O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Fátima, como tudo começou


A expressão popular que assevera nada ser por acaso é trazida à literalidade no caso dos primeiros núcleos de povoamento de Fátima. Este município do agreste baiano, situado há algumas poucas centenas de quilômetros do litoral, tanto da Bahia como de Sergipe, guarda em seus costumes contemporâneos a semente de um passado demasiadamente distante no tempo cronológico.
Os vaqueiros, hoje, figuras indissociáveis do cotidiano do fatimense, quem diria, estão na gênese do povoamento desta terra e da formação do seu povo e cultura, atualmente expressada na forma de vaquejadas, cavalgadas e em um verdadeiro culto ao animal base desta cultura, o boi.
Não é por acaso que a força de ligação com a criação de gado e as subatividades econômicas inerentes à esta, são tão fortes na vida dos habitantes desta terra, pois foi graças aos vaqueiros do passado, aos quais não guardo homenagem ou crítica, que essas terras foram povoadas ou, dependendo do ponto de vista, tomada dos povos indígenas que já habitavam essa região há séculos ou milênios.
Essas comunidades eram provavelmente da etnia kiriri, hoje “reduzida” à biocenose quilombola no atual município de Banzaê. Vestígios de cemitérios indígenas, como urnas funerárias e ossadas foram encontrados em Paripiranga e na cidade de Cícero Dantas, quando da construção do estádio municipal daquela cidade. Aqui em Fátima, achados arqueológicos guardados por populares como um artefato emblemático encontrado na localidade fatimense da Lagoa da Volta, nos ajuda a contar essa história. Um deles é uma belíssima ponta de lança entalhada em pedra lascada que ainda necessita de estudos posteriores, nos ajudando, dessa forma, a deduzir que os colonos foram expulsando os kiriris de leste para oeste, isto é, partindo do litoral, chegando aos atuais territórios de Paripinga, Fátima, Cícero Dantas e finalmente a posição atual em Banzaê.
Mas voltando a falar dos vaqueiros, sua chegada a essa região é documentada, de acordo com Isabel Camilo de Camargo (2014), em princípios dos século XVIII. Com a saturação das terras litorâneas, amplamente utilizadas para a lavoura canavieira, era preciso avançar em direção ao interior na busca de terras para a pecuária e alimentar a crescente população.
Os cursos dos rios foram os caminhos mais “fáceis”, sendo as principais rotas o São Francisco, que à época chegou a ser conhecido como “o rio dos currais”, o Itapicuru e o Vaza-barris, este último, provável rota utilizada pelos primeiros brancos a chegarem a esta região. Viajando a pé, os desbravadores conduziam suas boiadas enfrentando as dificuldades impostas pela natureza como a vegetação, terrenos de difícil acesso e similares para se estabelecer em locais propícios ao seu ofício, expulsando os indígenas que pouco poder de resistência tinham contra os invasores.
Essas “conquistas”, aliás eram motivos de prendas concedidas a estes homens pela coroa portuguesa, que cedeu as áreas antes dominada por indígenas aos próprios criadores de gado com a intenção de estabelecer o domínio da terra pela coroa portuguesa e de fazer com que esta produza e gere lucros.
E foi assim que o interior baiano e as terras que hoje compõem o atual município de Fátima foram colonizadas. Nascidas da violência contra os povos autóctones e da desejo de consecução do homem branco, Fátima hoje guarda nas tradições do seu povo as suas origens ocultas.

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