Foto cedida pela família. |
Os primeiros ferreiros provavelmente surgiram
no limiar das sociedades humanas, isto é, desde que os primeiros seres humanos aderiram
ao sedentarismo e dominaram as técnicas agrícolas. Daí para o desenvolvimento
das primeiras ferramentas de metal foi um salto relativamente curto. Há registros
de ferramentas encontradas em todas as grandes sociedades humanas da antiguidade
a nos mostrar que os ferreiros já desenvolviam suas técnicas há milhares de
anos.
Uma particularidade da profissão é o seu grau
de abrangência. Os ferreiros prestavam serviços a reis e nobres mas também a
soldados, cavaleiros e agricultores. Esses profissionais fabricavam uma
infinidade de ferramentas como facas, espadas, adagas e escudos para a guerra,
mas também utensílios agrícolas e domésticos como colheres, ferraduras, foices
e enxadas. Foram extremamente importantes para o desenvolvimento da humanidade.
Para ficar em um único exemplo, a invenção do arado de ferro puxado por tração
animal representou uma verdadeira revolução na agricultura europeia na
antiguidade, permitindo uma maior produção de alimentos, o que levou, por sua
vez, à um crescimento populacional descomunal. Tudo isso graças aos ferreiros.
Em Fátima, José Reis, ou Zé de Aninha, como
era conhecido, foi o expoente dessa profissão. Nascido em 1926, período em que
as primeiras casas da povoação que originou Fátima ainda eram escassas, Zé
de Aninha tornou-se ferreiro ainda na juventude. De uma inteligência singular,
aprendeu os pormenores da profissão sozinho. Aos poucos foi adquirindo as
ferramentas necessárias ao labor como a bigorna, o fole e o martelo e passou a prestar
serviços para a comunidade. Fabricava ferraduras, enxadas, machados e toda a
sorte de ferramentas que os agricultores locais necessitavam para os afazeres
da lida diária.
Nos anos 1980 instalou sua forja nos fundos
da sua casa que hoje é dos filhos, na praça da igreja. Além de ferreiro era um
verdadeiro faz-tudo. Consertava de panela de pressão à motocicletas. Umas dessas
motocicletas, inclusive, foi pivô de uma curiosa e cômica história
protagonizada por zé de Aninha e seu filho Méia. Em princípios dos anos 1990,
ele resolveu testar uma mobilete em frente à casa onde moravam. Com pouca
habilidade para manipular a moto, mas com a teimosia que sempre foi uma de suas
principais características, ordenou ao filho que corresse atrás da mobilete
enquanto ele tentava pilotar a mesma. Em determinado momento o acelerador do equipamento
travou fazendo-a sair sem controle enquanto Méia tentava desesperadamente
acompanhar o pai e a moto. Ao mesmo tempo Zé de Aninha gritava “Segura, Méia
mole da peste!”.
Essa é apenas uma das inúmeras histórias de
Zé de Aninha. Impaciente com tudo, costumava gritar impropérios quando se
irritava com algo. Os fundos da sua casa era repleto de peças e pedaços de bicicletas,
motos, panelas e uma infinidades de materiais que dividiam espaço com o fole
feito por ele utilizando barro, peças de carro e de bicicletas para soprar o
carvão e aquecer as peças que seriam malhadas na velha bigorna. Quando criança,
nos anos 1990, habituei-me a ouvir da casa da minha avó o som do martelo a
bater na bigorna. Vez por outra, um tento receoso do temperamento do ferreiro,
chegava até lá para ver a destreza com que moldava as peças de ferro e rir com
as coisas que ele dizia quando se irritava.
Zé de Aninha era um homem simples, de hábitos
igualmente simples, porém, de uma inteligência pitoresca. Criou, ao lado da
mulher, Casefa, numerosa prole de nove filhos. Faleceu em 2015 com quase
oitenta e nove anos. Seus filhos homens herdaram parte da sabedoria do pai,
embora hoje apenas um deles, João Batista, o Bidão, segue a profissão do pai.
Zé de aninha é mais um personagem a compor
essa bela história, a história de Fátima.
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