Já faz algumas semanas que o leitor aqui do
Blog, Cleyton Reis, me alertou para a possibilidade de um artefato da
Guerra de Canudos que estaria no Mundo Novo, aqui em Fátima, há mais de cem
anos. O artefato em questão, seria uma cápsula de bala de canhão recolhida no
cenário da guerra pelo senhor Antônio Cruz, por volta do ano de 1900.
Ontem,
14/06/2023, eu fui até o Mundo Novo acompanhado do atual dono da propriedade e
trouxe o objeto metálico comigo para melhor analisá-lo, estando conforme a
fotografia abaixo.
Já faz muitos anos que alguém inseriu o objeto
em uma madeira e o enterrou no chão a fim de bater as enxadas para tirar a lama
nos meses de inverno.
Para
determinar do que se tratava de fato, busquei a ajuda de colegas historiadores especializados
no conflito. De acordo com o pesquisador Sandro Lee, que atualmente organiza a fundação
de um museu em Jeremoabo voltado à temática de Canudos, o artefato em questão se
trata de uma cápsula de um canhão de fabricação alemã. É o Withworth calibre
32. (foto).
Como se
encontrava na década de 1940 o canhão alemão Withworth de 32 libras, a famosa
“Matadeira”, utilizado pelo Exército em Canudos.
O canhão e seus acessórios pesavam cerca de
1700 kg e foi trazido para a estação férrea de Queimadas para ser transportado
por cerca de 150 km pelas precárias estradas sertanejas, provavelmente no final
de 1896. O transporte exigiu vinte juntas de bois e um batalhão de soldados do
exército brasileiro.
Foi
essa arma, batizada pelos sertanejos de “Matadeira” que destruiu o campanário
da Igreja de Belo Monte. Foi, sem dúvidas, a arma mais temida pelos defensores
de Canudos. O estrondo causado pelos seus disparos, causava pânico entre a
gente simples do sertão.
Contudo,
alguns especialistas, como DORAZ 2016, afirmam que a introdução do Withworth
calibre 32 no conflito foi um erro de estratégia, por se tratar de uma arma
demasiadamente pesada e difícil de manobrar. Para se ter uma ideia, era preciso
fazer ajustes a cada disparo e havia um engenheiro militar a disposição do
canhão.
O Withworth 32 era um canhão pesado, pouco adequado para
ações no terreno acidentado do sertão (Fonte: História Militar)
O
Withworth calibre 32 era de uso da Marinha brasileira, portanto,
transportado via navio, ou tinha uso em fortalezas fixas nos portos, justamente
por suas características. Trazê-lo para Belo Monte, provavelmente, foi parte de
uma estratégia de causar pânico entre a população local. Quanto a isso, o
experimento foi bem-sucedido.
Em
29 de junho de 1897, um dos canhões 32 explodiu após um disparo, matando dois
oficiais do exército, o médico Alfredo da Gama e o 2° Tenente Odilton
Coloriano.
Abandonado
no local da guerra sem a culatra, o canhão foi, nos anos 1960, transportado
para Salvador, sendo trazido de volta em 1983 para ficar exposto na cidade de
Monte Santo. (foto).
Canhão exposto em Monte Santo – Fonte: História Militar.
Antônio
Cruz protagonizou um encontro com cangaceiros em 1930, na mesma Fazenda Mundo
Novo, era conhecido por ser um homem inteligente e articulado. A sua visita à
Canudos após o fim do conflito, revela uma personalidade curiosa e inquieta.
Fato
é que esse objeto, único do gênero conhecido no município de Fátima, será
preservado a partir de agora como um símbolo da influência da Guerra de Canudos
entre os nossos ancestrais.
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