O relato que você terá acesso
agora, faz parte dos estudos do livro Tombo da Paróquia do N. S do Bom Conselho,
é mais um registro feito pelo Padre Renato Galvão em seus costumeiros estudos
históricos sobre a paróquia que liderava. É uma explanação que compõem uma
série documentada pelo vigário que visava levantar e preservar os dados
históricos de todas as capelas da paróquia.
A história se passa no povoado Caxias, à época, Duque de
Caxias, no ano de 1938. De acordo com o levantamento do religioso, naquele ano,
cansados das invasões e saques de cangaceiros, os moradores de Caxias (Os
paisanas, no linguajar dos cangaceiros) se armaram para defender o vilarejo de
um bando que agia nas redondezas.
Não é
novidade na historiografia do cangaço esse tipo de ação da população civil. Aliar-se
ao contingente de policiais disponível para defender uma vila foi prática significativa
naqueles anos de cangaceirismo. Basta lembramos, por exemplo, do ataque à Mossoró-
RN, onde a população se uniu à polícia militar em armas para defender a cidade
e expulsar os cangaceiros. Esse evento, inclusive, marca a entrada de Lampião e
seu bando na Bahia, em 1928.
A narrativa
do embate em Caxias foi colhida pelo Padre Renato através da oralidade. Em 1954,
apenas 12 anos após o ocorrido, o religioso entrevistou os participantes da
peleja, colheu depoimentos e fez o registro no livro.
De acordo
com o levantamento, em 1938, um grupo de homens liderado por um certo
Boaventura Dias Lima, conhecido como Sr. Boa, aliou-se ao pequeno contingente
de soldados destacados em Caxias para defender o lugarejo. Fizeram trincheira
na Lagoa dos Sítios Novos e aparentemente entraram em combate com os
bandidos.
Em
2018, eu entrevistei Sr. Faustino, na época com 105 anos, ele era natural de Caxias,
mas vivia em Fátima há muitos anos. Na oportunidade, sem precisar o ano, Sr.
Faustino me fez relatos de diversos episódios envolvendo bandos de cangaceiros
em toda essa região.
Não há
maiores detalhes na narração do Padre sobre esse episódio, nem é possível
precisar qual foi o bando combatido em Caxias em 1938. Sabe-se, contudo, que esse
foi o ano da Morte de Lampião na Grota do Angico em Poço Redondo – SE. Como não
há uma data exata para o ocorrido em Caxias, fica difícil descartar ou afirmar
que teria sido Lampião e o grupo principal, entretanto, é sabido que outros
grupos agiam por essa região, sobretudo o grupo de Ângelo Roque.
Essa história
só ilustra a intensa atividade de cangaceiros por toda essa nossa região. Após a
morte de Lampião em 1938, o cangaço entra em declínio, Ângelo Roque se
entregaria em Paripiranga 2 anos depois (1940) e Corisco seria morto em 1942,
dando linhas finais ao capítulo “cangaço” na história do país.
Moisés Santos Reis Amaral,
Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela
Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em
Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe. Autor das obras: Manual
Didático do Professor de História, O Nazista e da HQ Histórias do
Cangaço.
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