O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

terça-feira, 3 de março de 2020

Conexões: Da guerra das Malvinas à Fátima



Em 1982 Inglaterra e Argentina se envolviam em um conflito bélico de grandes proporções. A guerra das Malvinas (um pequeno arquipélago no oceano Atlântico) deixou saldo de quase mil soldados mortos e enormes prejuízos aos dois lados.
O governo Militar argentino visava recuperar o prestígio entre a população, criando um clima de beligerância que unisse a população em torno de um inimigo em comum. Assim, no dia 2 de Abril de 1982 o ditador argentino Leopoldo Galtieri, ordena a invasão das ilhas dominadas pelos ingleses desde 1883.
Os argentinos, contudo, não contavam com a reação enérgica daquela que ficaria conhecida como “A Dama de Ferro”. A Chanceler britânica Margaret Thatcher não poupou esforços para recuperar o território perdido. Enviou uma tropa de 28 mil soldados, diversos navios de guerra (porta aviões inclusive) e uma esquadra aérea poderosa.
As forças argentinas resistiram por quase dois meses, mas o país sul-americano foi obrigado a assinar a rendição no dia 14 de junho de 1982, pondo fim ao conflito. Na argentina, o resultado da guerra derrubou o governo militar que foi substituído por um governo civil, enquanto na Inglaterra Thatcher se reelegeria primeira ministra.
Na longínqua Vila de Fátima do ano de 1982, as notícias do conflito eram recebidas através das ondas do rádio. Era esse o meio de comunicação presente em boa parte das casas fatimenses. Para ilustrar a importância dada ao rádio na época, Marcos Rogério Morais, morador do formigueiro à época, confirmou que na casa do seu pais era aceitável entre os familiares que faltasse um ou outro item da cesta básica, mas as pilhas que alimentavam o rádio não podiam faltar de forma alguma.
Durantes aqueles dias em que o conflito se desenrolava no Atlântico sul, as pessoas da vila interpretavam os fatos da forma que podia. É bom lembrar que se tratava de uma população com baixíssima escolaridade e pouco acesso à informação. As pessoas sabiam que uma guerra de grandes proporções estava em curso, mas poucos sabiam da sua distância geográfica e seu contexto. Fato é que, certo dia, naquele conturbado 1982, um boato que provavelmente foi gerado à partir de uma interpretação equivocada das notícias que chegavam do conflito gerou grande histeria entre a população fatimense.
Não se sabe como, mas as pessoas começaram a acreditar que moradores da Vila de Fátima estavam sendo convocados para a guerra das Malvinas, muitas pessoas se desesperaram com a ideia de combater em uma guerra da qual quase nada conheciam. Seu José Rabelo de Morais, conhecido como seu Ninô, pai de Marcos Rogério, chegou da cidade abalado com o que ouvira na Vila. Alguns conhecidos já haviam embarcado para a guerra e outros seriam igualmente encaminhados para o fronte. A notícia caiu como uma bomba para a família. Marcos Rogério, apenas um menino à época, conta que ficou demasiadamente amedrontado com tudo aquilo, não sabia em que aquela situação se desenrolaria.
O tempo passou e com ele a angustia de ver-se como combatente naquela guerra hedionda foi se dissipando. Só anos depois é que ele foi entender que aquela guerra que tanta angústia causou à sua família e a outras famílias fatimenses era algo distante, aproximada apenas pelas ondas do rádio e a imaginação desse nosso povo fatimense.


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