O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

O cangaceiro Vinte e Cinco


Nascido em 1917, no atual município de Paripiranga, na fazenda Alagoinha, José Alves de Matos entrou para o cangaço no dia 25 de dezembro de 1933, com apenas dezesseis anos. A data do seu ingresso no bando de Corisco, o diabo loiro, serviu para o seu batismo no mundo do cangaço.
            Não há registros de sua atividade no município de Fátima, contudo, dada a proximidade de Paripiranga, não é possível descartar que ele, junto ao grupo de Corisco tenha andado por essa região.
            No dia 28 de Julho de 1938, escapou do massacre da grota do angico, onde morreram Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros, por que havia deixado o esconderijo horas antes para buscar armamentos junto a um coiteiro da região.
            Viveu uma vida longeva após depor as armas e se entregar à polícia em Poço Redondo no estado de Sergipe. Morreu aos 97 anos em 2014, em Maceió, Alagoas, não sem antes deixar importantes registros do cangaço em diversas entrevistas para pesquisadores. Foi o último dos cangaceiros a morrer.
            Bem articulado com as palavras, denunciou em entrevista para Aderbal Nogueira a crueldade das volantes com os sertanejos nos tempos de perseguição. Segundo ele, o povo pobre do sertão tinha mais medo da polícia do que dos cangaceiros.
            Descreveu com riqueza de detalhes a vida que os cangaceiros levavam, com destaque para o respeito que os companheiros tinhas com as mulheres do bando. “A mulher de um cangaceiros era como uma irmã para os demais”, afirmou.
            Quando eu era criança, minha família era vizinha de “Seu Liberino”, para quem não lembra, esse era o nome através qual toda a cidade conhecia o ex-volante, Liberino Vicente. Talvez pela proximidade, as histórias de cangaceiros eram, de certa forma, recorrentes em nossa casa. Lembro do meu pai atribuir a espessura da parede da fachada da casa onde morávamos (cerca de 40 cm) ao fato de esta, umas das casas mais antigas da cidade, ter sido construída com o intuito de suportar os tiros de fuzil de cangaceiros.
Uma das histórias contadas por meu pai que mais me marcou e que pude com muita alegria confirmar nas palavras do cangaceiro Vinte e cinco, foi a que dizia que Lampião andava sempre munido de uma colher de prata, que supostamente, ao entrar em contato com a comida envenenada, mudava a coloração, denunciando a tentativa de assassinar o rei do cangaço. Me lembro nitidamente desta história e lembro que certa vez eu e minha irmã encontramos no quintal de casa uma colher que supostamente era feita de prata. Este artefato se perdeu no tempo, há muitos anos não a vejo e nem sei que fim levou.
            Vinte e Cinco é mais uma prova de que a região de Fátima compunha, nos anos 1920-1930 o chamado “corredor de cangaceiros”, com intensa atividade de bandos muito bem documentados pela literatura especializada e pela memória da sua gente.


Corisco e Vinte e Cinco fotografados por Benjamin Abrahão entre os anos de 1936 e 1937.

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