arthur da Costa Pinto Dantas. Foram esses dois descendentes de Cícero Dantas Martins, o Barão de Jeremoabo, que desmembraram essa e outras propriedades, vendendo a outras famílias locais.

A exemplo das propriedades vizinhas, a Barriguda tinha como principal atividade econômica, a criação de gado e praticava a agricultura de subsistência com produtos como o feijão, o milho e outros e é possível que também tenha produzido algodão entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. A pequena produção de algodão dessa área era encaminhada no lombo de animais para patrocínio do Coité, atual Paripiranga, e de lá seguia para a estação de Salgado, de onde seguia para o litoral e de lá, por mar, chegava a Europa e EUA.


segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Fazenda São Domingos, Fátima- BA.

 



        

O que hoje é o povoado do São Domingos, no município de Fátima, é uma localidade com uma história que remonta às primeiras décadas do século XIX. Localizado na fronteira com o município vizinho de Cícero Dantas, o povoamento é composto por casas espaçadas entre si e por propriedades rurais de pequeno e médio porte.

Como muitos povoamentos fatimenses, o São Domingos herda o nome de uma antiga fazenda que, antes de 1830, pertencia ao enorme latifúndio pertencente à Casa da Torre. A família Ávila, linhagem de Garcia D’Ávila, que possuía a maior parte das terras que hoje compõem o Nordeste brasileiro, vai entrar em decadência no século XIX, deixando espaço para a família Dantas, linhagem do Barão de Jeremoabo, adquirir grandes nacos de terras na área que hoje é Fátima e municípios vizinhos.

João Dantas dos Imperiais Itapicuru (Avô do Barão). 

Essa história começa em 1832, quando o avô do Barão, João Dantas dos Imperiais Itapicuru, adquire enormes áreas de terras nessa região, nesse momento, praticamente toda a extensão do que hoje são os municípios de Cícero Dantas, Fátima, Novo Triunfo, Antas, Pedro Alexandre e Coronel João Sá, além de boa parte do município de Jeremoabo, passam a fazer parte das terras da família Dantas.

A partir daí, essas imensas áreas foram divididas em fazendas e nomeadas conforme vontade de seus novos donos. Entre essas fazendas está a São Domingos, uma propriedade que, como quase todas nesta área, tinha como principal atividade lucrativa, a criação de gado.

Em 1857, a São Domingos consta nos registros de terras eclesiásticos como propriedade de João Dantas dos Reis, pai do barão. Com a morte deste, em 1872, a fazenda passa às mãos de Cícero Dantas Martins, o Barão de Jeremoabo.

João Dantas dos Reis (pai do Barão).


 

Seguindo a dinâmica natural das heranças dentro da linhagem familiar dos Dantas, com a morte do Barão, em 1903, as terras da fazenda São Domingos, Tabuleiro, Barriguda e outras, passaram para o seu filho mais velho, João da Costa Pinto Dantas e quando esse veio a falecer, em 1940, passou as terras a dois dos seus filhos, Arthur e Adelaide da Costa Pinto Dantas. Foi com os irmãos Dantas, netos do Barão, que a fazenda São Domingos, assim como outras, foi desmembrada e vendida como propriedades menores.

Muitas dessas terras, ainda hoje pertencem as famílias que adquiriram dos Dantas, passando de geração em geração.



Cícero Dantas Martins (Barão de Jeremoabo).



João da Costa Pinto Dantas (Filho do Barão).


Arthur da Costa Pinto Dantas (Neto do Barão).



terça-feira, 10 de outubro de 2023

Rota da Ferrovia que passaria por Fátima



 

            

Imagem criada a partir do Google Earth

        Conforme tratei aqui no Blog alguns anos atrás, a Ferrovia Leste, como era conhecida pelo fatimense, foi um ramal ferroviário que buscava ligar o litoral de Sergipe ao canteiro de obras da usina hidroelétrica de Paulo Afonso.

             Na ocasião, o governo federal, nos mandatos de Eurico Gaspar Dutra e Getúlio Vargas, liberou vultosas quantias para a construção da ferrovia durante os anos 1950.

           As obras tiveram evolução diferente ao longo do percurso, em Lagarto, por exemplo, chegou-se a construir uma estação para o trem, enquanto em outros pontos, com Fátima, Adustina e Paripiranga, bancadas de nivelamento, pontes e valas de até 6 metros de profundidade ficaram para trás após o abandono da obra.

         As obras foram definitivamente abandonadas em 1955 quando o governo federal, cedendo ao lobby das grandes montadoras de automóveis que chegavam ao Brasil, optou pelas rodovias. Começava ali a decadência das ferrovias do país.