Saracura e sua segunda esposa. Acervo Kiko Monteiro Foto inédita na literatura do cangaço. |
Benício Alves dos Santos era
paripiranguense, entrou para o cangaço após desacertos com a polícia local e
foi combater ao lado do notório Labareda. Sua vida durante o cangaço é
relativamente bem conhecida. Saracura ficou famoso por aparecer em um famoso
documentário onde é descrito por Zé Rufino como um homem destemido e
inteligente, capaz de comandar um grupo por conta própria.
No mesmo documentário Benício aparece já como funcionário
público do Instituto Médico Legal. Em uma breve entrevista, entre informações sobre
a vida bandoleira, deixa claro que não gostava de falar do cangaço.
Tudo que foi dito até aqui, não é novidade para quem gosta
e pesquisa sobre o cangaceirismo, contudo, recentemente, tive a oportunidade
ímpar de entrevistas Silvano Andrade Santos, filho de Benício. A descoberta do
contato me foi gentilmente passada pelo pesquisador Kiko Monteiro.
Por telefone, Silvano me passou as informações que faltavam
para compor o perfil de Saracura após o fim do cangaço e finalmente compor a
historiografia sobre o tema.
Saracura
faleceu ainda jovem, aos 59 anos, contrariando a tradição de longevidade dos
cangaceiros sobreviventes ao cangaço. A data exata do seu falecimento é 2 de
junho de 1975, morreu de hepatite e foi sepultado em Salvador.
Benício nasceu no dia 01 de novembro de 1916, se entregou
em 1940 em Paripiranga e seguiu para cumprir pena em Salvador. Após cumprir sua
sentença, continuou morando na capital, mas, de acordo com Silvano, fez
diversas visitas à Paripiranga após o cangaço. Foi na fazenda de um amigo,
Ramiro Vieira de Andrade, que conheceu a mulher com quem viveria pelo resto de
seus dias.
A filha do fazendeiro que encantou Saracura foi Josefa
Vieira de Andrade Santos, ainda viva, com 83 anos, residente em Itaberaba, a
288 Km de Salvador. Foi dela que Silvano retirou a maior parte das informações
a mim passadas para a composição desse artigo, uma vez que ele tinha apenas 11
meses de idade quando Saracura faleceu.
Sua vida cotidiana era dedicada ao trabalho e à família, tornou-se
um cidadão tranquilo, ordeiro, casado, pai de quatro filhos, três biológicos e
um adotivo. Como ele mesmo afirmou no documentário já citado, não gostava de
falar do cangaço e pode estar aí o motivo de sua vida civil não ter sido
documentada até agora. Não temos informações acerca da sua relação na vida civil
com o outrora chefe Ângelo Roque. Sabe-se, contudo, que chegou a contar algumas
histórias para a esposa em momentos de descontração.
A família permanece unida, Silvano é casado, pai de três filhos,
um deles, o caçula, leva o nome do avô, Benício Andrade. É um nome forte para
uma criança que vai crescer com um nome carregado de significados e com uma
bela história de lutas.
Silvano é empresário e pai também de Victória Andrade (26
anos) e Miguel Andrade (21), Valentina Andrade, filha de Simone Andrade,
completa o rol de netos do ex-cangaceiro Saracura.
A esposa de Saracura criou os filhos em Salvador apoiada na
pensão de um salário mínimo que recebia como viúva, diante das dificuldades da
vida, seu pai chegou a ir busca-la para voltar a viver em Paripiranga, mas ela
recusou e preferiu criar os filhos onde acreditava ter melhores condições de
dar a eles boa educação, oportunidade que não teve durante a vida. A família optou
por Itaberaba, onde vive ainda hoje.
Moisés Santos Reis Amaral,
Professor há 20 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela
Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em
Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual
Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do
Cangaço.
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