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Mostrando postagens de 2025

Vaca Brava, Fátima, Bahia

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  A comunidade de Vaca Brava é uma antiga povoação situada nos limites do município de Fátima, na região de tríplice fronteira com Heliópolis e Poço Verde . Sua ocupação remonta ao avanço da pecuária pelo sertão baiano, tendo essa origem nitidamente refletida no próprio nome da localidade. Os registros históricos sobre a região são escassos, porém não inexistentes. Nos Registros Eclesiásticos de Terras de 1856 , há uma declaração de posse referente à Fazenda Tamburi , que menciona como áreas limítrofes as fazendas Tabua , Poço Verde e Vaca Brava . Tal referência indica que o topônimo Vaca Brava já era utilizado pelo menos desde 23 de junho de 1859 . Um documento posterior oferece novas luzes sobre a história local: trata-se do inventário de 1948 de Januário Rodrigues dos Reis , falecido em 18 de janeiro daquele ano, na própria localidade de Vaca Brava. A viúva, Josefa Maria de Jesus , deu entrada no processo de inventário, que tramitou parcialmente nas cidades de Cícero D...

Sertão vem de “Desertão”

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  Imagem disponível em: https://www.facebook.com/sertaonordestinobrasil/       A palavra sertão tem origem no português arcaico e, nos primórdios da colonização, era originalmente grafada como desertão . Em textos portugueses antigos, datados dos séculos XV e XVI, são encontrados trechos que se referem às regiões do interior, distantes do litoral, como desertão . Essa designação não se referia apenas às áreas secas, castigadas pela estiagem ( deserto + desertão ), mas também a regiões afastadas da zona litorânea, caracterizadas pela distância, pela dificuldade de acesso, pela cultura do gado e por outros elementos que, posteriormente, seriam associados ao que hoje conhecemos como sertão . Com o passar do tempo, nota-se uma simplificação fonética muito comum na língua portuguesa. Assim, o que era designado como desertão foi reduzido para simplesmente sertão . Contudo, durante o período colonial, o termo ainda destoava bastante do sentido atual. Regiõe...

José de Magalhães e Souza

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  Nasceu no município Celorico de Basto, uma pitoresca cidade portuguesa situada no distrito de Braga, na região do Norte, marcada por uma paisagem deslumbrante onde o verde dos vales e montes domina o horizonte. Conhecida pela sua rica tradição vinícola, aliada a um passado histórico evidente nas suas igrejas, solares e um ambiente rural acolhedor e tranquilo. Veio ao mundo às duas da madrugada do dia 19 de outubro de 1885. Filho dos lavradores Manoel de Magalhães e Souza e Angélica Mendes da Costa, foi batizado a 22 de outubro do mesmo ano, na paróquia de São Clemente, na mesma cidade. Estudou no seminário de Braga e foi ordenado padre em 1908, quando assumiu a Capela de Nossa Senhora Aparecida, no município de Lousada, ainda em Portugal. No Brasil, antes de chegar em Jeremoabo passou por Morro do Chapéu, sendo nomeado vigário da Matriz de São João Batista de Jeremoabo em 18 de março de 1928. Faleceu aos 95 anos, 21 anos após retornar à terra natal, no dia 13 de maio de 1980. ...

Ângelo Roque (Labareda): Os crimes cometidos.

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 O documento que você verá a seguir foi produzido pela justiça do estado da Bahia em 1943, faz parte do processo movido contra o Ângelo Roque da Costa. Está conforme original sob posse do Arquivo Público do Estado da Bahia:  EXECECUÇÃO DE SENTENÇA DE ÂNGELO ROQUE DA COSTA   02/02/1943   CARTA GUIA DO JUIZ DE JEREMOABO   Carta de guia passada pelo juiz de direito da comarca de Jeremoabo do estado da Bahia, na forma da lei, este faz saber ao excelentíssimo Dr. Diretor da penitenciária deste estado da Bahia que esta carta de guia acompanha o réu Ângelo Roque da Costa , vulgo Labareda, com 35 anos de idade, natural do município de Itaparica no estado de Pernambuco, casado, de profissão negociante, Filho de João Roque da Costa e Martinha Maria dos Prazeres , sem instrução. O qual vai cumprir nessa penitenciária a pena de 30 anos de prisão a que foi condenado por sentença do presidente do tribunal de júri deste termo e comarca de Jeremoabo em vistas das decis...

Homicídio na Lagoa da Volta, 1858.

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            O sertão sempre foi um lugar de tensões e violência, uma terra dura que gerou homens duros, que viam na autodefesa uma forma legítima de sobrevivência. Como já discutido inúmeras vezes aqui no Blog, as rusgas entre fazendeiros, meeiros e boiadeiros costumavam ser resolvidas na ponta da faca ou na boca do bacamarte.              Um exemplo eloquente dessa afirmação ocorreu no dia 20 de setembro de 1858. No processo, consta apenas que o corpo de um certo Pedro Correia foi encontrado “às margens de um pequeno açude, nos limites da Fazenda Mocó”.             Por se tratar de um indivíduo pertencente à família Correia, não é difícil imaginar que o caso tenha ocorrido mesmo na Lagoa da Volta, como consta no documento. Contudo, o final da descrição do local do assassinato reporta que teria sido “nos limites da Fazenda Mocó, às margens de um ...

Sertão violento, crime e escravidão

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  No distante ano de 1858, uma mulher identificada apenas como Maria, escravizada de Pedro José de Matos, foi duramente castigada por um fazendeiro residente em Cícero Dantas. Enfurecido pela tentativa de fuga de sua cativa, Pedro José ordenou a um funcionário que a castigasse exemplarmente. Essa história é revelada pelo processo nº 03/91/09, sob guarda do Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB). Suas páginas amareladas mostram que, após o castigo, a mulher adoeceu gravemente. As testemunhas afirmaram que as costas da escrava ficaram em carne viva, e que as feridas se estendiam pelas pernas e pelos braços, havendo grande perda de sangue. Ainda segundo os depoimentos, o fazendeiro — talvez movido por arrependimento, ou apenas pelo temor de perder um “bem” valioso — ordenou que fossem ministrados remédios e cuidados à cativa. Mesmo assim, deixada em sua cabana de taipa coberta de palha, Maria agonizou durante três dias, até ser encontrada morta. Levado a julgamento, Pedro...

A família Souza/Sousa em Fátima e região.

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  Para iniciar a trajetória dessa linhagem familiar nessa área do sertão, tomarei como ponto de partida o nome de Ângelo José de Souza, mais conhecido como Ângelo Lagoa, está intimamente ligado ao processo de formação da cidade de Fátima, no sertão baiano. Casado com Porfíria Maria de Jesus, da tradicional família Canoas da Surjoa, Ângelo fixou residência na Fazenda Boa Vista, em meados da década de 1880, tornando-se o patriarca da primeira família a se estabelecer no núcleo urbano que, décadas depois, daria origem ao município. De acordo com o inventário de Porfíria, falecida em 17 de junho de 1942, o casal deixou 15 filhos vivos e netos, muitos dos quais já nascidos na Praça Ângelo Lagoa, ainda no século XIX. Isso demonstra que a fixação do clã Souza em Fátima foi anterior à década de 1920, contrariando a versão mais difundida de que o povoamento só teria ocorrido naquela época. Nomes como Josefa Maria de Jesus, Antônio Virgílio de Sousa, Maria de Sousa Pires, Emília de Souza...

Família Oliveira, pioneiros.

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Imagem ilustrativa   O sobrenome Oliveira ocupa um lugar significativo na história social do sertão de Cícero Dantas, Fátima e região, compondo uma linhagem que, embora não figure com títulos de nobreza como os Dantas, se projetou como elemento fundamental na engrenagem do poder local. Os registros mais antigos, oriundos do Tombo da Casa da Torre, já indicam a presença de diversos Oliveiras como posseiros e proprietários de terras desde o início do século XIX. Nomes como João Felix de Oliveira (1826, Barroquinha), Bernardino Francisco de Oliveira (1824, Jeremoabo), José Antonio de Oliveira (1815, Arraial), Antonio Joaquim de Oliveira (1855, Caburé) e Manoel Ferreira de Oliveira (1814, Itapicuru) atestam que a família detinha propriedades em áreas estratégicas para a criação de gado e circulação comercial. Isso já os coloca como parte de um grupo social ligado à economia do couro, essencial para a formação da sociedade sertaneja oitocentista. Nas últimas décadas do século XIX e na...

A família Santana em Fátima e região.

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  Imagem ilustrativa Os primeiros Santana – grafados também como Santa Anna – aparecem nos registros de terras da região do Itapicuru e do Tiuiú desde as primeiras décadas do século XIX. Contudo, sua presença remonta à fase de ocupação colonial ligada à Casa da Torre e às freguesias de Santana e Santo Antônio dos Tucanos, criadas a partir das doações de sesmarias no século XVIII. Nomes como José de Santa Anna, Joaquim José de Santa Anna, Constantino José de Santa Anna e José Joaquim de Santana figuram nos tombos de terras entre 1815 e 1830, registrando posses em sítios como Mandacarú, Lagoa da Jabuticaba, Riacho, Urubutinga e Catinga. Esses pioneiros atuaram como posseiros e sesmeiros, expandindo a fronteira da pecuária e da agricultura de subsistência. A primeira geração de Santanas estava, portanto, diretamente vinculada à lógica econômica regional: a pecuária extensiva, fundamental para a formação da “Sociedade do Couro”, e a lavoura de subsistência (mandioca, milho e pequen...

A família Borges em Fátima e Cícero Dantas (1856–1916)

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  Foto: Fátima de outrora. A presença da família Borges na região de Fátima e Cícero Dantas remonta ao princípio do século XIX, quando os primeiros indivíduos dessa linhagem familiar chegam para ocupar as primeiras propriedades. Os registros oficiais, contudo, só aparecem a partir da segunda metade do século, quando quatro indivíduos aparecem nos registros de terras de 1856, são: Francisco Borges de Andrade, comprador da fazenda Pau Preto (hoje, Povoado Paus Pretos), Francisco Borges da Costa (fazenda Raiz), Francisco José Borges (fazenda Lages) e Francisco Borges (fazendas Serra Vermelha e Tombados). Esses nomes, todos ligados à posse rural, constituem o tronco fundador da família, inserida na lógica da pecuária e da economia do couro. Na década de 1890, novos registros consolidam essa presença. Em 1898, a carta de Severo Correia de Souza ao Barão de Jeremoabo menciona o “velho Borges”, figura consultada em meio a uma disputa de gado, o que evidencia seu prestígio e papel de med...

Mutirão e Memória: Gênero e Trabalho na Construção de Moradias Sertanejas.

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  Construir uma casa nunca foi tarefa fácil. É necessário mão de obra especializada, uma gama de materiais de diferentes tipos e origens para erguer uma estrutura que possa ser habitável. Hoje, mesmo com o advento de técnicas modernas, a construção de uma residência continua a ser um desafio para quem deseja construir o seu próprio canto nesse nosso mundo. Os nossos antepassados, nesse nosso seco pedaço de chão, precisavam de um esforço muito maior para construir suas moradias e abrigarem suas comumente numerosas proles. Além dos fatores econômicos (é sabido que a nossa região, assim como todo o nordeste brasileiro, foi muito mais pobre do que é hoje durante boa parte do Império e também da República), as técnicas de construção, salve raríssimas exceções, eram rudimentares. Na grande maioria dos casos, as casas seguiam o estilo de construção conhecido como taipa ou ainda casa de pau-a-pique. Uma técnica que utilizava madeira rústica, ou varas, alinhadas nos sentidos horizontal ...