O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

domingo, 22 de março de 2020

Acidente trágico nos tira Totô


Foto cedida pela família

No dia 10 de outubro de 2011, uma madrugada de domingo para segunda feira, a cidade acordou com a fatídica notícia. Um acidente nas proximidades do antigo matadouro municipal vitimou dois jovens que retornavam de uma festa na cidade de Cícero Dantas. A moto na qual trafegavam se chocou com um cavalo solto na pista, levando a morte de Totô, aos 26 anos de idade.
Ele nasceu Luciano dos Santos Andrade, mas para os amigos sempre foi Totô. À um só tempo irreverente e encrenqueiro, fazia a alegria das pessoas da Praça Ângelo Lagoa. Quando criança, nos anos 1990, os jovens com um pouco mais de idade se divertiam fazendo os mais novos brigar (coisas de uma outra época) e Totô sempre fora dos mais afoitos.
Brigava por que gostava. Vez por outra desafiava dois outros garotos para o duelo na praça, eu mesmo já participei por diversas vezes dessas batalhas de criança.  Por mais estranho que possa parecer aos olhos da contemporaneidade, essas “brincadeiras” jamais levavam a algo mais sério, no mesmo dia os brigões esqueciam a intriga e voltavam a jogar futebol ou praticar outra brincadeira qualquer como se nada houvesse se passado.
As brincadeira daquela turma, diga-se de passagem, eram, para dizer o mínimo, ortodoxas. Entre as mais famosas estava a que se chamava “Mãe da Lua”. Consistia em um jogo de paciência e coragem, pois a punição para quem vacilava era severa. Dois campos eram estabelecidos e ficavam à cargo de duas equipes rivais. Para derrotar o oponente, era preciso atravessar o campo “inimigo” e retirar uma bandeira (representada, com frequência, por um galho de árvore pequeno) que ficava ao fundo, muito bem protegido pelos jogadores da outra equipe. Quem fosse apanhado dentro do campo adversário levava murro nas costas até que conseguisse se desvencilhar e voltar ao seu campo.
Por incontáveis vezes brincamos, despreocupados e concentrados nas brincadeiras. A Praça Ângelo Lagoa era um verdadeiro oásis para a garotada que se divertia sem compromissos. Um outro espaço demasiadamente saudoso para a minha geração é o campo de “Pedão”, que ficava próximo à torre, onde jogávamos futebol nas tardes de sol com a numerosa turma de amigos. O zagueiro Totô, com suas pernas cumpridas, era figura cativa, sempre se fazia presente.
Totô foi protagonista de diversas e hilárias histórias provocadas por suas peraltices. Certa vez se envolveu em um acidente com sua famosa bicicleta monark azul e um caminhão. As notícias davam conta que o menino havia morrido, foi um furdunço até se constatar ser falsa a informação. Em outra ocasião atirávamos em passarinhos na figueira que ainda hoje existe na frente da casa de Seu Otávio com um instrumento feito de bexiga e parte de uma garrafa Pet quando  fomos surpreendidos por seu Zé da Barreira que fez o pobre menino provar do próprio remédio para dar o exemplo.
Tenho diversas lembranças da sua amizade. Sua personalidade de menino inocente o acompanhou por toda a vida, jamais agia por maldade e sempre estava disposto a ajudar. Fomos amigos por longos anos desde o dia em que minha família foi morar na Praça Ângelo Lagoa em 1992. Por ironia do destino estive com ele na tarde que antecedeu o acidente. O que fica são as lembranças de um menino feliz que se foi tão cedo, de forma tão abrupta. Sempre guardarei boas lembranças do amigo Totô. Hoje, ao passar pelo local do acidente, lembrei-me dele, parei a moto em frente à capelinha construída em sua homenagem e decidi fazer essa singela homenagem. Descanse em paz, meu amigo.


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