Os
primeiros desbravadores da atual região de Fátima, aqueles que tomaram a terra
dos indígenas, foram os vaqueiros. Sua chegada é datada em princípios do século
XVIII e provavelmente se deu através das margens do rio Vasa Barris a serviço
da família da Casa da Torre, descendentes de Garcia D’ávila.
Posteriormente, estradas precárias
foram sendo abertas ligando o sertão, como era conhecida toda a área
interiorana da colônia, ao litoral onde ficavam os grandes engenhos de açúcar e
a maior parte da população. As estradas serviam para que mercadorias do litoral
como cosméticos e artigos manufaturadas, geralmente vindos da Europa e
sobretudo Inglaterra, chegassem ao sertão, mas por elas também transitavam os
produtos sertanejos como o fumo, a farinha, o feijão, o milho e o algodão em
direção às zonas de consumo no litoral.
Na atual cidade de Fátima, mais precisamente
na atual rua Raimundo Oleiro passava uma estrada conhecida entre os moradores
mais antigos como “Estada Real”. Apesar do nome, era esta, um ramal de uma
grande rede de estradas que permitiam as trocas comerciais entre o sertão e as
zonas litorâneas, quebrando assim o isolamento no qual viviam essas pequenas
localidades.
A nomenclatura “Estrada Real” foi
amplamente utilizada em toda a colônia, do Sul ao norte existem relatos e até mesmo
vestígios das próprias estradas que carregavam esse nome ainda preservadas em
pequenos trechos. Eram assim chamados os cominhos ou estradas por onde era
permitido o transporte de mercadorias nos tempos do império, era proibido a
utilização de qualquer outra estrada para fins comerciais, considerado “crime
de lesa majestade”.
É difícil dizer, dada a escassez de
documentos e estudos sobre o tema, quando a estrada que passava por Fátima foi
construída. O fato é que, ao longo dos percursos destes precários caminhos,
foram sendo erguidas pequenas comunidades que serviam de entreposto para os
viajantes a transitar com as boiadas do litoral para o sertão e do sertão para
o litoral.
Essas localidades, aliás, desempenhavam
papel importante nessa rede de comércio. Para citar um exemplo, as reses
prejudicadas pela longa viagem eram vendidas nos povoados a beira da estrada
por baixos preços, onde eram abatidas e consumidas nas feiras da locais. O
maior entreposto desta região era mesmo a vila de Canabrava (Ribeira do Pombal).
Sua fundação está intimamente ligada ao transporte da gado em direção ao Rio
São Francisco.
Essas estradas eram essenciais para o
problemático abastecimento de Salvador, (Então capital do Brasil) que dependia
delas para acessar os produtos vindos do sertão, sobretudo o acesso ao gado,
criado nas áreas sertanejas próximas aos grandes cursos d’água e transportados
à capital para abastecer o mercado de carne.
Com o passar dos anos e a decadência da
economia açucareira, essas estradas continuaram servindo de ligação entre o
interior e as cidades maiores. Por elas tropeiros, viajantes que transitavam
com tropas de burros, levavam as mercadorias sertanejas para os centros urbanos
de maior porte, assim como traziam mercadorias de diversas ordens.
A estrada real que serviu a esse
município, provavelmente originou-se à partir da província de Sergipe e foi via
de ligação desta zona fronteiriça com o este estado, conforme me foi relatado
pelo senhor Antônio André, que era conhecido na cidade por “Seu Tota”. Esse com
frequência relatava as suas andanças com tropa de burros de Fátima para
Aracaju, onde passava até oito dias na estrada dormindo em abrigos improvisados
conhecidos como “latadas”.
Isto posto, é possível afirmar que tal
estrada foi um dos primeiros caminhos abertos entre a vegetação nativa que
permitiu o acesso da pequena população sertaneja aos produtos vindos do litoral,
bem como escoamento da produção agropecuária e o próprio contato com pessoas de
culturas diferentes.
É a história nos ensinando que uma
simples estrada, hoje uma pacata rua da nossa cidade, carrega tantas lembranças.
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