"sendo grandes conquistadores de terras, não
se aproveitam delas, mas contentam-se de as andar arranhando ao longo do mar
como caranguejos".
Assim
definiu, no dia 20 de dezembro de 1627, o Frei Vicente de Salvador a
relutância dos portugueses em adentrar o litoral brasileiro e conquistar as
terras do chamado Sertão. Sua obra A HISTÓRIA DO BRASIL, configura como a obra
mãe da história do país, tanto é que Frei Vicente é considerado o pai da
historiografia brasileira.
Mas
por que os colonos vindos do litoral só chegaram a essa nossa região por volta
da segunda metade do século XVIII, isto é, mais de dois séculos após a chegada
da esquadra de Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro?
A
resposta para essa pergunta, pode estar do outro lado do Oceano Atlântico, na África.
Foi lá que, por volta da segunda metade do século XV, aproximadamente cem anos
antes da épica viagem de Cabral, os portugueses iniciaram a transformação do
tráfico de escravos em um negócio internacional.
Naquele
período inicial do que viria a ser o famigerado tráfico negreiro os lusitanos
empreenderam a construção de uma verdadeira estrutura mercante na costa
africana. Aliados a traficantes locais, embrenhavam-se nas florestas e savanas
africanas em busca de cativos. Essa ousadia, segundo GOMES (2019), custou a
vida de milhares de europeus, vítimas de doenças tropicais como malária, febre
amarela e outras. Ainda segundo o mesmo autor, a mortalidade entre os
portugueses, desacostumados ao clima africano chegava a impressionantes 50%.
Com
o passar do tempo, os traficantes de escravos vindo da Europa passaram a evitar
adentrar aos confins do continente em busca de pessoas para serem transportadas
à América como escravas, deixando essa tarefa a cargo de aliados africanos que também
lucravam com a mórbida atividade econômica.
Como
todos sabemos, em 22 de abril de 1500 os portugueses chegam ao Brasil. Nas décadas
e séculos iniciais eles evitam adentrar o território pelas mesmas razões que o
fizeram na África. Como o clima era bastante semelhante, temia-se (e com razão)
as temidas doenças tropicais que como lá aqui existiam. Além disso, a atividade
econômica inicialmente empregada por aqui (a cultura canavieira) estava muito
bem instalada nos solos férteis da zona da mata baiana.
Moisés Santos Reis Amaral,
Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela
Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em
Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário