O cangaço foi um fenômeno tipicamente
nordestino de banditismo social com apogeu entre as décadas de vinte e trinta
do século passado. O cenário nordestino desse período era tão trágico quanto o
do advento do movimento de Canudos décadas antes. A população faminta era
encurralada entre a seca severa e os desmandos de coronéis que acumulavam
poderes frente à negligência do Estado.
É nessa conjuntura de abandono que
nordestinos aderem ao banditismo, passando a vagar pela caatinga praticando
toda sorte de barbaridades. Não é minha intenção fazer juízo de valor dessas
pessoas, mas analisar o processo de construção do fenômeno do cangaço.
Os cangaceiros tinham controversa reputação
entre os sertanejos, eram considerados bandidos sem princípios por uns e heróis
cantados em verso e prosa por outros. Fato é que o bando de Lampião, só pra
ficar em um exemplo, atuou fortemente por mais de duas décadas, demonstrando a
incapacidade do poder público de cercear as ações de grupos de cangaceiros.
Em 1930, contudo, essa situação começaria a
mudar. Chegava à presidência da república o gaúcho Getúlio Dorneles Vargas. De acordo
com Chagas (2011), Getúlio assume o poder apoiado por parte das oligarquias
urbanas e jovens oficiais. Era o fim da república velha e a sociedade clamava
por mudanças como eleições limpas (o fim do voto de cabresto, por exemplo) e
uma modernização do país, bem como a convocação de nova constituinte.
Tentando se manter no poder, Vargas fez
concessões e promessas, ganhando tempo para, em 1934, submeter o país a uma
constituição autoritária, mesmo sendo ele eleito presidente um dia após sua
promulgação.
Sempre se equilibrando no poder, em 1937 ele
assume de vez o posto de ditador implementando o Estado Novo.
O foco de Getúlio Vargas sempre foi o
trabalhador urbano, sendo a sua preocupação com o cangaço, um fenômeno regional
aqui do nordeste, diminuta. Entretanto, os descontentamentos com o seu governo
cresciam com as ações de imposição, não sendo abafados mesmo sob a intensa
propaganda estadonovista.
Ainda de acordo com as ideias de Chagas
(2011), a promotoria da cidade de Água Branca, em Alagoas, envia enérgica carta
para Vargas relatando a incapacidade das volantes (polícia) dos estados
nordestinos de capturar Lampião, símbolo maior do cangaço, e dar ponto final ao
cangaço que manchava a reputação dos governos locais.
A reação do governo federal foi imediata,
provocando um efeito cascata onde a pressão ao governo do estado de Alagoas
levou à constrição do diretor de polícia do estado, o Major Lucena que, por sua
vez, convocou o tenente João Bezerra a trazer a cabeça de Lampião em um período
de trinta dias.
Essa atitude, aqui contextualizada, e diversos
fatores menores, levaram a ação policial que resultou no massacre de Angicos de
28 de julho de 1938, onde morreram Lampião, Maria Bonita e outros nove
cangaceiros.
A morte de Lampião foi o estopim para os dias
finais do cangaço. Depois dos acontecimentos de Angicos, os subgrupos de
cangaceiros iniciaram o processo conhecido como “entregas”, onde bandos
inteiros negociaram com as autoridades a deposição das armas e cumprimento das
penas, para aqueles que cumpriram pois o própria Vargas, em uma tentativa de
acelerar o fim do cangaço, concedeu indulto a alguns cangaceiros, livrando-os
da pena.
Em 1940, o bando de Labareda, que atuava na
região de Fátima e municípios vizinhos, se entrega em Paripiranga, cumprindo o
ciclo de entregas, pondo fim ao terror do cangaço entre nossos antepassados.
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