O foco desse blog é a pesquisa da história do Sertão baiano.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Criação da Freguesia de Nossa Senhora do Bom Conselho.

Foto ilustrativa.

        “Freguesia” é um desses termos que caíram no esquecimento com o passar dos séculos. Era assim que se chamavam os postos avançados da igreja católica em tempos do Brasil Colônia.

            Grosso modo, uma freguesia representava uma determinada área geográfica sob a jurisdição de uma capela ou igreja com religiosos residentes. As freguesias mais antigas da nossa região são, respectivamente, Itapicuru e Jeremoabo.

            Conforme já publicado aqui no Blog História de Fátima, a igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho (Igreja de Cícero Dantas) foi erguida pelo Frei Apolônio de Todi no longínquo ano de 1812 conforme carta escrita pelo religioso já comentada no artigo cujo link segue abaixo.

https://historiadefatimaba.blogspot.com/2020/06/carta-de-1812-descreve-construcao-da.html

 

            Naquela ocasião, o missionário Italiano, membro da ordem dos capuchinhos, ergue a primeira capela na atual praça da matriz de Cícero Dantas, mas a divisão administrativa ainda estava vinculada à Freguesia de Jeremoabo, isto é, a paróquia de toda essa área era ainda de responsabilidade do padre de Jeremoabo.

            Em virtude das distâncias, o sertanejo dessa nossa região raramente tinha contato com os religiosos representantes locais da fé cristã. A situação na época, descrita sob o olhar do catolicismo, era de total abandono. De acordo com religiosos que passavam por Bom Conselho em 1815, apenas 3 anos após sua ereção, o vigário de Jeremoabo levava anos sem aparecer na capela, assim: “Crianças morriam pagãs, casamentos eram consumados sem a benção da igreja”.

            Em 1818, uma carta dirigida pelo arcebispado da Bahia à D. João VI, relatava a necessidade da criação da Freguesia e da ampliação da capela a fim de “dar o suporte espiritual aos fiéis”. Na missiva, o arcebispo fazia uma descrição acerca do trabalho do Frei Apolônio que havia deixado o Bom Conselho para tratamento médico em Salvador e do “abandono” da região após sua partida. Em um relato longo ele descreve a necessidade de desmembramento de Jeremoabo (distante 18 légua) cuja distância não permitia a “assistência espiritual” aos mais de 3 mil fiéis que, segundo o religioso, “encontravam-se espalhados por aquelas matas”.

            Cabe lembrar que, até aquela data, toda a região que hoje compreende Cícero Dantas, Fátima, Heliópolis, Adustina, Coronel João Sá, Novo Triunfo e outros municípios vizinhos pertenciam ao imenso território de Jeremoabo que havia sido desmembrado de Itapicuru no século XVIII. As distâncias, dessa forma, pareciam ser mesmo um problema astronômico. Andando a pé, a cavalo ou com rudimentares carroças, percorrer toda essa área sob o sol escaldante que nos ilumina deveria mesmo ser um sacrifício sem igual.

            A carta de 1815, solicitava ainda que a ampliação da capela não se limitasse a uma casa de oração, mas que fosse ali erguida a uma “magnífica capela”, isso mostra que havia um interesse real em fortalecer a presença da igreja nessa região. Para gerir as almas por aqui foi indicado o nome do Padre Manoel de Barros. De acordo com os registros, a carta chegou às mãos do príncipe regente, D. João VI, no Rio de Janeiro, naquele mesmo ano de 1818.

 

Moisés Santos Reis Amaral, Professor há 19 anos do Município de Fátima, Licenciado em História pela Uniages com especialização em História e Cultura Afro-brasileira, Mestre em Ensino de História pela Universidade Federal de Sergipe.

 


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