A família Borges em Fátima e Cícero Dantas (1856–1916)

 

Foto: Fátima de outrora.

A presença da família Borges na região de Fátima e Cícero Dantas remonta ao princípio do século XIX, quando os primeiros indivíduos dessa linhagem familiar chegam para ocupar as primeiras propriedades. Os registros oficiais, contudo, só aparecem a partir da segunda metade do século, quando quatro indivíduos aparecem nos registros de terras de 1856, são: Francisco Borges de Andrade, comprador da fazenda Pau Preto (hoje, Povoado Paus Pretos), Francisco Borges da Costa (fazenda Raiz), Francisco José Borges (fazenda Lages) e Francisco Borges (fazendas Serra Vermelha e Tombados). Esses nomes, todos ligados à posse rural, constituem o tronco fundador da família, inserida na lógica da pecuária e da economia do couro.

Na década de 1890, novos registros consolidam essa presença. Em 1898, a carta de Severo Correia de Souza ao Barão de Jeremoabo menciona o “velho Borges”, figura consultada em meio a uma disputa de gado, o que evidencia seu prestígio e papel de mediador. Paralelamente, registros de matrimônio desse período apontam nomes como Pedro Borges de Santana, Atanásio Borges da Costa, Santilo Borges Benvanato, José Borges de Oliveira e Martiniano de Souza Borges, revelando a formação de diferentes ramos familiares.

No início do século XX, a família se multiplica em ramificações diversas. Os Borges de Santana destacam-se, com descendência numerosa (Pedro, Paulo, José, Luiz, Maria, Paula, Jeremias, Francisco). Os da Costa Borges mantêm sua linhagem a partir de Francisco Borges da Costa, representada por Atanásio, Zacarias e Isidório. Já os Souza Borges e os Borges de Oliveira surgem de alianças matrimoniais com famílias tradicionais da região. Outros ramos incluem os Borges da Silva, Borges Brito, Borges Mendes e Borges de Castro, mostrando a capacidade da família em se entrelaçar com diferentes grupos locais.

Entre 1913 e 1916, a recorrência dos Borges em registros de casamento – ora como nubentes, ora como testemunhas – demonstra não apenas sua expansão numérica, mas também o prestígio que ocupavam no tecido comunitário. Nessa época, os Borges já figuravam como família extensa e de grande inserção social, transitando entre o mundo da propriedade rural, as alianças matrimoniais e o espaço político do sertão.

Esse estudo, é importante lembrar, se concentra na localização do tronco familiar, isto é, na identificação dos primeiros indivíduos com o sobrenome Borges registrados por aqui. Essa é uma sequencia de cruzamento de dados por mim catalogados ao longo dos anos, esse mesmo trabalho será feito com outras linhagens familiares locais.


Moisés Reis é professor há 24 anos no município de Fátima (BA). Licenciado em História pela UNIAGES, com especialização em História e Cultura Afro-Brasileira pela UNIASSELVI, é mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Autor de diversas obras, entre elas Manual Didático do Professor de História, O Nazista, Fátima: Traços da sua História, O Embaixador da Paz, Maria Preta: Escravismo no Sertão Baiano e Últimos Cangaceiros: Justiça, Prisão e Liberdade. Também produziu a HQ Histórias do Cangaço e o documentário Identidade Fatimense. Sua pesquisa concentra-se na história do sertão baiano, com ênfase na sociedade do couro, nos processos de ocupação, nas relações de poder e nas memórias coletivas da região.



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