O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Antônio Conselheiro esteve em Fátima?




Já faz 126 anos desde que as tropas do general Artur Oscar de Andrade Guimarães arrasou o arraial de canudos, devastando a maior parte dos combatentes conselheiristas.
Conselheiro nasceu em Quixeramobim no Ceará a 13 de março de 1830, perambulou pelos sertões ao longo de duas décadas construindo e reformando igrejas e cemitérios. Monarquista convicto, por causa de divergências como a obrigatoriedade do casamento civil, em detrimento do religioso, como obrigatório para a união matrimonial ser oficializada, angariou muitos seguidores com suas pregações. O sertão nordestino da república velha era uma terra arrasada e faminta sem qualquer intervenção do estado em favor da sua população. Foi nesse cenário que muitos sertanejos decidiram seguir o conselheiro em busca de uma vida melhor do que a que levavam até então.
No final do século XIX, período anterior à formação do arraial de Canudos, o governo federal havia decretado a autonomia da cobrança de impostos pelos municípios, dotando as câmaras municipais o poder de estabelecer autonomamente as regras da cobrança de impostos e fazer a coleta diretamente junto ao cidadão.
Os fiscais do governo andavam pelas propriedades urbanas e rurais recolhendo impostos dos raros excedentes da população extremamente empobrecida desta árida terra, o que levou ao aumento do descontentamento da população com a recém nascida república.
De passagem pela vila do Bom Conselho (atual Cícero Dantas) no ano de 1893, de acordo com Souza (2008), o conselheiro e seus seguidores quebraram as tábuas dos impostos pregadas em um órgão público, demonstrando assim o seu descontentamento com o regime republicano. Aquela teria sido uma das primeiras insurgências significativas dos conselheiristas.
Antes disso, contudo, segundo Carvalho Deda (2008), Antônio Conselheiro e parte do seu grupo tem passagem registrada na vila de Patrocínio do Coité (Paripiranga) de onde fora expulso pelo vigário local e teria sido acolhido na casa de populares. Essa passagem é registrada, como dito, por Carvalho Déda, mas há outras passagens com registro seguro em Lagarto e Itabaiana.
Á partir deste momento, o que nos resta é a dedução lógica, isto é, como não há registros sobre haver moradias onde hoje é Fátima no final do século XIX e sabendo que esta surge a meio caminho das Vilas de Bom Conselho e Patrocínio do Coité, nos é possível deduzir que os seguidores de Antônio Conselheiro passaram por essas terras pois são o caminho mais curto entre as duas localidades supracitadas.
É possível que este território de Fátima abrigasse, já à época, pequenas fazendas de posseiros, considerando que as terras pertenciam ao Barão de Jeremoabo, contudo, não restam registros significativos de tais pessoas e propriedades.
Dessa forma, diante das evidência fornecidas pelas fontes históricas, acredito ser imprudente qualquer tipo de afirmação neste momento. Quanto à relação entre os conselheiristas e Fátima, só nos é possível assegurar que as terras onde a cidade se localiza compõe a região geográfica onde Antônio Conselheiro fez suas pregações naquele conturbado final do XIX. A informação dada a mim por seu Faustino na entrevista que me concedeu aos 106 anos, meses antes de morrer, reforça essa ideia. Segundo ele, a sua mãe chegou a assistir uma das pregações do conselheiro na sua passagem pelo Bom Conselho.

Este texto teve a importante colaboração do professor Marcos José de Sousa, estudioso do movimento de Canudos.


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