Imagem: Canal, No Rastro do Cangaço. |
Em artigo publicado pela
Universidade Federal da Bahia, UFBA, os pesquisadores Raimundo José Rocha
Martins e Andrea Reis de Jesus, fizeram uso de documentação primária do Arquivo
da Polícia Militar do Estado para tratar de temas ligados ao cangaço.
Entre os
documentos importantes desse fenômeno, estão os ofícios trocados entre
comandantes locais e o auto comando da polícia baiana acerca do desenrolar dos
fatos que acarretaram na morte de Corisco e na prisão de Dadá em 1940.
A divulgação
dessa documentação é de suma importância para todos aqueles que estudam e/ou se
interessam pelo tema cangaço, uma vez que documentos históricos que não são
estudados, analisados e interpretados não rendem novos estudos e pouco contribuem
com a historiografia.
O que
veremos agora, trata-se da versão da polícia do Estado da Bahia acerca dos
fatos ocorridos naquele que ficaria conhecido como o último combate entre
cangaceiros e volantes.
O trecho
a seguir, é parte de um ofício endereçado ao auto comando da polícia detalhando
o confronto, bem como, a morte de Corisco e a prisão de Dadá:
Honrados pela vossa confiança
e do Exmo. Sr. Dr. Urbano Pedral Sampaio, Secretário de Segurança Pública de
Estado para, na qualidade de comandante da D-NE e de delegado especial do
Nordeste, dirigimos a campanha contra o banditismo, que como praga maldita
assolava aquela região do nosso estado e os de Pernambuco, Alagoas e Sergipe, há
quase um quartel do século, vimos, no momento, relatar a última diligência que
teve como feliz resultado a extinção total do banditismo, com a morte do
famigerado bandoleiro Cristino Gomes da Silva, Vulgo “Corisco” e a prisão de Sergia
Maria de Jesus, conhecida por Dadá, companheira do referido bandoleiro, a qual,
pela coragem e sangue frio demonstrado nas lutas, se tornara tão ou mais
respeitada e temida que o próprio Corisco.
Já era de conhecimento de quem escreveu o referido ofício,
que apenas Corisco ainda não havia se rendido às autoridades e, embora não
estivesse mais em condições de combate, era considerado, junto com sua
companheira Dadá, como cangaceiros em fuga. Resulta dessa percepção, a
afirmação por escrito de que seria aquela a “última diligência que teve como
feliz resultado a extinção total do banditismo”.
O texto dá bastante destaque a Dadá, que é tratada pelo
documento como Sergia Maria de Jesus, embora, em todos os outros documentos
relativos à sua prisão, seu nome esteja grafado como Sergia Ribeiro da Silva. Dadá
é descrita como mulher de grande valentia.
Outra escritura importante sobre esse fato, foi emitida da
cidade de Paripiranga, também na Bahia, no dia dezenove de março de 1940, mais
especificamente do quartel instalado na cidade, onde o comandante do Destacamento
do Nordeste escreve em forma de ofício ao Comandante Geral da Força Pública:
Para devido conhecimento,
cientifica-se que:
[...] b) que o Sr. 2° Ten. José
Osório de Farias, apresentou parte do combate no qual foi abatido o bandido
Cristino Gomes da Silva, vulgo “Corisco” e capturada Sergia Maria de Jesus,
vulgo “Dadá”, mulher de Corisco, apreendendo em poder desta a menor Josefa
Erondina Almeida, residente de Bebedouro, Município de Jeremoabo. (BGO,
n°129,p.277, de 16/07/1940)
Embora trate do mesmo fato, essa correspondência trás informações
da Menina Zefinha, que viajava junto ao casal naquele fatídico episódio e dos
acontecimentos pós combate. De acordo com MARTINS e JESUS:
Ainda no mesmo ofício, o
capitão informa que o corpo de Corisco fora transportado para a cidade de
Djalma Dutra e que Dadá fora entregue aos cuidados médicos, pois recebera um
tiro no pé e, em razão do ferimento precisou amputar uma perna. Em seguida,
apresenta a relação de objetos em poder do casal de cangaceiros, como um Parabelum
calibre 7 mm, uma pistola, dois punhais, além de outros objetos como joias e
brincos de ouro, inclusive cinco burros, que deveriam ser entregues ao delegado
responsável pela região.
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