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O
primeiro ponto a ser destacado na pergunta que nos serve aqui de problema
balizador é como essas terras chegaram à família Dantas, linhagem de Cícero
Dantas Martins, o Barão de Jeremoabo.
A família D’ávila, da Casa
da Torre, foi a responsável pela colonização de toda essa região com a expansão
da pecuária bovina ainda nos anos 1700, embora o patriarca da casa da torre,
Garcia de Sousa D’ávila tenha chegado ao Brasil ainda antes, nos anos 1500.
A família Ávila ostentou por
séculos, durante quase todo o período colonial, o maior latifúndio de que se
tem notícia na história do Brasil. Contudo, com a proclamação da república e
seus desdobramentos políticos, a Casa da Torre inicia o seu processo de
decadência. É nesse período que o Capitão-mor João Dantas dos Reis, avô do
Barão, aproveita de sua posição de procurador e administrador das terras da
família para comprar grandes lotes de terras da família Ávila, iniciando assim,
o que viria a ser o enorme império que seriam os latifúndios da família Dantas.
O neto de João Dantas dos Reis,
Cícero Dantas Martins, não só herda boa parte dessas terras como amplia os seus
domínios ao longo dos seus 65 anos de vida. No ano da sua morte, 1903, o Barão
de Jeremoabo ostentava uma propriedade que ia da Fazenda Caritá, onde nasceu,
em Jeremoabo, até o atual município de Itapicuru. Suas terras se estendiam
ainda até a região de Inhambupe, indo do recôncavo baiano à fronteira do
estado de Sergipe.
Os domínios do Barão, entretanto,
não eram formados por territórios contínuos, sendo composto por dezenas de
fazendas ligadas entre si e algumas entrecortadas por terras devolutas (sem
dono).
Entre as suas fazendas em nossa região,
de acordo com Santana (2008), temos a Fazenda Lagoa da Volta, Cabeça do Boi,
Formigueiro, barriguda, São Domingos, Lage e Tabuleiro, esta última ainda de
posse dos seus descendentes, mais precisamente de uma sobrinha neta, moradora
de Fátima, da qual não citarei o nome por questões de autorização.
É importante também lembrarmos aqui,
que o conceito de fazenda da época é demasiadamente diferente do que temos
hoje. Nos tempos do Barão, eram propriedades imensas, contando com até 30 mil
tarefas de terra dentro das quais abriam-se picadas para a passagem e, nos locais apropriados, uma clareira no seio da caatinga bruta para a construção de
moradias. Como o foco principal dessas propriedades era a criação de gado, com
o tempo iam-se abrindo as pastagens.
Os animais eram criados soltos, não
havia cerca suficiente para a delimitação de tantas terras. Surge desse
fator uma tradição que já se perdeu em nossa região há muito tempo, as pegas da
novilha, quando corajosos vaqueiros embrenhavam-se na caatinga em busca das reses
desgarradas. Essas ocasiões ganharam ares festivos com passar do tempo,
contudo, em sua origem, eram corriqueiras, compondo o leque de tarefas do
vaqueiro o ato de juntar o gado para prender no curral.
Era comum a presença de moradores
nessas fazendas. À exemplo dos Senhores de engenhos da zona da mata, o Barão
tinha milhares de moradores dentro das suas terras que compunham o seu curral
eleitoral, onde sua palavra era lei e sua figura de autoridade era solicitada
para a resolução de inúmeras questões como intrigas entre vizinhos,
doenças, casos policiais, intrigas políticas e problemas mais duradouros e
sérios como foram os acontecimentos resultantes da Guerra de Canudos. Ocasião essa em que o
Barão teve importante participação na medida que seus moradores e, por consequência,
trabalhadores de suas terras abandonavam as áreas onde viviam para se juntar
aos conselheiristas.
Cícero Dantas fazia questão de
percorrer, na medida do possível, os seus domínios. Andava léguas a cavalo,
sempre acompanhado por homens armados para a sua segurança, tinha diversas
moradias de pouso como a Fazenda Caritá, em Jeremoabo e o sobrado onde hoje
funciona a Rádio Regional da cidade de Cícero Dantas que usava para descansar e
atender demandas locais.
Após a sua morte, em 1903, seus bens
foram divididos entre os herdeiros. Naturalmente, cada beneficiário do Barão,
ficou com uma quantidade enorme de terras distribuídas em fazendas. E essas
propriedades rurais é que vão dar origem, com o passar dos anos, aos municípios
circunvizinhos à Fátima.
Provavelmente, Ângelo Lagoa,
patriarca da nossa cidade, comprou a fazenda Boa Vista que viria a gerar uma
pequena povoação e que, posteriormente, se tornaria a Fátima que conhecemos
hoje ,da viúva do Barão, Mariana da Costa Pinto Dantas, que herdou e vendeu
terras nessa área, como, por exemplo, a fazenda Lagoa da Volta, de propriedade
da família Correia (muito numerosa em nossa cidade). A Fazenda Volta foi
herdada por Lavínia Francisca Dantas, irmã bastarda do Barão, mãe de Pedro
Correia de Sousa (avô do conhecidíssimo Correinha da Zabumba). A linhagem dos Correias habita a região desde o final dos anos 1800, quando o Barão ainda era
vivo.
E foi assim, com as vendas das
terras que outrora pertenceram ao Barão por seus descendentes, que Fátima e
todas as cidades vizinhas foram surgindo. Existem várias razões para
comunidades mais antigas como a Lagoa da Volta e o Formigueiro não terem
crescido e chegarem a formar cidades. Uma delas, a meu ver, é o traçado da
estrada real. Fátima ficava no caminho dos tropeiros e compreendia um
entreposto onde esses comerciantes abasteciam de produtos dos centros urbanos
mais desenvolvidos em Sergipe (como Lagarto e Itabaiana) e também comprovam
gêneros agrícolas dos seus moradores. Essa localização estratégica fez com que
a pequena vila evoluísse para se tornar uma cidade.
Esse artigo teve a importante colaboração do pesquisador Juan K. Menezes.
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