O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quinta-feira, 15 de junho de 2023

Um artefato da Guerra de Canudos em Fátima.

 

        Já faz algumas semanas que o leitor aqui do Blog, Cleyton Reis, me alertou para a possibilidade de um artefato da Guerra de Canudos que estaria no Mundo Novo, aqui em Fátima, há mais de cem anos. O artefato em questão, seria uma cápsula de bala de canhão recolhida no cenário da guerra pelo senhor Antônio Cruz, por volta do ano de 1900.

          Ontem, 14/06/2023, eu fui até o Mundo Novo acompanhado do atual dono da propriedade e trouxe o objeto metálico comigo para melhor analisá-lo, estando conforme a fotografia abaixo.



            Já faz muitos anos que alguém inseriu o objeto em uma madeira e o enterrou no chão a fim de bater as enxadas para tirar a lama nos meses de inverno.

          Para determinar do que se tratava de fato, busquei a ajuda de colegas historiadores especializados no conflito. De acordo com o pesquisador Sandro Lee, que atualmente organiza a fundação de um museu em Jeremoabo voltado à temática de Canudos, o artefato em questão se trata de uma cápsula de um canhão de fabricação alemã. É o Withworth calibre 32. (foto).

 

Como se encontrava na década de 1940 o canhão alemão Withworth de 32 libras, a famosa “Matadeira”, utilizado pelo Exército em Canudos.


           O canhão e seus acessórios pesavam cerca de 1700 kg e foi trazido para a estação férrea de Queimadas para ser transportado por cerca de 150 km pelas precárias estradas sertanejas, provavelmente no final de 1896. O transporte exigiu vinte juntas de bois e um batalhão de soldados do exército brasileiro.

          Foi essa arma, batizada pelos sertanejos de “Matadeira” que destruiu o campanário da Igreja de Belo Monte. Foi, sem dúvidas, a arma mais temida pelos defensores de Canudos. O estrondo causado pelos seus disparos, causava pânico entre a gente simples do sertão.

          Contudo, alguns especialistas, como DORAZ 2016, afirmam que a introdução do Withworth calibre 32 no conflito foi um erro de estratégia, por se tratar de uma arma demasiadamente pesada e difícil de manobrar. Para se ter uma ideia, era preciso fazer ajustes a cada disparo e havia um engenheiro militar a disposição do canhão.


O Withworth 32 era um canhão pesado, pouco adequado para ações no terreno acidentado do sertão (Fonte: História Militar)

          O Withworth calibre 32 era de uso da Marinha brasileira, portanto, transportado via navio, ou tinha uso em fortalezas fixas nos portos, justamente por suas características. Trazê-lo para Belo Monte, provavelmente, foi parte de uma estratégia de causar pânico entre a população local. Quanto a isso, o experimento foi bem-sucedido.

          Em 29 de junho de 1897, um dos canhões 32 explodiu após um disparo, matando dois oficiais do exército, o médico Alfredo da Gama e o 2° Tenente Odilton Coloriano.

          Abandonado no local da guerra sem a culatra, o canhão foi, nos anos 1960, transportado para Salvador, sendo trazido de volta em 1983 para ficar exposto na cidade de Monte Santo. (foto).


                                              Canhão exposto em Monte Santo – Fonte: História Militar.

          Antônio Cruz protagonizou um encontro com cangaceiros em 1930, na mesma Fazenda Mundo Novo, era conhecido por ser um homem inteligente e articulado. A sua visita à Canudos após o fim do conflito, revela uma personalidade curiosa e inquieta.

          Fato é que esse objeto, único do gênero conhecido no município de Fátima, será preservado a partir de agora como um símbolo da influência da Guerra de Canudos entre os nossos ancestrais.

 Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 21 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço e dos livros Fátima: Traços da sua Histórias e O Embaixador da Paz.

 

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