O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

sexta-feira, 27 de março de 2020

A bodega de Félix Gabriel




            O poeta paraibano Jessier Quirino narra os icônicos personagens nordestinos personificados nos donos de bodega, os trejeitos e a peculiar impaciência desses senhores, verdadeiros patrimônios da nossa cultura.
            Em Fátima temos diversos exemplos desses comerciantes de um tempo em que não existiam especificidades para um comércio. Tudo se encontrava nas bodegas, de pílula cibalena a munição de arma de fogo eram prontamente embalados no papel que se cortava de um grande cilindro e entregues ao freguês comprador.
            Esses estabelecimentos sobreviveram até os anos 1990. Na minha infância fui até a bodega de Paulo das Galinhas comprar “linha pau” para costurar bolas de futebol e também na bodega de Elias Pereira comprar “Quitute”.
            Nas décadas de 1950 e 1960, a bodega de Félix Gabriel era uma das mais famosas da cidade. Como todo comércio deste tipo, vendia-se de tudo o que a população local necessitava. Localizava-se na Praça Ângelo Lagoa, consistia em uma construção rudimentar que se estendia até a rua dos fundos, onde hoje funciona a papelaria “J. Oscar”. Nas prateleiras a variedade era facilmente visível ao visitante que chegava ao balcão.
            Umas das peculiaridades da bodega de Seu Félix era que este não vendia fiado, ao contrário de outros estabelecimentos que possuíam o famoso caderno de fiados. Seu Félix tinha o temperamento ríspido, como todo bom bodegueiro, não admitia cometer erros nas contas ao passar troco. Sempre que uma dúvida surgia repetia o mesmo bordão: “Félix Gabriel de Santana não passa troco errado, você que é burro e não sabe contar”.
            A impaciência tornou-se uma de suas principais características. Aborrecia-se facilmente com freguês muito perguntador e não hesitava em mandar embora aqueles mais enfadonhos. Sua bodega foi uma das pioneiras, recebia mercadorias dos tropeiros vindos de Sergipe pelo acesso da estrada real.
            Eram outros tempos, de homens e mulheres com hábitos muito diferentes dos nossos. Nos dias de hoje, todo bom comerciante sabe que o atendimento é um dos pilares básicos de um negócio próspero. Mas esses são valores da contemporaneidade, não se aplicando a um período tão distante no tempo. Para se ter a dimensão desta disparidade, Seu Félix exigia a fidelidade da clientela. Se soubesse que um de seus fregueses estava comprando em outro lugar, negava-se a vender a essa pessoa.
            O temperamento de Félix Gabriel, para se ter uma ideia, custou-lhe a vida. Conta-se que, certa vez, trabalhava na roça quando foi surpreendido por um enxame de abelhas que o atacou ferozmente. Ele conseguiu correr, mas as abelhas atacaram um burra que possuía. Ele, tomado pela raiva, sacou sua peixeira e investiu contra as abelhas que o picaram dezenas de vezes. Os ferimentos causados por essa ação insana o levaram a morte.  

Esse artigo tem como coautor, Juan K. Menezes

Obs: Existiram outros famosos bodegueiros na cidade e pretendo falar de mais alguns, contudo, aguardo

3 comentários:

  1. Que maravilha poder conhecer mais a história da nossa terra natal e seus personagens incríveis. Aguardo ansiosa pelo texto sobre a Casa Sousa, mais conhecida como a "Bodega de Seu Profiro e Dona Zabel" ❤️

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  2. Eu lembro do sr Felix saudades de minha terra

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  3. Lembro de vc Vanilde não sei se vc lembra de mim Edelzuita irmã de Zequinha da farmácia

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