Na última quinta-feira entrevistamos o senhor
José Nonato de Oliveira. Seu Nonato, como é conhecido pela população local é
dono de uma propriedade que abrange boa parte do que foi a antiga fazenda Maria
Preta, uma propriedade que utilizava mão-de-obra escrava em suas atividades até
o fim da escravidão com o advento da lei Áurea em 13 de maio de 1888.
Segundo Nonato, a antiga fazenda Maria Preta abrangia
boa parte do que hoje é a sede do município e foi adquirida por ele parte por
herança e parte por aquisições posteriores.
Durante a juventude ele acostumou-se a ouvir
do seu pai, Camilo Bento, a história de que em determinado ponto da fazenda
havia uma série de ossadas de escravos que havia sido precariamente sepultados
em fins do século XIX. A história só ganharia status de realidade para ele
quando, em princípios dos anos 2000, durante um trabalho de beneficiamento do
terreno em frente a famosa “Lagoa de Nonato”, o maquinista do trator contratado
para realizar o serviço descobriu um maxilar humano, perfeitamente preservado a
despeito dos mais de 100 anos que ali permaneceu.
Essa história, narrada durante uma amistosa
conversa, nos mostra um aspecto intrigante do nosso passado e liga a história
do município, que ainda nem existia na época, ao escravagismo vigente no Brasil
por mais de 300 anos. As pessoas que foram sepultadas de forma tão desumana em
meio ao matagal de uma fazenda foram vítimas da crueldade de uma sociedade que
acostumou-se a enxergá-las como mercadoria.
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