O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Os clubes recreativos. Redutos da aristocracia.

Festa de Outubro de 1973 no Clube de Zé de Bilu.

Ainda na primeira metade do século XX, vigorava em toda a região nordeste o costume de manter clubes recreativos destinados aos bailes do setor mais rico da sociedade. A prática parece ter sido herdada ainda dos tempos imperiais, onde a alta sociedade dos grandes centros urbanos reunia-se em festas pomposas nas residências dos mais ricos.
            Os bailes do século XX também aconteciam em residências, contudo, decidiu-se construir espaços específicos, contando com estrutura necessárias para a realização dos bailes. Assim, eram erguidos galpões com palcos a fim de receber as atrações musicais. Isso ocorria tanto nos grandes centros urbanos como nas pequenas localidades interioranas.
            De acordo com Souza (2008), na então cidade de Cícero Dantas, que passou a assim chamar-se em 1915, o costume de reunir a alta sociedade em clubes despontou à partir de 1955, quando da construção do primeiro clube da cidade denominado Clube Recreativo Caimbés (CRC) que já contava com estatuto próprio a fim de reger a convivência entre seus membros. Já em 1962, ainda de acordo com o mesmo autor, foi organizada a Associação Recreativa Bonconselhense (ARB), que existiu até os anos 1990 com cede própria próximo ao Banco do Brasil.
            A ARB reunia os mais abastados do município e foi construída por iniciativa dos funcionários do Banco do Nordeste. Realizava eventos fechados e cumpria o ritual de separar pobres e ricos. Os bailes dos mais pobres realizavam-se nas praças ou residências, frequentemente ao som do forró e do pagode tocados por radiolas portáteis. Nos clubes, os eventos contavam com bandas que faziam sucesso regional, no caso da ARB apresentaram-se conjuntos musicais como Los Mexicanos, Orquestra Guanabara com Agnaldo Timóteo cantando e outros.
            Em Paripiranga, cuja composição aristocrática era mais complexa e antiga que a de Cícero Dantas, grandes clubes foram organizados. Já na década de 1940, a sociedade paripiranguense contava com seus clubes recreativos que serviam aos mais ricos e tinham também o objetivo segregacionistas.
            Na vila de Fátima, o primeiro clube é datado dos anos 1960. Embora mais modesto, o Clube de Zé de Bilu, que permaneceu funcionando satisfatoriamente até os fins dos anos 1990, reunia as famílias mais abastadas. As festas eram fechadas ao grande público. Existiu em três espaços diferentes. O primeiro onde hoje se localiza o supermercado Nossa Senhora de Fátima, depois onde hoje é o supermercado Bitencourth e, mais recentemente, nos fundos desse.
            De acordo com Dona Brinco, em entrevista concedida à Juan K. Menezes, as festas contavam com bandas como Los Guaranis e outras de atuação regional. Pelo que consta, a cantora Diana foi a atração mais famosa a se apresentar no Clube. Mulheres só entravam acompanhadas dos pais ou dos maridos, de modo que as moças de hábitos em desacordo com a sociedade patriarcalista e conservadora eram sumariamente barradas.
            As festas de rua na vila de Fátima eram raras, acontecendo somente nas festividades do natal. A diversão do grande público ficava à cargo das radiolas de pilha que embalavam as festas da juventude fatimense. Outra tendência que passou a vigorar entre os fatimenses foram as discotecas. Mais democráticas e abertas à toda a sociedade, as discotecas, por via de regra, não contavam com a apresentação de bandas, mas possuíam um sistema de som para animar os frequentadores.
            Em Fátima, tivemos a discoteca de Temir, chamava-se Dancin Days e funcionava onde hoje é a Farmácia São Lázaro e o famoso bar São Paulo.


Festa no Clube de Zé de Bilu.

Fachada da discoteca de Temir, onde hoje é a farmácia São Lázaro.

Obs: Esse artigo tem como coautor Juan K. Menezes.

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