O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Como o território que constitui a atual cidade de Fátima foi efetivado como parte do estado da Bahia?


O mapa acima, retirado da obra Entre padres e coronéis: Como as disputas oligárquicas deram forma ao município de Paripiranga, mostra que as ambições de Sergipe quanto ao território fronteiriço com a Bahia, iam além da região da atual Fátima.
A área que aparece no mapa de 1918 como “contestada pela Bahia”, referindo-se á área em litígio, compreende uma zona muito grande que se estende para oeste da fronteira, passando pela vila de patrocínio de Coité (atual município de Paripiranga), as terras que hoje compreendem Fátima (em destaque no mapa), pelo município de Bom Concelho, Atual Cícero Dantas, chegando até as imediações do município de Jeremoabo.
Segundo Carregosa (2019), em finais do século XIX e início do século XX, houve um fortalecimento dos interesses sergipanos nesta região com a chegada do padre João de Matos Freire de Carvalho, natural do vizinho município sergipano de Simão Dias, à paróquia de Patrocínio de Coité (Paripiranga). As ações do vigário em favor da anexação desta área em litígio por Sergipe foram significativas. Segundo este autor, à partir de 1904, o religioso fez uma “conferência” (ato de conferir) no Instituto Histórico Geográfico do Estado de Sergipe (IHGS) que culminou em um manifesto publicado em 14 de setembro de 1904 em Paripiranga em favor da anexação. “O vigário teria feito viagem pelo sertão com binóculo, mapa e documentos históricos dos verdadeiros limites” (CARREGOSA, 2019, P. 152).    
A Viagem a que o autor se refere é uma visita feita pelo padre João de Matos à Serra do Capitão, localizada no atual município de Adustina, este também integrante da zona de contestação explicitada no mapa, em 22 de dezembro de 1904. Na oportunidade, o vigário se convenceu de que essas terras deveriam pertencer geograficamente à Sergipe.
A atuação do padre, de acordo com Carregosa, provocou a ira das lideranças locais que não estavam interessadas nos resultados oriundos deste litígio. Tendo o intendente de Patrocício do Coité à época, Joaquim de Matos, e representantes do poder legislativo municipal, encaminhado um manifesto ao governador da Bahia à época, José Marcelino, comunicando a intenção das autoridades políticas de Paripiranga de permanecerem habitantes do estado da Bahia. O decreto foi encaminhado pelo governador para publicação em diário oficial na edição de 20 de novembro de 1904.
O referido autor nos conta ainda que, em 1913, quando inicia-se as discussões para o desmembramento do município de Coité do vizinho Anápolis (atual Simão Dias), a situação toma proporções maiores e mais graves. Na época, militares sergipanos chegaram a ocupar áreas do território baiano, levando o intendente do coité a telegrafar para o então governador da Bahia J.J Seabra em 6 de janeiro de 1914.
A notícia da ocupação sergipana enfureceu a cúpula do poder político baiano incluindo o então senador Ruy Barbosa que protestou com veemência acerca da atitude sergipana. O governador Seabra reagiu, contudo, o conflito foi provavelmente evitado nos bastidores da política sob a tutela da forte influência baiana no Rio de janeiro e quando os cinquenta praças da polícia baiana chegaram à Paripiranga, as tropas de Sergipe já haviam se retirado.
O governo Seabra, envia então um emissário para a região. Seu nome era Braz do Amaral. Este faz meticulosa análise da situação local, reunindo-se com políticos de ambos os lados entre 1913 e 1914 e concluindo que a Bahia precisava “cuidar melhor da região” para evitar novas investidas do estado vizinho. O conflito, no entanto, foi definitivamente encerrado por Getúlio Vargas que decidiu a questão em favor da Bahia como uma espécie de agradecimento pelo envio de tropas baianas para combater ao lado do governo federal na revolução de 1932 contra os paulistas.
O que fica para nós, habitantes de Fátima e região é a dúvida quanto ao que teria acontecido com esses pequenos municípios fronteiriços se tivessem sido efetivados como parte do estado de Sergipe.  Em virtude do colossal tamanho da Bahia, os habitantes desta região, via de regra, buscam apoio em terras sergipanas. Aracaju é também, em grande medida, nossa capital, pois é lá que encontramos boa parte dos serviços de saúde, educação e lazer de que necessitamos em virtude da imensa distancia da capital baiana.
O conselho de Braz do Amaral, enviado pelo governo do estado para avaliar a situação desta zona de conflito há mais de cem anos, continua válido nos tempos de hoje. Sem dúvidas a Bahia deveria cuidar melhor dessa área do estado, não por questões de disputas territoriais, mas, isto sim, por uma questão de respeito aos milhares de baianos mal tratados pela morosidade estatal.

Professor Moisés Santos Reis.

Observação: As referências deste texto ainda estão incompletas pois este é parte de uma pesquisa maior e esta versão foi preparada exclusivamente para fins de divulgação no facebook bem como de incentivo à pesquisa da nossa história. Para a posterior publicação, correções de diversas ordens ainda deverão ser feitas.

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