Cangaceiro, Panca (ao centro), Vinte e Cinco à esquerda e Peitica à direita. Acervo de Kiko Monteiro. |
Jessé Souza, em sua obra, “A Ralé
Brasileira”, discorre sobre aquilo o que chama de “Ética da Virilidade”. É
esta, uma espécie de pacto social velado comum em toda uma classe social do
nosso pais, a bem dizer, a classe que ele denomina provocativamente de “Ralé
brasileira”.
Tal pacto, é extremadamente difundido de
forma irreflexiva entre todo esse segmento social permeando o seu cotidiano,
ditando os costumes de milhões de brasileiros. Essa ética confere valor aos
atributos de robustez dos homens, hierarquizando esses indivíduos de acordo com
seu comportamento. É assim, por exemplo, que homens com características mais
masculinas como a valentia e a coragem, são muito bem vistos socialmente.
Entretanto, atitudes mais cotidianas e sutis vão aos poucos montando um “cabra
macho” no imaginário popular. Características como: Comer em demasia, possuir
força física notória, praticar sexo com frequência e outras, são consideradas
atributos positivos de um homem. A
lógica também se aplica de forma inversa. A ausência desses “atributos”, são,
com frequência, associados ao homossexualismo ou a fraqueza.
Entre as classes mais favorecidas, para citar
um exemplo, uma outra lógica se aplica. Aquilo o que é considerado qualidades
entre os homens mais pobres como comer em demasia é com frequência visto como
sinal de um indivíduo bronco. Para esses homens mais abastados, os principais
atributos socialmente aceitos são: Falar mais de um idioma, apreciar vinhos e
concertos, uma fala mais rebuscada dentre outros.
Mas o que isso tem a ver com o cangaço?
Essa relação dar-se no âmbito da admiração
que o sertanejo tinha e tem, pelos cangaceiros, sobretudo pelo capitão
Virgulino, seu símbolo maior. A despeito das polêmicas entre julgar cangaceiros
como heróis ou vilões, é público e notório a existência de uma mística de
admiração por aqueles homens que perambulavam pela caatinga brigando com
fazendeiros e policiais, enfrentando com bravura indômita a repressão do estado
e os rigores do clima.
É perfeitamente possível que exista nessa
admiração um princípio que nos leve em direção a ética da virilidade abordada
por Jessé Souza. Os cangaceiros e suas ações nada mais eram do que a
personificação do homem viril.
É claro que fatores como as ações das
volantes frente à população desprotegida, sua brutalidade e frieza que fazia
desses agentes públicos figuras mais temidas que os próprios cangaceiros
ajudaram na construção desse mito e deram aos cangaceiros que, a despeito da
sua crueldade, sabiam tratar bem seus coiteiros e aqueles a quem consideravam
amigos uma aura de heroísmo. Isto posto, me sinto confortável em afirmar que há
nessa relação uma identificação sociológica, uma sentimento de pertencimento e
admiração baseados na ética da virilidade.
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