No último dia 19, publiquei aqui no Blog parte do relato
do Padre Renato Galvão sobre a perfuração do poço municipal da então Vila de
Fátima. A bomba, como o fatimense costuma chamar.
Ocorre que, no mesmo livro Tombo, o vigário fez detalhado
registro acerca da festa de inauguração ocorrida no dia 04 de outubro de 1959,
um domingo, festa de São Francisco, há exatos 62 anos.
Após a perfuração do poço, em 1954, duas bombas manuais
foram instaladas a fim de permitir que a população tivesse acesso a água, como
o poço é muito profundo (pelo menos 170 metros), deveria ser muito complicado e
demorado fazer o bombeio manual da água. Essas bombas manuais, contudo, foram
utilizadas por 5 anos, quando, em 1959 o Departamento de Obras contra a Seca (DNOCS),
após insistentes pedidos do Padre Renato, fez a instalação de uma bomba movida
por um motor a diesel.
Por essa época, a construção no entorno do poço já tinha
ganhado as caraterísticas arquitetônicas que conhecemos hoje. Veja o relato do
Padre:
Foi entregue ao vigário um
motor bomba e posteriormente foi construído um tanque de pedra e cimento com
capacidade de 21 metros cúbicos com quatro torneiras e uma casa de máquinas.
No domingo da inauguração, uma cerimônia pomposa foi
organizada sob as expressas recomendações do religioso de não dar aos festejos caráter
político partidário. Na ocasião, estiveram presentes técnicos do DENOCS e
alguns políticos, inclusive o deputado federal de Ribeira do Pombal, Oliveira
Brito, além de comitivas de Poço Verde, Adustina e Cícero Dantas. Quanto aos
populares, de acordo com o Padre Renato, a multidão foi estimada em mais de 2
mil pessoas, com direito ao corte de fita inaugural, tarefa que coube ao
engenheiro Degildo Menezes.
O Dr. Degildo era o chefe do quarto distrito do DNOCS, a
ele coube também ressaltar em discurso a persistência do Padre na construção do
poço. Ainda de acordo com o relato do religioso: “Uma criança lhe ofereceu
flores”. A criança a que o vigário se refere, provavelmente trata-se da jovem
Vanilda dos Reis que atualmente vive em São Paulo. Vanilda já havia me relatado
esse episódio, de acordo com suas memórias, ela ficou responsável de ler um
discurso dos agradecimentos do povo de Fátima.
Após o
corte da fita, as comitivas se dirigiram até a residência do então vereador João
Maria de Oliveira, na praça ao lado da obra. Sobre isso, escreve o padre:
Na residência
do vereador João Maria de Oliveira, o vigário fez oferecer aos visitantes um
lanche, tendo a caravana regressado ao meio dia.
A dimensão
da festa nos dá uma ideia da importância do poço municipal para a pequena vila
de Fátima. Se hoje uma multidão de 2 mil pessoas já é um volume considerável,
imagine 62 anos atrás. Para além disso, a luta do vigário para realizar a obra
(de 1954 a 1959) é algo que faço questão de registrar, entendendo que uma fonte
confiável de água em uma época em que não havia água encanada e tanques públicos
davam um precário socorro à população, só posso imaginar o tamanho da alegria e
da gratidão que o povo de Fátima manifestou naqueles dias.
A
bomba é hoje pouco mais que um monumento, um tributo à nossa história. Embora ainda
sirva de recurso para socorrer os animais nos períodos de estiagem e para aguar
as plantas públicas, sua importância é somente uma fração do que fora no
passado, naquele dia 4 de outubro de 1959, quando o prefeito de Cícero Dantas,
em ato simbólico, ordenou que as quatro torneiras fossem ligadas para que a
água jorrasse perante grande público, parte importante da nossa história
começava a ser escrita.
Moisés Santos Reis Amaral,
Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela
Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em
Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.
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