O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quarta-feira, 10 de maio de 2023

A Aposentadoria de Ângelo Roque

Fonte: Tok de História

 

    Quem diria que um cangaceiro poderia se aposentar como funcionário do Estado após viver uma vida de resignação sem ter cometido qualquer delito conhecido após a deposição das armas e do fim do cangaço. Isso foi exatamente o que aconteceu com Ângelo Roque da Costa, o Labareda.

          Essa história começa com uma minuciosa pesquisa que realizei no Arquivo Público do Estado da Bahia, em Salvador. Em meio às intermináveis fileiras de prateleiras com documentos antigos, encontrei um registro de aposentadoria em nome de Ângelo Roque, cujo conteúdo revelo a partir de agora.

          De acordo com o que consta na documentação, Ângelo Roque deu entrada em seu processo de aposentadoria em outubro de 1973, com deferimento em 05 de novembro daquele ano. O processo conta com o número 6.107/973 com o qual foi comunicado ao tribunal de contas do Estado da Bahia.

          O cargo para o qual Ângelo aposentou-se foi o de porteiro, lotado no Conselho Penitenciário da capital.

          Provavelmente para adicionar ao salário de aposentado, apresentou junto a documentação, a resolução de 12 de maio de 1970, que lhe deu o direito a dois adicionais por completar 15 e 20 anos de serviços, respectivamente nos anos de 1964 e 1969.

Fonte: Blog Lampião Aceso. 

Toda aposentadoria, obviamente, tem uma razão e a justificativa para aposentar Ângelo Roque vai surpreender o leitor assim como me surpreendeu. O laudo médico encaminhado em 24 de setembro de 1973 pelo serviço médico do estado e assinado pela perita Leda Sampaio, aponta o antigo chefe de grupo como portador de “alienação mental” e reitera que Ângelo foi considerado “incapaz para o exercício da função pública e para o serviço em geral”, acrescentando que nos dois anos anteriores, o funcionário teria se valido de diversas licenças para tratamento de saúde.

          É possível que Ângelo Roque da Costa tenha, de fato, desenvolvido alguma comorbidade na velhice, contudo, é igualmente possível que esse argumento tenha sido apenas uma alegação falaciosa para justificar sua a aposentadoria. O benefício do agora aposentado foi fixado em 4089,60 Cruzeiros anuais, fixados por decreto publicado em 20 de novembro de 1973.

No processo consta o endereço do ex-cangaceiro, Rua Padre Vieira, n° 2, Capelinha de São Caetano. Ângelo Roque, contudo, aproveitaria pouco de sua aposentadoria, pois viria a falecer no dia 15 de outubro de 1975, menos de dois anos depois de “pendurar as chuteiras”.

Conforme informação dada a Robério Santos pelo filho dele, Raimundo Roque da Costa, o famoso ex-chefe de grupo está sepultado no cemitério Quinta dos Lázaros, na baixa de Quintas, a apenas algumas quadras do acervo arquivístico que guarda os documentos que utilizei para revelar mais essa faceta da vida de Labareda.  


 CONHEÇAM O MEU NOVO LIVRO.



Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 21 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do Cangaço e dos livros Fátima: Traços da sua Histórias e O Embaixador da Paz.

 

Contato

Fone

75 – 99742891

E- mail.

moisessantosra@gmail.com

 





Nenhum comentário:

Postar um comentário