Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=y4mkalKPg9U |
Em
meados de 1992 a minha família trocou a casa onde morávamos, na Avenida Nossa
Senhora de Fátima, pela velha casa construída nos anos 1930 na Praça Ângelo
Lagoa. Me lembro bem do estranhamento que me causou aquela cumprida casa
antiga, de telhado baixo e uma fachada com cerca de cinquenta centímetros de
espessura. “Feita para suportar tiros de fuzil de cangaceiros!”, era a teoria
do meu pai.
Eu não sabia ainda, mas aquela
mudança faria toda a diferença nos anos subsequentes da minha infância. Ali fiz
bons e numerosos amigos que cultivo até os dias de hoje, à despeito do
distanciamento que a vida, as atividades profissionais e o tempo nos impõe.
As brincadeiras daquela geração
seriam demasiadamente estranhas às crianças de hoje. Não quero aqui me render à
sentimentalismos e nostalgia tola. O que desejo, isto sim, é “pintar um
retrato” daqueles anos juvenis vividos na praça do jardim, ou rua velha, como
alguns prefeririam.
Ali
brincávamos de MÃE DA LUA que Consistia em um jogo de paciência e coragem, pois
a punição para quem vacilava era severa. Dois campos eram estabelecidos e
ficavam à cargo de duas equipes rivais. Para derrotar o oponente, era preciso
atravessar o campo “inimigo” e retirar uma bandeira (representada, com
frequência, por um galho de árvore pequeno) que ficava ao fundo, muito bem
protegido pelos jogadores da outra equipe. Quem fosse apanhado dentro do campo
adversário levava murro nas costas até que conseguisse se desvencilhar e voltar
ao seu campo.
CHUTA LATA era outra atividade divertida
onde um ficava na busca dos demais que se escondiam pelas imediações. Ao avistar um dos participantes o buscador
deveria bater a lata no chão e falar o nome do avistado em voz alta, o objetivo
dos que se escondiam era chutar a lata antes de ser descoberto. Quando isso
acontecia o buscador perdia e precisava repetir o processo.
Havia também as variações do futebol
como TRAVINHA, onde traves ou metas pequenas eram posicionadas sem goleiro e
dois times disputavam quem fazia mais gols. TOQUINHO era a variação do futebol
praticada no jardim, quando o vigia não estava olhando ou havia sido demitido
pela prefeitura. Um goleiro guardava a meta enquanto dois jogadores ficavam à
sua frente tocando a bola de um lado para o outro. O objetivo era fazer três gols,
neste caso o goleiro perdia e cedia espaço para outro que aguardava de fora,
mas se o goleiro conseguisse segurar a bola dentro da área, o jogador que tocou
por último trocava de lugar e passava a defender no gol. No jogo denominado
SALÃO, um goleiro ficava na guarda enquanto dois jogadores tocavam a bola na
frente, parecia muito com o Toquinho, entretanto só valia o gol se a bola não
tocasse o chão antes de ser chutada. A bola pra fora eliminava o jogador. Por
vezes brincávamos de LANÇAMENTO, onde um jogador cruzava a bola para um pequeno
grupo que deveria tentar o cabeceio.
Diz a velha máxima que filho de
pobre se diverte com qualquer coisa. E, nesse caso, parece ser a mais pura
verdade. Qualquer objeto virava um brinquedo, uns mais inusitados que outros. Assim,
um pneu de carro com água dentro e dois cabos de vassoura virava, com um pouco
de imaginação, um possante automóvel, um vasilhame de água sanitária com uma
aba na lateral e um cordão para puxar virava um divertido brinquedo, assim como
um pedaço de tábua e alguns rolamentos de carro eram convertido no mais
emocionante dos carros de corrida. Que sufoco era controlar aquele carro nas
curvas do jardim!
E quantas outras formas de diversão
inventávamos. Formiguinha, bandeira, Rasga meia, pula corda, carro de lata, bola
de gude, bingo com tampa de refrigerante e uma infinidade de coisas que nos
fizeram crescer felizes naquele ambiente saudável e acolhedor da Praça Ângelo
Lagoa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário