O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Lenço sobre a cabeça. Herança da tradição árabe


Quem cresceu em Fátima e região, certamente já encontrou com uma senhora nas ruas ou mesmo tem uma tia ou avó que costuma cobrir os cabelos com fino lenço de pano. Mas de onde vem esse costume?
            Esse adereço não tem a finalidade, como costumamos pensar, de proteção contra o sol ou, tampouco, serve para carregar objetos sobre a cabeça. Sua origem, supreendentemente vem da distante cultura árabe.
            A tradição de cobrir os cabelo é muito comum na cultura árabe, é um sinal de recato feminino. Os cabelos são considerados demasiadamente íntimos para serem mostrados em público. Originalmente as mulheres muçulmanas utilizam a burca, traje feminino que só deixa, quando muito, os olhos das mulheres à mostra.
            De acordo com o historiador Francisco José Alves, esse costume chegou até o nordeste com a expansão da colonização, do litoral para o interior. Tal tradição provavelmente foi herdada das escravizadas de origem Malê, etnia que protagonizou a maior revolta de escravos do Brasil colonial, ocorrida em Salvador em 1835.
            Os Malês eram escravos muçulmanos, diferenciavam-se por serem alfabetizados e por terem uma unidade cultural muito forte e o hábito do lenço feminino era, como não poderia deixar de ser, um traço da indumentária das mulheres escravizadas que chegaram ao Brasil.
            O costume de usar o lenço para cobrir os cabelos foi amplamente difundido em todo o nordeste e, embora venha perdendo força com o passar dos anos, ainda se faz presente entre as mulheres sertanejas. Algumas senhoras (me arriscaria dizer que negras, em sua maioria) ainda conservam o costume de só sair de casa com a peça de pano, ou lenço, cobrindo seus cabelos.
            Outra herança da cultura árabe entre nós está na culinária. Falo do cuscuz, cujo nome é uma variação da palavra Árabe Kuskus, uma comida feita com semente de sêmola cozida no vapor. O milho, como se sabe, é originário das américas e foi fundido à receita para originar o cuscuz de milho que tanto amamos.


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