O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Fuga de escravizados em Fátima e região

Disponível em: http://www.muitointeressante.com.br/blog/a-doenca-que-fazia-os-negros-fugirem-da-escravidao


O processo de colonização que os portugueses implantaram no Brasil era demasiadamente dependente da mão-de-obra escrava. Foi o braço de africanos trazidos da sua terra natal para a América Portuguesa (Brasil) que construiu a pátria que conhecemos hoje.
A escravidão brasileira não carece de romantização. As histórias que contam de uma relação pacífica entre escravos e senhores de escravos é exceção e, com efeito, visam suavizar as condições brutais às quais os negros eram submetidos durante os mais de três séculos de regime escravista no Brasil.
Homens, mulheres e crianças eram submetidos, para ficar em alguns poucos e espaços exemplos, aos mais diversos castigos físicos e psicológicos como: Marcação à ferro, chicotadas, ficavam confinados em espaços impróprios e desconfortáveis, abusos sexuais e tantos outros abusos.
Uma das principais formas de resistência, não a única, empreendida por aquelas pessoas era a fuga. Sempre que havia a possibilidade, os escravizados buscavam escapar em busca de uma vida um pouco mais digna. Muitos procuravam fazendas onde os escravos eram menos judiados e imploravam asilo para os senhores, outros, contudo, preferiam viver no meio do mato nos chamados quilombos.
Na região de Fátima e municípios vizinhos não há registro de quilombos formados à partir de escravos foragidos. Temos, em Fátima, uma comunidade quilombola, a Serradinha, que foi formada por descendentes de escravos vindos da região de fronteira com Sergipe. (Sobre a Serradinha, aliás, abordaremos esse tema específico em outro artigo aqui no Blog HF em outra oportunidade, citando um belo trabalho de acadêmicos do curso de história da Unit feito junto à referida comunidade).
Isso não significa, sobremaneira, que não houveram inúmeras e notórias fugas de escravos aqui na região. Isaura Borges, bisneta de dono de escravos, relatou em entrevista concedida aos professores Maria São Pedro e José Domingos, as fugas dos escravos do dono da fazenda Maria Preta, Severo Correia. Diversos moradores mais antigos da cidade lembram da crueldade com que Severo tratava o seu plantel.
Segundo relatos, havia, até pouco tempo, nas proximidades da região do Pisa-Macio, uma árvore (pé de caixão, como é conhecida a espécie entre os populares) que servia de tronco para os castigos dos escravos do fazendeiro que não hesitava em mandar castigar os seus negros por muito pouca coisa.
A consequência mais natural dos maus tratos de Severo eram as fugas dos seus escravos. Ainda segundo relatos, ele precisou ir por diversas vezes à Jeremoabo para resolver na justiça (Fátima, Cícero Dantas, Adustina, Paripiranga e demais municípios vizinhos compunham a comarca de Jeremoabo na época) para resolver questões de escravos fugidos e capturados por outros fazendeiros.
As fugas eram brutalmente combatidas. Com frequência, os fujões eram severamente castigados para que servissem de exemplo para os demais. Além disso, os negros fugidos eram frequentemente caçados com violência pelos capitães do mato.
Como não poderia deixar de ser, essa nossa região também tem registrada em sua história as fugas de escravos tão comuns em toda a colônia. Onda há opressão sempre haverá resistência.

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