Corisco e o cangaceiro Vinte e Cinco, natural de Paripiranga. |
Na grande obra de José Lins do Rego, “Fogo
Morto”, narra-se a dureza da vida em uma terra dominada por coronéis e uma
organização social quase que estamental na qual tornava-se praticamente impossível
qualquer tipo de mobilidade social.
Narra de forma magnifica os desmandos dos
poderosos cuja terra é seu domínio e as vidas que nela vivem têm quase que a
mesma relação de posse. O mestre José Amaro é o símbolo disso. Vive em uma casa
dentro do engenho Santa fé, do coronel Lula de Holanda. Tem por obrigação
seguir os ditames do latifundiário a pretexto de ser expulso e não ter para
onde ir. Apesar das habilidades de mestre no trato com o couro não tem posses,
seus bens são sua tralha de trabalho, uma esposa e uma filha.
O mestre da vida real, Estácio de Lima,
escreveu “O Mundo Estranho dos Cangaceiros” onde se debruça sobre as condições
que levaram tantos homens e mulheres a enveredarem pelos caminhos do
cangaceirismo a viver sem sorte vagando pelas caatingas.
Apesar de admitir fatores sociais e econômicos
como os narrados em “Fogo Morto”, Lima (2006) analisa as condições de vida do
sertanejo ligadas ao clima. Para ele as secas intermináveis que consumiam a
plantação, o gado e a água de beber, arrematadas pelas enxurradas que se
seguiam de uma só vez conferindo ainda mais crueldade àquelas pessoas, agia
como uma trituradora de vidas. Assim, como em um moinho de seres humanos, o seu
produto final era a construção de um indivíduo forte, capaz de suportar com
relativa facilidade as brigas cruéis com a polícia.
O caboclo que emergia daquela terra dura não
se importava com a morte, nem a sua. Muito menos as de seus inimigos. Afinal,
morrer não poderia ser muito mais ruim do que viver. Foi dessa vida cruenta,
comungada com a violência policial, a pobreza e o sofrimento, que nasceram
lampiões, coriscos, Marias Bonita e tantos outros que ficaram marcados pela
crueldade. Sua e contra si.
Não por acaso, em “Fogo Morto”, o Mestre José
Amaro busca refúgio no bando do cangaceiro Antônio Silvino, não por acaso,
Virgulino e tantos outros entram para o cangaço após a violência contra os
seus, não por acaso os filhos das favelas adentram os caminhos do tráfico de
drogas.
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