O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Raimundo Oleiro ajudou a construir Fátima

Raimundo Oleiro. Foto cedida pela família.



A Olaria é considerada a mais antiga das indústrias. O oleiro, profissional das olarias, é aquele que confecciona utensílios ou objetos à partir da argila.
Ainda no neolítico, os homens primitivos começaram a substituir cabaças, cacos de cocos e demais vasilhames naturais por vasos de cerâmica. Teria início ali a arte de moldar o barro para a produção de objetos que facilitavam a vida das pessoas.
Diversos povos indígenas brasileiros faziam uso variado da cerâmica. Aqui mesmo na região nordeste da Bahia os kirirs, que habitavam toda esta área, já faziam uso do barro moldado bem antes da chegada do portugueses. Os exemplos mais eloquentes disso são as urnas funerárias (vasos de cerâmicas onde ossos humanos eram sepultados em rituais fúnebres) encontradas em Paripiranga nos anos 1970 e em Cícero Dantas na construção do estádio municipal.
Mas a variação da olaria mais conhecida entre os sertanejos é mesmo as tendas responsáveis pela fabricação de telha, adobe (“adobo”, para nós) e ladrilhos, utilizados na construção civil. Essas oficinas eram amplamente populares. Em nossa região, funcionaram por décadas, sendo substituídas pelas modernas fábricas cerâmicas no início dos anos 1990.
As olarias tinham sempre a mesma arquitetura. Uma estrutura aberta, sustentada por colunas de madeira e um telhado enorme que, devido ao tamanho exagerado curvava-se com frequência, dando campo ao surgimento do ditado popular “Mais curvado do que espinhaço de olaria”, geralmente empregado à pessoas com patologias na coluna vertebral que andavam com as costas curvadas. Contavam ainda com o barreiro, um buraco no chão umedecido de onde a matéria prima, o barro, era retirado e um forno para o cozimento da produção.
Em Fátima, um dos mais famosos oleiros foi o senhor Raimundo Gonzaga dos Santos, popularmente conhecido como Raimundo Oleiro. Este, inclusive, dá nome à rua onde ficavam as suas duas olarias.
Raimundo Oleiro chegou à Fátima nos anos 1960, era natural de Itabaianinha, Sergipe. A sua olaria forneceu adobes, telhas e ladrilhos para a maior parte das antigas construções fatimenses. O trabalho junto aos filhos gerou material para construir as primeiras casas da cidade. Suas olarias funcionaram de 1962 a 1995 quando ele se aposentou. O ofício rendeu uma vida relativamente confortável para Raimundo e sua família que foi sustentada durante décadas através do ofício.
Seu Raimundo faleceu no dia 15 de setembro de 1999 aos 74 anos, deixando numerosa família que ainda reside na cidade, a maioria dos quais, na rua que carrega o seu nome.

Ladrilho, tijolos e telhas construída na antiga olaria. Acervo da família.


2 comentários:

  1. Parabéns que seja sempre lembrado todos esses momentos

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  2. Queria Tando ter conhecido esse grande homem Raimundo . Meu avô 🙏❤

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