O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Esse cangaceiro atuou na região de Fátima

Saracura após cumprir pena em Salvador

Benício Alves dos Santos, o Saracura, é natural de patrocínio do Coité (atual Paripiranga). A sua entrada no bando de Ângelo Roque, o Labareda, provavelmente se deu no início dos anos 1930. Como toda história de adesão de cangaceiros, a história de Saracura é brutal.
Segundo entrevista que concedeu ao escritor Joel Silveira em 1950, quando cumpria pena com Ângelo Roque, Volta Seca, Cacheado e Arvoredo (companheiros de cangaço) na penitenciária de Salvador, sua entrada no bando deu-se após a invasão do sítio da sua família em Paripiranga. Segundo relata, a volante, liderada pelo famoso Odilon Flor, queria informação sobre o paradeiro dos cangaceiros por acreditar que o seu pai, André Paulo do Nascimento, tinha tal informação.
Saracura afirma que “o velho não sabia de nada” e por não fornecer a informação desejada, foi torturado pelos soldados. Ainda segundo Saracura, arrancaram fio por fio da sua barba e o mesmo aconteceu com as unhas.
Esse acontecimento nos leva a refletir sobre a constante narrativa entre os pesquisadores e testemunhas do cangaço a darem conta de que as volantes, grupos de policiais efetivos e contratados destacados para combater o cangaço, frequentemente agiam com violência maior do que os próprios bandidos a quem perseguiam. Não se trata aqui de fazer julgamento acerca da atuação daqueles homens, trata-se, isto sim, de buscar um relato o mais fidedigno possível de sua atuação, esta permeada por relatos de estupros, assassinatos e apropriação de bens de pequenos sitiantes que viviam atormentados com a presença de cangaceiros e policiais.
Mas voltando a falar de Saracura, sua atuação no grupo de Ângelo Roque durou cerca de seis ou sete anos (ele não soube precisar), período que perambulou por toda essa região, sendo bastante provável que tenha agido nas terras que hoje compõe o município de Fátima.
Nos anos 1930, apogeu do cangaço, Fátima era apenas uma pequena vila composta por uma dezena de casas no que hoje é a sua sede e pequenos sítios espalhados pelas redondezas. Pobre e sem muito a oferecer aos grupos que buscavam por riquezas, seu nome não figura entre os locais famosos no universo do cangaço por não ter acontecido aqui grandes confrontos com tiroteios e mortes a exemplo dos fatos registrados em Heliópolis, Cícero Dantas e Paripiranga.
É sabido, contudo, que Saracura e o bando de Labareda atuou fortemente por esta região, sendo provável que tenha sido este o grupo responsável pelos ataques relatados por Borges (2008) nas localidades do Mundo Novo, Cantos e Lagoa da Volta.

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