O
mapa acima, retirado da obra Entre padres e coronéis: Como as disputas
oligárquicas deram forma ao município de Paripiranga, mostra que as
ambições de Sergipe quanto ao território fronteiriço com a Bahia, iam além da
região da atual Fátima.
A
área que aparece no mapa de 1918 como “contestada pela Bahia”, referindo-se á
área em litígio, compreende uma zona muito grande que se estende para oeste da
fronteira, passando pela vila de patrocínio de Coité (atual município de
Paripiranga), as terras que hoje compreendem Fátima (em destaque no mapa), pelo
município de Bom Concelho, Atual Cícero Dantas, chegando até as imediações do
município de Jeremoabo.
Segundo
Carregosa (2019), em finais do século XIX e início do século XX, houve um
fortalecimento dos interesses sergipanos nesta região com a chegada do padre
João de Matos Freire de Carvalho, natural do vizinho município sergipano de Simão
Dias, à paróquia de Patrocínio de Coité (Paripiranga). As ações do vigário em
favor da anexação desta área em litígio por Sergipe foram significativas. Segundo
este autor, à partir de 1904, o religioso fez uma “conferência” (ato de
conferir) no Instituto Histórico Geográfico do Estado de Sergipe (IHGS) que
culminou em um manifesto publicado em 14 de setembro de 1904 em Paripiranga em
favor da anexação. “O vigário teria feito viagem pelo sertão com binóculo, mapa
e documentos históricos dos verdadeiros limites” (CARREGOSA, 2019, P. 152).
A
Viagem a que o autor se refere é uma visita feita pelo padre João de Matos à
Serra do Capitão, localizada no atual município de Adustina, este também
integrante da zona de contestação explicitada no mapa, em 22 de dezembro de
1904. Na oportunidade, o vigário se convenceu de que essas terras deveriam
pertencer geograficamente à Sergipe.
A
atuação do padre, de acordo com Carregosa, provocou a ira das lideranças locais
que não estavam interessadas nos resultados oriundos deste litígio. Tendo o
intendente de Patrocício do Coité à época, Joaquim de Matos, e representantes
do poder legislativo municipal, encaminhado um manifesto ao governador da Bahia
à época, José Marcelino, comunicando a intenção das autoridades políticas de
Paripiranga de permanecerem habitantes do estado da Bahia. O decreto foi
encaminhado pelo governador para publicação em diário oficial na edição de 20
de novembro de 1904.
O
referido autor nos conta ainda que, em 1913, quando inicia-se as discussões
para o desmembramento do município de Coité do vizinho Anápolis (atual Simão
Dias), a situação toma proporções maiores e mais graves. Na época, militares
sergipanos chegaram a ocupar áreas do território baiano, levando o intendente
do coité a telegrafar para o então governador da Bahia J.J Seabra em 6 de
janeiro de 1914.
A
notícia da ocupação sergipana enfureceu a cúpula do poder político baiano
incluindo o então senador Ruy Barbosa que protestou com veemência acerca da
atitude sergipana. O governador Seabra reagiu, contudo, o conflito foi
provavelmente evitado nos bastidores da política sob a tutela da forte influência
baiana no Rio de janeiro e quando os cinquenta praças da polícia baiana
chegaram à Paripiranga, as tropas de Sergipe já haviam se retirado.
O
governo Seabra, envia então um emissário para a região. Seu nome era Braz do
Amaral. Este faz meticulosa análise da situação local, reunindo-se com
políticos de ambos os lados entre 1913 e 1914 e concluindo que a Bahia
precisava “cuidar melhor da região” para evitar novas investidas do estado vizinho.
O conflito, no entanto, foi definitivamente encerrado por Getúlio Vargas que
decidiu a questão em favor da Bahia como uma espécie de agradecimento pelo envio
de tropas baianas para combater ao lado do governo federal na revolução de 1932
contra os paulistas.
O
que fica para nós, habitantes de Fátima e região é a dúvida quanto ao que teria
acontecido com esses pequenos municípios fronteiriços se tivessem sido
efetivados como parte do estado de Sergipe. Em virtude do colossal tamanho da Bahia, os
habitantes desta região, via de regra, buscam apoio em terras sergipanas.
Aracaju é também, em grande medida, nossa capital, pois é lá que encontramos
boa parte dos serviços de saúde, educação e lazer de que necessitamos em
virtude da imensa distancia da capital baiana.
O
conselho de Braz do Amaral, enviado pelo governo do estado para avaliar a
situação desta zona de conflito há mais de cem anos, continua válido nos tempos
de hoje. Sem dúvidas a Bahia deveria cuidar melhor dessa área do estado, não
por questões de disputas territoriais, mas, isto sim, por uma questão de
respeito aos milhares de baianos mal tratados pela morosidade estatal.
Professor Moisés Santos Reis.
Observação: As referências deste texto ainda
estão incompletas pois este é parte de uma pesquisa maior e esta versão foi
preparada exclusivamente para fins de divulgação no facebook bem como de
incentivo à pesquisa da nossa história. Para a posterior publicação, correções
de diversas ordens ainda deverão ser feitas.
Muito legal o texto, a muito tempo tenho dúvida sobre essa questão. Ainda hoje, eu acho que a região citada incluindo a área que compreende nosso município de Fátima se tivesse sido anexada ao estado vizinho de Sergipe, creio que seria uma área muito mais forte economicamente tendo políticas públicas mais efetivadas pois estariamos muito próximos a então sede estadual/politico/administrativo, chamada de Aracaju.
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