O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Getúlio Vargas e o fim do Cangaço



O cangaço foi um fenômeno tipicamente nordestino de banditismo social com apogeu entre as décadas de vinte e trinta do século passado. O cenário nordestino desse período era tão trágico quanto o do advento do movimento de Canudos décadas antes. A população faminta era encurralada entre a seca severa e os desmandos de coronéis que acumulavam poderes frente à negligência do Estado.
É nessa conjuntura de abandono que nordestinos aderem ao banditismo, passando a vagar pela caatinga praticando toda sorte de barbaridades. Não é minha intenção fazer juízo de valor dessas pessoas, mas analisar o processo de construção do fenômeno do cangaço.
Os cangaceiros tinham controversa reputação entre os sertanejos, eram considerados bandidos sem princípios por uns e heróis cantados em verso e prosa por outros. Fato é que o bando de Lampião, só pra ficar em um exemplo, atuou fortemente por mais de duas décadas, demonstrando a incapacidade do poder público de cercear as ações de grupos de cangaceiros.
Em 1930, contudo, essa situação começaria a mudar. Chegava à presidência da república o gaúcho Getúlio Dorneles Vargas. De acordo com Chagas (2011), Getúlio assume o poder apoiado por parte das oligarquias urbanas e jovens oficiais. Era o fim da república velha e a sociedade clamava por mudanças como eleições limpas (o fim do voto de cabresto, por exemplo) e uma modernização do país, bem como a convocação de nova constituinte.
Tentando se manter no poder, Vargas fez concessões e promessas, ganhando tempo para, em 1934, submeter o país a uma constituição autoritária, mesmo sendo ele eleito presidente um dia após sua promulgação.
Sempre se equilibrando no poder, em 1937 ele assume de vez o posto de ditador implementando o Estado Novo.
O foco de Getúlio Vargas sempre foi o trabalhador urbano, sendo a sua preocupação com o cangaço, um fenômeno regional aqui do nordeste, diminuta. Entretanto, os descontentamentos com o seu governo cresciam com as ações de imposição, não sendo abafados mesmo sob a intensa propaganda estadonovista.
Ainda de acordo com as ideias de Chagas (2011), a promotoria da cidade de Água Branca, em Alagoas, envia enérgica carta para Vargas relatando a incapacidade das volantes (polícia) dos estados nordestinos de capturar Lampião, símbolo maior do cangaço, e dar ponto final ao cangaço que manchava a reputação dos governos locais.
A reação do governo federal foi imediata, provocando um efeito cascata onde a pressão ao governo do estado de Alagoas levou à constrição do diretor de polícia do estado, o Major Lucena que, por sua vez, convocou o tenente João Bezerra a trazer a cabeça de Lampião em um período de trinta dias.
Essa atitude, aqui contextualizada, e diversos fatores menores, levaram a ação policial que resultou no massacre de Angicos de 28 de julho de 1938, onde morreram Lampião, Maria Bonita e outros nove cangaceiros.
A morte de Lampião foi o estopim para os dias finais do cangaço. Depois dos acontecimentos de Angicos, os subgrupos de cangaceiros iniciaram o processo conhecido como “entregas”, onde bandos inteiros negociaram com as autoridades a deposição das armas e cumprimento das penas, para aqueles que cumpriram pois o própria Vargas, em uma tentativa de acelerar o fim do cangaço, concedeu indulto a alguns cangaceiros, livrando-os da pena.
Em 1940, o bando de Labareda, que atuava na região de Fátima e municípios vizinhos, se entrega em Paripiranga, cumprindo o ciclo de entregas, pondo fim ao terror do cangaço entre nossos antepassados.

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