Fátima, Capuchinhos e vaqueiros.
O tardio processo de conquista das zonas
interioranas desta parte do nordeste se deu, segundo Ângelo Pessoa (2003), por
conta da resistência portuguesa em avançar em direção ao interior. Segundo este
autor, havia uma recusa por parte de alguns colonos de se afastarem do litoral
para empreender a conquista das zonas mais profundas da colônia.
Este mesmo autor afirma que os conflitos
com os holandeses no litoral, incentivaram os colonos a seguir em direção ao
interior, visto que tais embates coincidem com a necessidade de expansão da
pecuária sob o comando, principalmente, da família D’avila, então dona das
terras que iam do atual litoral da Bahia, passando pela área onde atualmente se
encontra Fátima e municípios vizinhos, avançando até a atual Paraíba.
É nesse momento que os índios passam a
não ser mais vistos como recurso, mas como um obstáculo a ser superado, visto
que a pecuária necessita de grandes extensões de terras.
Esta era uma visão mais presente entre o
colonizador, sendo, portanto, motivo de embate entre religiosos que os viam
como "almas a serem salvas". Eis aqui uma contradição na trajetória
das ordens católicas na história do Brasil pois, embora a catequização indígena
tenha servido de elemento crucial de colonização das mentes nos primeiros
períodos da colonização, sobretudo com o implante artificial do conceito de “pecado”
entre os nativos, tais conflitos, em defesa da não exploração destes como mão
de obra escrava, terminaram por levar à expulsão de algumas dessas mesmas ordens
religiosas da colônia.
Na nossa região, contudo, os
capuchinhos, uma subordem dos franciscanos, foram se introduzindo à partir da
segunda metade do século XVIII. Mesmo com o agravamento dos conflitos entre
colonos e indígenas em decorrência da expansão dos currais de gado em toda esta
região, à época genericamente chamada de sertão, os capuchinhos fincaram raízes
em diversas partes desta área. Com construções e reformas de igrejas que ainda
hoje podem ser notadas nas paisagens próxima à Fátima, como a capela situada no
topo da serra do capitão, no município vizinho de Adustina, construída por
capuchinhos no século XVIII, bem como o santuário de monte santo, construído
pelo frade franciscano Frei Apolônio de Todi, este, com fortes ligações com a
nossa região, tendo construído a igreja de Cicero Dantas. Euclides da Cunha, célebre escritor de “Os
sertões”, se referiu a este frade como “O apóstolo dos Sertões”.
Nascido
em 23 de janeiro de 1747, na cidade italiana de Todi, Frei Apolônio ingressou
ainda jovem na ordem dos capuchinhos, transferindo-se para o Brasil ainda nos
anos de 1700, foi o primeiro missionário a penetrar a secura deste nosso solo
para contatar os indígenas e proferir o catolicismo. Suas obras ajudaram a
estabelecer pequenas povoações que depois passaram a vilas e cidades, como é o
caso da cidade de Cícero Dantas. Hoje, frei Apolônio de Todi, “empresta” seu
nome para ruas e praças nas cidades por onde passou e deixou obras para a
posteridade.
Professor
Moisés Santos Reis Amaral.
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