Em 1982 Inglaterra e Argentina se envolviam
em um conflito bélico de grandes proporções. A guerra das Malvinas (um pequeno
arquipélago no oceano Atlântico) deixou saldo de quase mil soldados mortos e
enormes prejuízos aos dois lados.
O governo Militar argentino visava recuperar o
prestígio entre a população, criando um clima de beligerância que unisse a
população em torno de um inimigo em comum. Assim, no dia 2 de Abril de 1982 o ditador argentino Leopoldo Galtieri, ordena a
invasão das ilhas dominadas pelos ingleses desde 1883.
Os argentinos, contudo, não
contavam com a reação enérgica daquela que ficaria conhecida como “A Dama de
Ferro”. A Chanceler britânica Margaret Thatcher não poupou esforços para
recuperar o território perdido. Enviou uma tropa de 28 mil soldados, diversos
navios de guerra (porta aviões inclusive) e uma esquadra aérea poderosa.
As forças argentinas resistiram por quase
dois meses, mas o país sul-americano foi obrigado a assinar a rendição no dia
14 de junho de 1982, pondo fim ao conflito. Na argentina, o resultado da guerra
derrubou o governo militar que foi substituído por um governo civil, enquanto
na Inglaterra Thatcher se reelegeria primeira
ministra.
Na longínqua Vila de Fátima do ano de 1982, as notícias do conflito eram recebidas através das ondas do rádio. Era esse
o meio de comunicação presente em boa parte das casas fatimenses. Para ilustrar
a importância dada ao rádio na época, Marcos Rogério Morais, morador do
formigueiro à época, confirmou que na casa do seu pais era aceitável entre os
familiares que faltasse um ou outro item da cesta básica, mas as pilhas que
alimentavam o rádio não podiam faltar de forma alguma.
Durantes aqueles dias em que
o conflito se desenrolava no Atlântico sul, as pessoas da vila interpretavam os
fatos da forma que podia. É bom lembrar que se tratava de uma população com
baixíssima escolaridade e pouco acesso à informação. As pessoas sabiam que uma
guerra de grandes proporções estava em curso, mas poucos sabiam da sua distância
geográfica e seu contexto. Fato é que, certo dia, naquele conturbado 1982, um
boato que provavelmente foi gerado à partir de uma interpretação equivocada das
notícias que chegavam do conflito gerou grande histeria entre a população
fatimense.
Não se sabe como, mas as
pessoas começaram a acreditar que moradores da Vila de Fátima estavam sendo
convocados para a guerra das Malvinas, muitas pessoas se desesperaram com a ideia
de combater em uma guerra da qual quase nada conheciam. Seu José Rabelo de
Morais, conhecido como seu Ninô, pai de Marcos Rogério, chegou da cidade abalado
com o que ouvira na Vila. Alguns conhecidos já haviam embarcado para a guerra e
outros seriam igualmente encaminhados para o fronte. A notícia caiu como uma
bomba para a família. Marcos Rogério, apenas um menino à época, conta que ficou
demasiadamente amedrontado com tudo aquilo, não sabia em que aquela situação se
desenrolaria.
O tempo passou e com ele a
angustia de ver-se como combatente naquela guerra hedionda foi se dissipando. Só
anos depois é que ele foi entender que aquela guerra que tanta angústia causou
à sua família e a outras famílias fatimenses era algo distante, aproximada
apenas pelas ondas do rádio e a imaginação desse nosso povo fatimense.
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