Foto ilustrativa. Disponível em: http://www.morrodomoreno.com.br/materias/linguajar-do-tropeiro-por-ormando-moraes.html |
O grande poeta e músico Luiz Gonzaga escreveu
“Apologia do Jumento”, tornando célebre esse animal amplamente conhecido e
querido entre nosso povo. Entretanto, um outro animal de porte semelhante,
também merece a nossa homenagem por ter contribuído para a formação do nosso
povo ao longo dos séculos.
Fruto do cruzamento entre o jumento (jegue
para nós) e a égua, o burro, consegue herdar as melhores caraterísticas físicas
das duas raças. Dono de uma personalidade forte, alta resistência e força, esse
animal carece de cuidados especiais para quem com ele lida, quase sempre
exigindo muita experiência e destreza dos vaqueiros.
Amplamente utilizado como animal de carga e
tração em diversas partes do mundo, com exceção das áreas mais frias, o burro é
dono de um legado considerável. No Brasil colônia, foi fundamental para
bandeirantes e aventureiros na conquista de terras transportando pessoas e
mercadorias. Possuindo formidável equilíbrio, era capaz de atravessar trilhas
estreitas e sinuosas com enorme facilidade, sua vida longeva, completa o seu
arcabouço de atributos que faziam desse animal ideal para o trabalho na
colônia.
Foi sobre o lombo desses animais que boa
parte das riquezas do Brasil foram carregadas. Desde a produção de açúcar nos
séculos XVI e XVII, passando pelo ouro das minas gerais chegando ao café de São
Paulo, o burro literalmente carregou a riqueza nas costas.
Como já dito em textos anteriormente publicados
aqui no Blog, os primeiros desbravadores das terras em que Fátima se localiza
foram os vaqueiros da Casa da Torre quando aqui chegaram utilizando o leito do
rio Vaza Barris como caminho, estabelecendo nesta área os primeiros núcleos de
povoamento após a expulsão dos Kiriris. Tais homens precisavam de animais fortes
e resistentes para percorrer grande distâncias pelo terreno inóspito e os
burros foram os escolhidos para tal tarefa, sendo amplamente utilizados nessa
nossa região introduzidos pelos vaqueiros.
Posteriormente, já no século XIX, o burro
continua sendo de suma importância nas atividades econômicas de toda essa
região, pois eram esses animais o principal elemento das tropas de burros
utilizadas pelos tropeiros para transportar pela estrada real toda sorte de
bens de consumo do sertão para o litoral e do litoral para o sertão durante
todo o século XIX e boa parte do século XX.
Para ficar em um exemplo, em meados
dos anos 70, o fatimense, José Antônio do Anjos, conhecido como “Zé de Augusta”,
sustentou sua família por intermédio da tropa de burros que possuía. Segundo
relato de familiares e amigos, ele fazia questão de que os animais utilizados
no trabalho fossem sempre dessa raça, afirmando que cavalos ou jegues não
suportariam as distâncias a serem percorridas. Durante vários anos, Zé de
Augusta fez inúmeras viagens para Sergipe, onde comprava cachaça e revendia na
área de Banzaê, Massacará, Buracos e Murití, genericamente chamados por ele de
Sertão. Foram esses animais que o ajudaram a construir sua vida até serem substituídos
por uma caminhonete anos após o início das suas atividades como tropeiro,
cumprindo assim o inexorável ritual da modernidade.
Não é minha intenção romantizar a utilização
desses animais ao longo da história do nosso pais pois inúmeros casos de maus
tratos com burros e diversos outros animais são amplamente documentados ao
longo desse percurso, sobretudo dada a inexistência de leis de proteção à fauna
e a flora da colônia. A ideia é, tão somente, homenagear tais animais e chamar
a atenção para a identificação histórica que nós, fatimenses, temos ou
precisamos ter com eles.
Ele se fez necessário em seu momento. Homens se fizeram "necessários" em algum momento. É a naturalidade do processo da evolução. Que bom que alguém lembrou de homenagear!
ResponderExcluirObrigado por contribuir.
ResponderExcluirMuito interessante!vou usar em minhas aulas
ResponderExcluirGustavo, é uma honra pra mim. obrigado.
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