A família Santana em Fátima e região.

 

Imagem ilustrativa

Os primeiros Santana – grafados também como Santa Anna – aparecem nos registros de terras da região do Itapicuru e do Tiuiú desde as primeiras décadas do século XIX. Contudo, sua presença remonta à fase de ocupação colonial ligada à Casa da Torre e às freguesias de Santana e Santo Antônio dos Tucanos, criadas a partir das doações de sesmarias no século XVIII.

Nomes como José de Santa Anna, Joaquim José de Santa Anna, Constantino José de Santa Anna e José Joaquim de Santana figuram nos tombos de terras entre 1815 e 1830, registrando posses em sítios como Mandacarú, Lagoa da Jabuticaba, Riacho, Urubutinga e Catinga. Esses pioneiros atuaram como posseiros e sesmeiros, expandindo a fronteira da pecuária e da agricultura de subsistência.

A primeira geração de Santanas estava, portanto, diretamente vinculada à lógica econômica regional: a pecuária extensiva, fundamental para a formação da “Sociedade do Couro”, e a lavoura de subsistência (mandioca, milho e pequenas roças), que sustentava a fixação das famílias no sertão. A posse da terra, mesmo que contestada, garantia prestígio social e constituía a base material da autonomia dos grupos locais.

Na segunda geração, destacam-se indivíduos como Eugênio Pereira de Santana, Antônio Pereira de Santana, Januário José de Santana, Marçal de Santana Torres e outros que herdaram, ampliaram ou adquiriram novas posses. A família se diversificou em múltiplas ramificações, ligadas por alianças matrimoniais com outros grupos locais – Reis, Dantas, Borges, Correia –, perpetuando laços de solidariedade e poder.

No final do século XIX e início do XX, já encontramos nos registros de matrimônio de Bom Conselho/Cícero Dantas nomes como Francisco Teles de Santana, Manoel José de Santana, Virginio Januário de Santana, Pedro Francisco de Santana, João Batista de Santana e José Francisco de Santana. Esses casamentos mostram que os descendentes dos primeiros posseiros transformaram-se em famílias matrizes, com ampla descendência e capacidade de se articular em torno das estruturas religiosas (casamentos, batismos, irmandades) e cívicas locais.

A segunda geração, portanto, já se consolidava como parte da elite sertaneja, mesmo que de caráter médio: grandes proprietários e agregados da rede dos Dantas, Correia e Reis. Muitos aparecem não apenas como nubentes, mas também como testemunhas de casamentos, sinal de prestígio social e reconhecimento comunitário.

A trajetória da família Santana precisa ser entendida no contexto da economia do sertão semiárido. A pecuária continuava sendo a base, com currais, vaqueiros e o uso extensivo da terra.

O couro tinha valor central, não apenas como produto de troca, mas como eixo de uma cultura material (arreios, roupas, calçados, utensílios).

Nas relações de poder, os Santana integravam a malha de parentesco e compadrio que sustentava a ordem local. Aliados a famílias como os Dantas (Barão de Jeremoabo), ocupavam cargos secundários nas estruturas de mando, mas reforçavam a rede eleitoral e social que garantia hegemonia às oligarquias maiores.

O casamento entre membros Santana e famílias como Reis e Correia é um indício claro dessa integração: por meio de laços familiares, participavam do jogo político e social que sustentava coronéis e chefes locais.

A história da família Santana no sertão revela uma linha de continuidade:

Pioneiros do século XVIII/XIX, assentados em terras de sesmaria e posseiros da Casa da Torre, expandindo a fronteira pecuária.

Segunda geração (século XIX/XX), consolidada em alianças matrimoniais e já integrada à malha de poder local, com papel ativo em casamentos e testemunhos, o que mostra sua inserção no prestígio comunitário.

A economia de gado, couro e roças de subsistência estruturava sua permanência, enquanto as alianças políticas e matrimoniais os ligavam às grandes casas senhoriais (como a dos Dantas). Assim, os Santana exemplificam como famílias de porte médio sustentavam, desde a base territorial, a arquitetura do poder oligárquico no semiárido baiano.

 

Moisés Reis é professor há 24 anos no município de Fátima (BA). Licenciado em História pela UNIAGES, com especialização em História e Cultura Afro-Brasileira pela UNIASSELVI, é mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Autor de diversas obras, entre elas Manual Didático do Professor de História, O Nazista, Fátima: Traços da sua História, O Embaixador da Paz, Maria Preta: Escravismo no Sertão Baiano e Últimos Cangaceiros: Justiça, Prisão e Liberdade. Também produziu a HQ Histórias do Cangaço e o documentário Identidade Fatimense. Sua pesquisa concentra-se na história do sertão baiano, com ênfase na sociedade do couro, nos processos de ocupação, nas relações de poder e nas memórias coletivas da região.

 

Contato: 75 999742891


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