Cabeças dos 11 cangaceiros mortos em Angico |
Aqueles que se interessam minimamente por
história, neste caso, história do cangaço, vão lembrar com relativa facilidade
de um macabro costume das lutas entre cangaceiros e volantes.
Era comum que os soldados, ao matar um cangaceiro
(a) decepassem as cabeças dos bandoleiros, geralmente a golpes de facão. Existem
diferentes versões entre os estudiosos do cangaço para justificar tal prática. A versão mais aceita, contudo, é que o costume se daria em virtude da
necessidade de provar para autoridades e a sociedade como um todo que o feito (o
assassinato de um cangaceiro) tinha sido concretizado.
Na impossibilidade de levar o corpo inteiro
para a cidade ou vila mais próxima (é bom lembrar que volante e cangaceiros,
por via de regra, viajavam à pé) os policiais simplesmente cortavam as cabeças
dos cangaceiros e levavam o macabro troféu. Outra parte do ritual que comprava
esta versão é a fotografia de registro. Na grande maioria dos casos, as cabeças
eram fotografadas prontamente.
Na semana passada, eu e o radialista Carlos
César, visitamos o senhor Sebastião, morador do formigueiro, hoje com quase cem
anos. Seu Sebastião, muito lúcido e altivo, nos contou que foi caçador durante
a maior parte da sua vida, afirma ter criado os seus 14 filhos à partir desse ofício.
Por diversas vezes, este caçador perambulou
pelas proximidades do Jardim, distrito que fica na fronteira entre as cidades de
Adustina e Coronel João Sá. O local foi palco de “um fogo” (luta entre
cangaceiros e volantes) entre o bando de Labareda e a volante do tenente Odilon
Flor. No combate, morreram Mariquinha, Mulher de Labareda e mais dois
cangaceiros. Como era de costume, as cabeças dos três foram decepadas e os
corpos enterrados ali mesmo.
Pensar em pessoas cujas cabeças eram cortadas
leva, com certa naturalidade, as pessoas a criarem toda uma mística em torno
dos fatos e neste caso não seria diferente.
Seu Raimundo, entre as suas diversas histórias
de uma vida longa, afirma categoricamente que toda a região ainda hoje é
assombrada pelos espíritos dos cangaceiros mortos quase cem anos atrás.
Segundo ele, certo dia, estava caçando com
outro companheiro quando deparou-se com o fantasma de um cangaceiro perambulando
pela caatinga sem a cabeça. Afirma, contudo, que não sentiu medo do espectro,
mas que seu companheiro de caça nunca mais voltou à referida região.
Não se trata aqui de acreditar ou não no
fato, trata-se, isto sim, de compreender que a brutalidade dos tempos dos
embates entre cangaceiros e volantes acabou por criar toda essa mística entre a
gente simples dessa nossa região. Seu Sebastião é só mais uma pessoa sensibilizada,
em sua simplicidade de homem do campo, por toda aquela violência dos tempos de
Lampião em seus cangaceiros.
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