O poeta paraibano Jessier Quirino
narra os icônicos personagens nordestinos personificados nos donos de bodega,
os trejeitos e a peculiar impaciência desses senhores, verdadeiros patrimônios
da nossa cultura.
Em Fátima temos diversos exemplos
desses comerciantes de um tempo em que não existiam especificidades para um
comércio. Tudo se encontrava nas bodegas, de pílula cibalena a munição de arma
de fogo eram prontamente embalados no papel que se cortava de um grande
cilindro e entregues ao freguês comprador.
Esses estabelecimentos sobreviveram
até os anos 1990. Na minha infância fui até a bodega de Paulo das Galinhas
comprar “linha pau” para costurar bolas de futebol e também na bodega de Elias
Pereira comprar “Quitute”.
Nas décadas de 1950 e 1960, a bodega
de Félix Gabriel era uma das mais famosas da cidade. Como todo comércio deste
tipo, vendia-se de tudo o que a população local necessitava. Localizava-se na
Praça Ângelo Lagoa, consistia em uma construção rudimentar que se estendia até
a rua dos fundos, onde hoje funciona a papelaria “J. Oscar”. Nas prateleiras a
variedade era facilmente visível ao visitante que chegava ao balcão.
Umas das peculiaridades da bodega de
Seu Félix era que este não vendia fiado, ao contrário de outros estabelecimentos
que possuíam o famoso caderno de fiados. Seu Félix tinha o temperamento
ríspido, como todo bom bodegueiro, não admitia cometer erros nas contas ao
passar troco. Sempre que uma dúvida surgia repetia o mesmo bordão: “Félix
Gabriel de Santana não passa troco errado, você que é burro e não sabe contar”.
A impaciência tornou-se uma de suas principais
características. Aborrecia-se facilmente com freguês muito perguntador e não hesitava
em mandar embora aqueles mais enfadonhos. Sua bodega foi uma das pioneiras,
recebia mercadorias dos tropeiros vindos de Sergipe pelo acesso da estrada
real.
Eram outros tempos, de homens e
mulheres com hábitos muito diferentes dos nossos. Nos dias de hoje, todo bom comerciante
sabe que o atendimento é um dos pilares básicos de um negócio próspero. Mas esses
são valores da contemporaneidade, não se aplicando a um período tão distante no
tempo. Para se ter a dimensão desta disparidade, Seu Félix exigia a fidelidade
da clientela. Se soubesse que um de seus fregueses estava comprando em outro
lugar, negava-se a vender a essa pessoa.
O temperamento de Félix Gabriel,
para se ter uma ideia, custou-lhe a vida. Conta-se que, certa vez, trabalhava
na roça quando foi surpreendido por um enxame de abelhas que o atacou
ferozmente. Ele conseguiu correr, mas as abelhas atacaram um burra que possuía.
Ele, tomado pela raiva, sacou sua peixeira e investiu contra as abelhas que o
picaram dezenas de vezes. Os ferimentos causados por essa ação insana o levaram
a morte.
Esse
artigo tem como coautor, Juan K. Menezes
Que maravilha poder conhecer mais a história da nossa terra natal e seus personagens incríveis. Aguardo ansiosa pelo texto sobre a Casa Sousa, mais conhecida como a "Bodega de Seu Profiro e Dona Zabel" ❤️
ResponderExcluirEu lembro do sr Felix saudades de minha terra
ResponderExcluirLembro de vc Vanilde não sei se vc lembra de mim Edelzuita irmã de Zequinha da farmácia
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